Capítulo 8 - " Um Peão "

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A chuva chegou… é verdade, as gotas molhadas, úmidas e frias… o céu cinzento e triste, assim como o mundo de Caramuru, e seu coração, que embora não soubesse, acabou de afundar-se numa onda de mágoas…

Sua mão banhada em sangue, atravessando o peito daquele ser puro e ingênuo, único a ser verdadeiramente bom com ele.

“ Irmãozão, você é tão legal! “

“ Irmãozão, me pega nas costas, quero ver o céu bem alto! “

“ Vitória Régia tá muito feliz “

Suas mãos tremendo, as lágrimas escorrendo de seus olhos mais vazios e tristes do que nunca. Aquele corpo, tão pequeno e frágil.

— Eu não queria fazer isso, por favor, para… — suplicou, praticamente aos prantos para Anansi a seu lado, que apenas observava com um sorriso ainda maior que o habitual.

— Por favor, Irmãzinha, me perdoa. — abraçou-a, banhada em sangue, e a beira de sua morte. A água, lavando-o e levando-o dali.

— Irmãozão, você tem um coração legal. — esforçou-se para dizer — Só me promete que não importa o que aconteça, não esquece disso, e vai chegar o dia que você vai descobrir, e eu vou continuar com você até lá — aqueles olhos sinceros, embora também cheios de lágrimas, perderam finalmente o brilho,  e aquela pequena criança, morta, em seus braços…

— Problema resolvido. — disse Anansi, de modo gelado e cortante — Vou repetir, você é uma arma perfeita projetada para ser perfeita, entendeu? Vê isso após finalmente matar essa criança estúpida? Não dê ouvidos ao que ela disse, e apenas vamos dar continuidade ao que eu desejo.  — ordenou.

— Sim, mestre. — o deus não conseguia se opor não importa o que fosse, era simplesmente como um robô programado para não conseguir ir contra as vontades de seu criador.

— Implantei o DNA de todas as espécies que consegui coletar em você, além de implantar armas suficientes em seu corpo ao longo de todos esses anos, acho que será possível matar Tupã, basta seguir o que eu digo.

O deus dragão apenas seguiu, não tinha como se opor, seu corpo agia de modo inconsciente, mas sua mente ainda conseguia manter-se lúcida… todas essas ações que sequer pensou que um dia realizaria… sentimentos que, nunca sequer cogitou um dia ter… na realidade, sequer conhecia tal conceito, afinal, para um monstro aquilo seria descartável. Um ser criado artificialmente sente algo? Impossível. Um ser perfeito ter falhas? Também é impossível. Um monstro ter… coração?...

— O que trás-lhe aqui, aranha? — questionou Guaraci, de modo hostil. — E você, monstro?

— Que rude… — sorriu Anansi — Vim apenas visitar, e presentear humildemente meu senhor com uma grande surpresa. — disse.

— surpresa? — questionou, pôndo sua lança no pescoço do deus, num ponto que, caso movesse-se apenas um milímetro, o teria cortado — não seja ridículo, nosso senhor ordenou que não o deixasse entrar sem sua permissão, ou um aviso antecedente, na realidade você não é útil no momento, então reconheça seu lugar, e saia. Você, e seu monstro. — ordenou.

— Sempre foi assim… — uma massa estranhamente sombria emanou do deus — Darei-lhe… não, darei tanto a ele quanto a vocês todos, uma surpresa de matar. O que acha? — segurou a lança pelo cabo, e voltou seu olhar, de um ódio e intimidação tão extremas, que Guaraci ficou em choque. — Caramuru, mate-o, por favorzinho.  — 

Apenas obedeceu como um bom robô, e matou-o sem sequer dar-lhe chance de mais nada, a não ser desferir um corte no pescoço do aranha, que, enojado, pisou no cadáver.

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