A casa de Obayana é simples, apenas três cômodos. A entrada dá para a sala que só tem um sofá velho de uma cor verde já bastante desbotada e uma mesinha de centro. Um pouco mais à frente é a cozinha, uma mesa de jantar com cinco cadeiras de madeira faz a divisão entre os dois cômodos. Tudo extremamente simples, mas apesar de todos os móveis estarem muito velhos, Amanda sente que a casa em si é bastante acolhedora.
— Muito prazer, eu me chamo Obayana. – Um homem nigeriano de estatura mediana estende a mão para ela. – Esta é minha esposa Abeke e meus filhos Akin de sete anos e Adisa de quatro anos. – Ele apresenta a família orgulhoso.
— O prazer é meu. – Diz enquanto observa a família que agora de certa forma, também faz parte.
Amanda tem um e sessenta de altura e nota que Abeke é menor que ela, talvez uns dez centímetros a menos. A pele negra a deixa com uma aparência mais jovem, além de ser bastante magra. Akin não fala muito, mas sorri quando olha pra ela, Adisa ao contrário do irmão, é um menino adorável e de conversa fácil, ele tagarela bastante a respeito de tudo ao mesmo tempo é engraçado e Amanda gosta disso.
—...então teve uma explosão enorme! – Adisa gesticula com os bracinhos, os olhos arregalados enquanto tenta explicar para Amanda o triste acontecimento de alguns dias atrás.
— Já chega Adisa!
— Mas mamãe. – Resmunga o menino ficando emburrado.
— O que eu já disse sobre falar dessas coisas em casa, eihm? – Abeke repreende o filho com os olhos, o que parece funcionar já que Adisa suspira dramaticamente e sai da mesa para se sentar no sofá. Abeke dá um sorriso sem graça como um pedido de desculpa.
Subitamente Amanda sente o cansaço da viagem pesar como chumbo em seu corpo e percebe que precisa de um tempo sozinha para digerir tanta informação.
— Gostaria de se recolher para o quarto? – Sugeriu Abeke ao notar o cansaço de Amanda.
— Ah eu quero sim, obrigada.
— Vou levá-la até lá.
As duas seguem em silêncio pelo pequeno corredor que indica duas portas de madeira.
— Abeke, sinto muito por incomodar vocês. – Diz com um sorriso sem graça.
— De forma nenhuma! Estamos felizes em ter você conosco. – surpreende Amanda com um abraço afetuoso. – Vou deixar que descanse.
...
Sozinha no quarto, que é como o outro cômodo, com as paredes apenas no reboco, uma cômoda de madeira com seis gavetas, e pelo visto uma estava quebrada, constatou ao tentar abrir a última que fica emperrada. A cama de casal é um pouco velha, mas suficiente para ter uma boa noite de sono. Ao lado da cômoda vê uma cortina de pano, Amanda caminha em direção a ela. “Seja um banheiro, seja um banheiro.” E para seu alívio, era sim um banheiro. Não é o melhor do mundo, mas depois que se certificou de que a descarga funciona, então está perfeito.
Depois de um bom banho ela solta os cabelos e caminha até a cama, escutando a madeira ranger de leve. Estica o corpo sentindo dores agudas devido a viagem, levanta o braço e tateia a parte de cima da cômoda, pega o celular e primeiro digita uma mensagem rápida para sua mãe.
“Cheguei tem um tempinho. Tudo certo por aqui.”
Espera pela resposta encarando a tela. Três pontinhos aparecem, Amanda solta uma risada pelo nariz, sua mãe é sempre assim, nunca demora a responder. Segundo ela, é falta de educação.
“Menina! Por que demorou tanto? Foi tudo certo? Não deixa de se hidratar bastante e é melhor andar com o spray de pimenta que eu te dei!”
Amanda revira os olhos e digita rápido.
“Tá tudo certo por aqui.”
“Ah que bom filha. Te amo, fica com Deus.”
“Também te amo, mãe.”
Sai da aba da conversa e clica no aplicativo da bíblia, escolhe o Salmo cento e vinte e um e aperta o play. Passa o celular para a lateral da cama ao seu lado. Fecha os olhos e pensa em como foi uma grande surpresa que a família de Obayana soubesse falar outro idioma. Dessa forma fica muito mais fácil de se comunicar. Ela ri, lembrando que Adisa misturava as línguas na hora de falar. Amanda solta um bocejo e sente as pálpebras pesarem pelo sono e em poucos minutos, adormece.
Ouve uma batida apressada na porta, e com dificuldade levanta e veste um casaco o mais rápido que pode. Praticamente corre em direção à porta. Destranca a fechadura e escuta um grito de pavor do outro lado. Pelo tom da voz ela sabe que é Akin, e quando finalmente abre a porta, o corpo magro e pequeno do menino despenca em seus braços. Horror e pavor transbordam para fora e ela vê sangue por toda parte, de repente, começa a afundar, cada vez mais fundo, tenta gritar, mas nenhum som sai de sua garganta.
Acorda com o grito sufocado, arfando e suando de pavor com aquele pesadelo, levanta e se senta na beirada da cama, a náusea do dia anterior surge com mais intensidade. Ela corre para o banheiro e coloca para fora todo o jantar, com as mãos tremulas vai até a pia e lava a boca e o rosto. Se sentindo atordoada demais para voltar a dormir caminha em direção a janela, afasta as cortinas e olha a rua. Está tudo parado e calmo. Amanda relaxa um pouco, mas não consegue se livrar da sensação real do pesadelo. Sente um arrepio percorrer sua espinha. Anda de um lado para o outro, pensando, orando pra que não seja nada de mais, – e se fosse? E se Akin morresse? – Balança a cabeça numa negativa frenética para afugentar aquele pensamento terrível. Ela se obriga a parar e respira fundo, dá passos lentos até a cama e se senta. Cobre o rosto com as mãos, – eu preciso me acalmar– ela pensa enquanto se deita novamente. Olhando para o teto, faz uma oração silenciosa. E com dificuldade e temor fecha os olhos e uma hora depois finalmente é vencida pelo cansaço.
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O Preço da Redenção
RomanceOi! Que bom que você tá aqui! Esse livro foi o primeiro que escrevi, mas a versão que você vai ler é uma reescrita, com muito mais melhorias. Eu tenho grandes planos para essa história e essa pode não ser a versão final dela...Mas é de grande impor...