VI

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   Estava pensando seriamente sobre oque eu disse para Gael sobre Heitor. Agora ele acha que eu gosto dele porque ele me trata bem. As vezes eu fico surpreso em pensar o quao parecidos eles são até no modo de falar. Vejo Gael como meu sobrinho que não consegui cuidar, ainda não completamente, mas ainda sim eu quero cuidar dele quando eu posso. A gente não se conhece a tanto tempo e não vejo o porque ele ser tão apegado a mim, acho que ele deve ser assim com todos por conta da personalidade.
   Gael me pediu para ir buscar ele na escola porque tinha torcido o pé e não estava conseguindo andar. Pedi pro meu amigo ficar no caixa no meu lugar e eu fui buscar ele a tarde no horário que foi combinado. Fiquei esperando no portão e percebi que ele andava mancando mesmo e veio direto até mim, me abraçando , praticamentr se jogando nos meus braços. Passei um braço pela sua cintura e acariciei o topo de sua cabeça.
   - Esta bem? - ele nega com a cabeça. - quer que eu te carregue nos braços ou nas costas?
   Ele me olha e faz biquinho.
   - Nas costas.
   Me afastei um pouco dele e me virei de costas , me agachando á sua frente para poder montar nas minhas costas. Quando fez, me levantei já segurando suas pernas para não escorregar.
   - Esta confortável? - ele afirma com a cabeça apoiada em meu ombro e eu começo a andar. - Estranho eu vir te buscar, ninguém me conhece. Podem achar que a gente namora.
   - Nah, foda-se agora também.
   Ri baixo da despreocupação dele . Após alguns minutos, nós chegamos na distribuidora. Deixei ele sentado em um banquinho ao meu lado e dei uma barra de chocolate pra ele.
   - Toma, não vou sair daqui pra ir comprar coxinha pra tu , não.
   Ele revira os olhos e pega a barra de chocolate. Agradeçi meu amigo e ele foi logo em seguida pois tinha um compromisso.
   Gael ficou quietinho por um tempo e logo começou a me atazanar dizendo estar com fome. Briguei com ele por ficar me enchendo o saco e logo começamos a conversar uns assuntos bem aleatórios.
   - Qual sua Sexualidade?
   - Que? - perguntei confuso quando tirei o cigarro da boca pra soltar a fumaça.
   - Sexualidade. Gay. Bi? Ah você sabe doque to falando!
   - Sei dessas coisas não.
   - Mentiroso. Vai me dizer que nunca ficou com ninguém.
   Dei um trago e soltei a fumaça com um sorriso malicioso.
    - Safado... - ele murmura. - Mas só ficou com mulher só? - afirmo com a cabeça. - Quantas?
   - Seilá. Vocês contam com quantas ficam?
   - Sim , ué.
   - Estranho.
   Ele ri e fica me encarando estranho, me olhando de cima a baixo.
   - Tem curiosidade de ficar com homem não?
   - Não. Não tenho curiosidade de visitar a cadeia.
   Ele se levanta, um pouco melhor do tornozelo, e se aproxima de mim, pegando o cigarro da minha mão e dando uma tragada e soltando a fumaça bem perto de mim.
   - Ah para, eu sei que você gosta de mim. Olha, nem se afasta - ele diz com os lábios bem próximo aos mais, sorrindo malicioso - oque acontece se eu...
   Eu congelo, não sei oque fazer. Não escuto mais oque ele fala. Quero empurrar ele, mas não consigo, não consigo encostar um dedo nele. Após alguns segundos, eu me afasto e dou um tapa forte no rosto dele. Ficamos em silêncio por um tempo antes dele me olhar assustado e eu fazer o mesmo. Estava ofegante tentando segurar o choro. Merda. Tinha que ter lido aquela merda de diário a dois dias? Tentava falar, mas o som não saía, estava quase com falta de ar.
   Rafael notou isso e tentou se desculpar, mas eu o iterrompi e o empurrei para fora da distribuidora, alegando que ele tinha que ir. Na porta, eu o segurei firme nos braços de frente pra mim.
   - Se cuida. Não fica mexendo no celular enquanto anda, olha pros dois lados da rua antes de atravessar e anda só na calçada, ta? Tchau.
   Disse e o virei novamente, o empurrando de leve. Ele ficou sem entender nada e começou a andar confuso.
   Tranquei a porta da distribuidora, soltei um suspiro aliviado e fui para trás do caixa novamente, me sentando no chão e comecei a chorar. Peguei meu celular do bolso e liguei para meu amigo. Precisava de ajuda. Quando atendeu eu disse oque aconteceu e ele largou oque estava fazendo para vir me fazer compania. Ele destrancou a porta com a chave reserva dele e entrou, deixando a porta encostada. Ele veio até mim e se ajoelhou no meu lado, apenas o abracei e chorei mais. Acho que ele era a única pessoa que eu me sentia confortável de contar sobre oque de fato aconteceu. Ele me aconselhou a contar pra Gael oque realmente aconteceu, mas eu não queria, não confiava cem por cento nele para contar uma coisa dessas.
   Nunca senti tanto desespero depois do acontecimento do ano passado. Eu fiz de novo.. Eu poderia ter machucado ele da mesma maneira..

O "Damo" e o VagabundoOnde histórias criam vida. Descubra agora