Capítulo 5

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Amanda abre e fecha os olhos tentando habituar-se a escuridão, leva uma das mãos a cabeça e esfrega a têmpora procurando atenuar as pontadas agudas. Sua mente volta para o momento antes de apagar. Não consegue acreditar que realmente desmaiou. Repousa o antebraço sobre a testa e solta um suspiro de frustração. Sente-se cansada, o corpo pesado e senta na cama com dificuldade, escutando as molas do colchão rangendo em protesto. Definitivamente não é a casa de Obayana. Ouve um barulho do lado de fora. – Que lugar era aquele? – Estende o braço na tentativa de encontrar algo para se apoiar, mas foi em vão, a única coisa que encontra é o ar frio da noite. Decide descer da cama e procurar por alguém ou quem sabe pelo menos encontrar o interruptor.  A escuridão total a deixa nervosa, o coração começando a se sobressaltar. Não que ela fosse medrosa, mas quando se está fora da sua zona de conforto tudo parece estranhamente inseguro.

Coloca os pés no chão, pedindo a Deus que não pise em nenhum bicho, ou coisa parecida. Sente o corpo estremecer só de pensar na ideia. – Cadê meu tênis? – Se pergunta sentindo uma leve irritação. O piso liso e frio lhe causa calafrios. Dá um passo à frente estendendo os braços para não bater de cara com a parede. Mais um passo. Mais um. Balança as mãos no ar tentando encontrar algo sólido. – Cadê a parede? – Bufa nervosa. Levanta o pé direito mais uma vez e alarga a passada, no entanto, para seu azar ela tropeça em algo. Ou melhor, alguém. Com um grito abafado seu corpo despenca em cima – do que ela notou horrorizada, – um homem. Escuta um gemido sufocado sair da boca dele.

          Amanda se agita em cima dele tentando se levantar, e quanto mais tenta, mais enroscada no cobertor ela fica. Começa a grunhir mais alto ficando irritada e desesperada.

— Shih! Vai acordar todo mundo.

Escuta o sussurro de Brian em seu ouvido. O coração dá um salto.

— Brian? – diz sentindo um misto de alívio e vergonha – Que lugar é esse?

— Se você sair de cima de mim, eu posso mostrar.

Amanda se dá conta de que ainda está com o corpo entrelaçado no dele. Os rostos muito próximos conseguindo sentir sua respiração, e dá graças a Deus pela noite escura. Sua face esquenta e sabe que está ficando com as bochechas rosadas.

— Eu já teria levantado se não fosse esse cobertor enviado do inferno.

— Eu não sabia que os demônios emprestavam cobertores. – zomba ele.

— Há! Há! Muito engraçado. – Diz voltando a se mexer.

Por Deus! Que tipo de cobertor é esse?

— Dá pra parar de se mexer?

Ela sente os músculos dele tencionarem levemente.

— Com licença. – O tom de voz dele é carregado de cautela.

Gentilmente ele segura os ombros de Amanda e a faz deslizar para o lado, afastando os dois. Logo em seguida sente ele soltar o emaranhado de tecido que ainda envolvia suas pernas. E com uma rapidez impressionante ela se vê livre do cobertor. Escuta ele se mover e logo  as mãos firmes de Brian a ajudam a ficar de pé.

Escuta os passos dele se afastarem um pouco para a direita. Um segundo depois uma claridade tênue de uma lâmpada de luz amarelada revela um Brian de cabelos bagunçados e olhar cansado, vestindo uma camiseta branca e calça de moletom cinza. Ele nunca esteve tão lindo. Ele não parece muito confortável e pra falar a verdade, ela também não. Amanda morde o lábio inferior e muda o peso do corpo para a perna esquerda. Engole em seco e coloca uma mexa do cabelo atrás da orelha. Sem saber o que fazer ela desvia o olhar e passa a avaliar o ambiente.

Um quarto pequeno com uma janela que veda a entrada de luz. – Agora faz sentido esse breu total. – Olha em volta e repara na cama de solteiro com bases de ferro bem enferrujadas e no outro extremo uma mesinha com vários papéis e canetas. Logo acima, pendurado na parede, uma tela mais ou menos do tamanho de uma folha A4, revela a pintura do rosto de um cavalo, a crina descendo lentamente por entre os olhos do animal, como uma franja que cobre uma pequena parte do rosto. A pelagem marrom escuro mesclado com tons mais claros como o mel o deixa imponente, ao mesmo tempo que um cabresto envolve sua cabeça, dando a leve impressão de ser domado.

— Você pinta?

— Minha mãe.

O tom grave e baixo na voz dele a faz desviar os olhos da pintura e se voltar para Brian.

— Ela pinta muito bem.

— Pintava. – Corrige ele, encarando a pintura com o cenho levemente franzido.

— Ah. E-eu sinto muito.

— Tudo bem, foi a muito tempo.

— Mas as vezes ainda dói. – Diz ela –  Não é?

Ele se limita a um aceno de cabeça.
Amanda o observa desviar os olhos da pintura para ela. Ele parece intrigado, o vinco no meio da testa está suavizado.

— Qual a sua dor? – Pergunta ele.

— Digamos que eu também perdi um ente querido.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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