Amanda Colins nunca imaginara que um dia estaria ali, sentada em um avião seguindo rumo à África, mais especificamente para a Nigéria. Sempre acreditou que aos vinte e cinco anos teria estabilidade financeira ou pelo menos um trabalho digno e quem sabe um apartamento bacana com vista para o mar. Abre um sorriso debochado. Quanta imaturidade, sério. Quando foi mesmo que ela tinha planejado essa vida? Ah é, foi durante o ensino médio.
Mas nunca, jamais planejou que estaria ali.
Olhando pela janela do avião, tenta não pensar no que pode acontecer por lá, tentando, – mesmo que só um pouco – não ter medo. Preferia pensar que estava fazendo a coisa certa. É claro que estava. Caramba como podia se deixar levar pelas emoções desse jeito. Solta um suspiro longo e cruza os braços na tentativa de conter a dor no estômago que estava sendo causada pela “bendita” ansiedade.
Inclina o encosto do assento e tenta se acomodar melhor. A poltrona da classe econômica não é tão confortável para uma viagem longa. Fecha os olhos e respira fundo, conta até dez e solta devagar.
— Calma.
Com os olhos ainda fechados ela pensa no dia anterior, sua família fez uma reunião, para apoiar a decisão que tomara havia poucas semanas. Mas acabou sendo mais uma despedida, com suas duas irmãs Ana e Larissa derramando rios de lágrimas.
As irmãs sempre tentavam protegê-la, apenas por ser a caçula das três, a menor delas, a única loira dos cabelos lisos e de olhos claros. Suas irmãs eram altas e curvilíneas, cabelos castanhos. Muito lindas, é claro. A mãe Elizabete é só um pouco mais alta que ela e superprotetora, chega a ser irritante as vezes, mas é claro que Amanda ama cada uma delas. Sente uma turbulência chacoalhar o avião, o que a tira de suas lembranças. Aperta ainda mais os braços contra o estômago e se esforça muito para manter a mente calma.
Outra turbulência. “Meu Deus, parece que isso não vai ter fim.” Pega o fone de ouvido na bolsa e rola a playlist na tela do celular. Clica em uma música tranquila e respira fundo. Só depois de vários minutos de esforço ela finalmente adormece.
...
Amanda desce do avião se sentindo grata por ter chegado, precisou fazer mais uma conexão do Aeroporto internacional Murtala Muhammed, o aeroporto da Nigéria, até Maiduguri onde é seu destino final. A viagem foi longa e cansativa, mas graças a Deus correu tudo bem. Sério, por mais de uma vez ela pensou que o avião ia cair com as terríveis turbulências. Depois de pegar as malas na esteira, caminha até o portão de desembarque sentindo o ar quente e abafado, mesmo quando notou ao levantar a cabeça e examinar o céu que o dia está parcialmente nublado.
— Amanda! Amanda Colins! – Diz um rapaz de cabelos claros, quase dourados, que caminha em sua direção. – Pode deixar que eu levo as suas malas. – Continua ele sorridente. – Eu sou Benjamin Walker, mas pode me chamar de Ben, se quiser.
— Obrigada, Ben.
Ela não é muito boa em avaliar as pessoas, mas imaginou e concluiu pelo jeito de falar e pela aparência jovem, que Ben deve ter uns vinte anos, é alto, quase um e oitenta, o físico magro com poucos músculos, e com um carisma adorável apesar de se conhecerem a poucos minutos.
— Eu e o Edigar – o homem moreno acena para ela – vamos te levar para a casa em que vai ficar hospedada – continua ele colocando as malas no carro, um Jeep 1963 de quatro portas com a pintura azul muito enferrujada que aparenta ser velho demais. – O senhor Obayana e sua família são pessoas muito boas e fizeram questão de acolher você.
— Então, acho que vou me dar bem com eles. – Diz forçando um sorriso.
“Eu espero”, pensa ela. Pelo que soube, Obayana tinha sido um perseguidor dos cristãos que residiam ali, mas depois que seu irmão morreu, ele aceitou apoio dos cristãos e começou a receber visitas em casa, onde aprenderam sobre a palavra de Deus e pelo que parece toda a família aceitou a Jesus como Senhor e salvador de suas vidas. De certa forma isso tranquiliza Amanda, mas não quer dizer que ela não estava um pouco receosa com a ideia, talvez até nervosa e apreensiva.
Balança a cabeça afugentando esses pensamentos, é óbvio que a associação não ia escolher pessoas ruins.
