Capítulo 4

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Flashback

Brian

        

         Brian Baker é um homem de princípios, muito seguro de si, fala três línguas, Inglês que é sua materna, francês e português. Nasceu em Phoenix,  Arizona nos Estados Unidos. Desde que era criança com seus cinco anos de idade, seu pai Ronald Baker, – um diplomata respeitado e temido por seus subordinados de um olhar carrancudo que nunca parecia sorrir a não ser quando se tratava de dinheiro. – o fazia estudar pelo menos dez horas por dia, e se tirasse alguma nota abaixo de nove ele era castigado, ficando sem comer uma das refeições no dia.

         Não era fácil estudar de estômago vazio, mas Brian se esforçava muito. Às vezes seus olhinhos se enchiam de lágrimas que desciam pela face rosada e dificultavam a leitura dos livros. Algumas vezes ele adormecia com o rosto amassado entre os livros de tão cansado que se sentia, odiava isso, quando acordava na manhã seguinte precisava de um tempo para se mexer, pois todos os seus músculos doíam e era difícil realizar todas as tarefas do dia. Ele não entendia o motivo de o pai ser tão duro com ele. E mesmo que tentasse o seu melhor, nunca parecia ser o bastante.

          A mãe, Amélia Baker era uma mulher muito bonita de olhos claros e cabelos longos de um preto brilhante, um refúgio para Brian que a admirava muito. Para ele, a mãe era a pessoa mais carinhosa, inteligente e linda, a única pessoa que o consolava nos dias em que seu pai o trancava em seu quarto. Sempre que Ronald deixava o filho sem comer, Amélia levava torradas com geleia escondidos para Brian. Mas essas intervenções lhe causavam grandes problemas, o marido quase sempre descobria e como consequência ela apanhava muitas vezes. Brian não suportava ouvir os gritos da mãe e corria para debaixo da cama, tapava os ouvidos com as mãos e cantava uma música que a mãe gostava de cantar.

 

 “Quando estiver com medo olhe para o céu e sinta o calor do sol. Existe um lugar, onde você pode descansar.

Um lugar que pode te guiar.

Quando estiver com medo, olhe para o mar e veja o farol a te iluminar...”

 

 Depois de terríveis minutos ele sempre acabava adormecendo.

...

 

           Aos oito anos de idade, Brian sentiu o sangue esfriar ao ver o grande B+ no canto da folha de prova. Matemática com certeza não era seu forte. Todo o percurso da escola até em casa foi torturante e a reação do pai não foi diferente. Ronald o trancou no quarto sem comida ou água. Brian sempre tentava se distrair arrumando formas de ver o tempo passar mais rápido. A fome e a sede se tornaram quase insuportáveis. Sentado na cama já suando frio ele levantou o rosto e encarou o relógio na parede. Estava sem comer havia mais de cinco horas, seu estômago doía muito e sentia espasmos involuntários percorrer seu corpo.

 Escutou uma batida de leve na porta.

— Brian, é a mamãe. – Amélia sussurrava do outro lado da porta.

 Assim que Brian ouviu, correu até lá e encostou o ouvido na madeira.

— Mamãe, não venha. Papai vai ficar muito bravo. – Brian sussurrou de volta para ela.

 O coração de Amélia se despedaçou em um milhão de pedacinhos, se sentia tão inútil ao não poder proteger o próprio filho e o fazer passar por tudo aquilo. Enxugou uma lágrima solitária que descia pelo rosto e com firmeza ela disse:

— Espere meia hora e desça, vá comer uns sanduíches que preparei.

 Se abaixou e com rapidez passou a chave por debaixo da porta.

Ao escutar os passos da mãe se distanciar, esticou mão tremendo e segurou a chave da porta de seu quarto. Lágrimas começaram a cair de seus olhos e apertou o objeto contra a mão o mais forte que podia. Sabia que era perigoso, não queria que a mãe sofresse por sua causa.

Mas estava com tanta fome. Passou uma das mãos na barriga. Sem falar na sede que parecia ser pior do que qualquer tortura.

Passadas meia hora, Brian encarou a chave e com relutância destrancou a porta. Com muito cuidado para não fazer barulho caminhou até as escadas. Parou para analisar o corredor e avistou a porta do quarto dos pais que se encontrava fechada, estava tudo silencioso e o ambiente estava semi-iluminado com apenas a luz fraca do corredor.