Benjamin abre um sorriso fofo em sua direção e faz um gesto com a cabeça para entrar no carro. Seguem em silêncio por alguns minutos. Amanda aproveita para olhar pela janela do carro, que em sua opinião só estava funcionando por um milagre. “Por Deus o pessoal precisa fazer uma renovação de vez em quando.” Ela estala a língua e se repreende por ser tão superficial as vezes. Lembra da pesquisa que fez antes da viagem e faz uma recapitulação do que leu:
“Maiduguri é a capital do estado de Borno na Nigéria, tem uma faculdade muito boa, e alguns pontos turísticos, como qualquer outra cidade. Parece tão normal e atrativa, mas, acontece que a diferença é que nessa cidade existe um grupo rebelde que acredita que tudo que é ensinado ao povo com relação ao cristianismo é pecado. São conhecidos por realizar atentados e sequestrar mulheres que são utilizadas principalmente como escravas sexuais.”
Balança a cabeça para afugentar o pensamento e sente um tremor no corpo, essa informação quase a fez desistir. Isso mesmo, quase. Olhando pela janela, Amanda pode ver a enorme estrutura de concreto pintada de azul, com dois portais que abrem caminho para as ruas e bem no centro escrito: Welcome to Maiduguri. Enquanto atravessam, é possível ver a quantidade de gente andando nas ruas, o comércio e muitos, – muitos – triciclos bajaj que passam buzinando para que as pessoas abram espaço.
Após algum tempo, Edigar entra por uma ruela estreita menos movimentada e segue para – o que Amanda notou, – o interior, onde o cenário começa a mudar de comércios e multidões, para vilas e casas. Minutos depois sua atenção se volta para pessoas aglomeradas, pegando coisas de entulhos, casas destruídas, até seu olhar se fixar na cena de uma mulher carregando um bebê no colo, um pano cobre parcialmente a cabeça caindo pelo ombro, os pés descalços estão sujos e feridos mas o que realmente Amanda enxerga é a tristeza em seus olhos, desilusão e algo que ela não consegue decifrar. Desvia o olhar e baixa a cabeça, mirando as próprias mãos que repousam em seu colo. Sente uma tristeza repentina, um aperto no peito e uma pontada de medo, que ela tenta afugentar.
— Você está bem? – Pergunta Benjamin.
— Ahm, estou sim.
— Alguns dias atrás uma bomba explodiu. Outro ataque terrorista. Nós estamos ajudando a maior parte das famílias, distribuindo água e alimento.
— Isso é ótimo. Quer dizer, não é ótimo que isso tenha acontecido, mas, que bom que essas pessoas podem contar com vocês.
Amanda sente o estômago embrulhar.
Benjamin fica em silêncio e isso a faz levantar a cabeça. Ele não está olhando pra ela, como pensou que estaria. Seu olhar está fixo na estrada a sua frente, mas ele não vê a rua ou as pessoas, – foi o que passou pela cabeça de Amanda – é um olhar vago, pensativo, talvez uma lembrança triste. O cabelo ligeiramente bagunçado cai pela testa, tornando ele um jovem bonito, muito bonito.
Muito provavelmente Ben passa por muita coisa nesse lugar e apesar de sua pouca idade é perceptível a determinação que ele tem. Amanda avalia a expressão do rapaz, e sente um carinho por ele, talvez por ser mais novo que ela e é provável que tenha herdado o instinto protetor da mãe, e isso tudo é muito ridículo porque ela só o conhece à exatos quarenta minutos. Mas de alguma forma ela sabe que ele vai se tornar uma pessoa importante. Ela simplesmente sabe. Loucura, talvez? Muito provável que seja mesmo. Ela solta um suspiro longo e pesado, encosta no banco e cruza as mãos.
Ben volta o olhar para ela e como se nada tivesse acontecido, ele abre um sorriso acolhedor, daqueles que os olhos se estreitam e duas covinhas surgem timidamente em suas bochechas.
Amanda soube naquele exato momento que ele é especial e que seriam bons amigos.Continua...
----------------------------------------
"Que bom que você chegou até aqui! Espero que tenha gostado da leitura, fique a vontade para comentar e interagir o quanto quiser!Até o próximo capítulo!"
Ass.: Chayla Brito
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Preço da Redenção
RomanceOi! Que bom que você tá aqui! Esse livro foi o primeiro que escrevi, mas a versão que você vai ler é uma reescrita, com muito mais melhorias. Eu tenho grandes planos para essa história e essa pode não ser a versão final dela...Mas é de grande impor...