Respirou fundo, e desceu os degraus o mais silenciosamente possível. Ao chegar na cozinha, abriu a geladeira e com uma pequena pausa avistou o refratário de vidro que abrigava uns dez sanduíches de atum, Brian abriu um sorriso ao notar o exagero da mãe. A barriga roncou alto em resposta.

Segurando com as duas mãos, se inclinou para debaixo da mesa, sentou-se de pernas cruzadas e afastou o cabelo liso da testa. Começou a comer, percebendo como estava com fome quando sentiu o sabor do atum invadir sua boca.

Depois de dar uma mordida no quinto sanduíche que agora estava recheado de manteiga de amendoim, ouviu passos e a luz da cozinha ser acesa. O sanduíche que estava segurando há poucos segundos, agora havia caído de volta no refratário. Observou a pessoa entrar na cozinha, o lençol da mesa branco só permitia que Brian visse os pés, sentiu o coração acelerar e ouviu o som de seu sangue bombear nas veias, – era seu pai, – e estava na cozinha, com ele. Arregalou os olhos engolindo em seco, o medo o invadiu quando os pés do pai pararam em sua frente. Em um segundo ele estava sendo arrastado pelo chão da cozinha.

— O que pensa que está fazendo seu miserável? – puxou a criança pelo tornozelo. – Como saiu do quarto?

Assim que Ronald terminou a pergunta, seu rosto ficou vermelho de tanta raiva, o olhar fúnebre e demoníaco que Brian já conhecia, estava presente na face do pai. Chutou o filho sem piedade, fazendo o garoto soltar um gemido abafado. Brian ergueu a cabeça a tempo de ver o pai sair bufando pela porta.

— Amélia, sua vadia! Como ousa passar por cima da minha autoridade?

Apavorado, ele ouviu o pai subir as escadas pisando forte. Segundos depois os gritos da mãe ecoavam por todos os cômodos. De repente o medo se transformou em raiva. Fechou os punhos, sentindo o corpo todo tremer e quando percebeu já estava subindo as escadas correndo em direção ao quarto, os gritos ficando mais alto à medida que se aproximava, e sem hesitar pulou em cima do pai agarrando o braço que estava para atingir o rosto de Amélia mais uma vez. Quando seu pai o olhou, Brian percebeu que não era ele, não podia ser. Ronald tinha o rosto transfigurado de um ódio que ele não conseguia entender.

— Solta ela! – Brian gritou o mais forte que pôde.

Sentiu o pai o arremessar contra a parede, as costas arderam com a força do impacto e teve dificuldade para respirar, levantou o olhar e seu pai continuava descontando toda aquele fúria em sua mãe. Ela já não reagia mais, o rosto inchado e ensanguentado. Ele nunca tinha visto uma cena como aquela, – não daquele jeito – era apavorante, mas ele sabia que não podia ficar apenas assistindo. Juntou toda a força que tinha e correu em disparada, dessa vez agarrando a perna esquerda de seu pai, numa tentativa de mobiliza-lo. Ronald sacudiu a perna tentando se soltar, vendo que era inútil, parou de agredir Amélia que estava quase inconsciente, virou-se para o filho e o arrancou de sua perna dando-lhe, em seguida, um tapa violento.

Brian sentiu o rosto queimar e um gosto metálico invadiu sua boca. Ainda tonto notou sangue escorrer por entre os lábios. Antes que tivesse a chance de se levantar sentiu a mão do pai agarrar seu braço esquerdo, e o lançar porta afora.

— Espere pela sua vez, seu desgraçado! – Bateu a porta na cara dele.

— Você tá matando ela! – Vociferou.

Ele socou a madeira várias vezes até sentir o sangue escorrer na pele e até não suportar a dor nas pequenas juntas dos dedos, gritou pela mãe em meio às lágrimas furiosas. Até que encostou a testa suada na porta, a respiração ofegante foi dando lugar a um choro silencioso e amargo.

A partir daquele dia Brian Baker nunca mais ouviu a mãe cantar, ou pôde sentir o abraço reconfortante de Amélia novamente. E ele se amaldiçoou por não ter sido forte o bastante.

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Até o próximo capítulo!

Chayla Brito⚘️

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