Prólogo

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                          Whisper

  

   O barulho das botas do meu pai no piso ecoa pelo espaço amplo, seus passos fazendo um caminho a muito conhecido, faz minha respiração ofegar.

Braços presos a correntes nas paredes, de joelhos,  corpo curvado para frente,  costas nuas. É assim que me mantenho a espera da sua chegada.  Os passos se aproximam, param a distância de um braço atrás de mim, e o silêncio que antecede as sessões de chicotadas se faz presente.

Eu conto...1...2...3. E a primeira atinge em cheio minhas costas nuas, fazendo um barulho do açoite romper o silêncio sepulcral. Respiro fundo, absorvo a dor, ela me faz forte. A segunda vem em seguida, sinto a pele se romper,  e a ardência também conhecida me dar boas vindas. Dezoito chicotas depois, meus braços são libertos.

  __ Por hoje é só Ivi, tenho uma nova missão para você, precisa estar em boas condições. __ Meu pai fala se sentando numa cadeira que fica a sua disposição aqui no salão de treinamento.

Eu me levanto,  e vou até ele, sinto o sangue correndo pelo cós da minha calça assim que fico em sua frente.

__ Que missão pai? __ Pergunto olhando seus olhos negros.

__ O Scar vai te enviar tudo. Esteja pronta amanhã,  a primeira etapa começa bem cedo.__ Ele diz seco, sem me fitar por muito tempo.  Apenas aceno com a cabeça e saio.

Eu sou Ivi Davis, filha de Jhon Davis, o criador da corporação Devil.
Desde de criança fui moldada para ser a melhor,  a mais letal, a mais cruel, a mais perfeccionista, a mais silenciosa. Ninguém fora da corporação sabe meu nome, lá fora eu sou Whisper,  uma lenda que muitos acreditam que foi inventada para manter os rapazes maus comportados. Mas sou real, e sempre alcanço meu objetivo.

Durante minha vida, cresci com uma educação severa, sessões de tortura fizeram parte do meu dia a dia, enquanto outras crianças brincavam no parque, eu aprendia a abrir uma pessoa, enquanto outras crianças faziam amizades na escola,  eu treinava com os piores assassinos do submundo. Eu não tenho amigo, tenho habilidades, não tenho animal de estimação,  tenho armas, não tenho pais,  tenho um mentor, não tenho amor. Tenho dor.

  Passando pelo corredor eu sigo para meu quarto,  essa parte do QG é exclusiva para mim e meu pai.

Dentro do quarto vou direto para uma banheira cheia de gelo que deixei pronta antes de sair. Entro e sinto a ardência dos cortes sendo substituídos pela dormência do gelo.
Fico pelo menos cinco minutos dentro da banheira. Saio e tomo meu soro regenerador. A corporação é pioneira em criar substâncias únicas,  algumas são vendidas, outras papai guarda a sete chaves, todas são criadas a base de estudos complexos do corpo humano. Todas são testadas  aqui mesmo dentro do QG.

O soro age instantaneamente, acelerando a maturação, a cicatrização que levaria dias, leva apenas horas, e temos outras substâncias que reduz ou somem com as cicatrizes. As que ostento pelo corpo são as mais antigas,  quando papai ainda estava iniciando nos seus projetos. 

  Já vestida e medicada vou em busca das informações sobre minha nova missão.

Pego o elevador e saio no centro de informações.  Uma sala repleta de computadores de última geração sendo operados pelos melhores hackers do submundo.

__ Scar, senhor Jhon disse que tem algo para mim. __ Falo me aproximando de Scar,  um negro de 1,90 cm de altura com muitos dreads, olhos cor de mel. Scar é um galã,  e usa de sua bela aparência para atrair suas vítimas, um sorriso de dentes brancos na sua boca carnuda, uma barba rala no maxilar cerrado e nariz reto formam a face de um predador muito tentador.

Já tive sonhos molhados com Scar, mas nunca revelei para ele, é proibido que colegas mantenham relacionamentos amorosos dentro da corporação. 

__ Sim pequena sombra. E devo dizer que vai ser moleza para você. __ Ele diz se virando para mim, com um sorriso largo no rosto, me entregando um tablet com a ficha completa da minha próxima vítima.

__ Porque moleza Scar? __ Pergunto sem entender,  normalmente meu trabalho nunca é moleza.

__ Aa, você sabe, um cara comum, ele não é um de nós,  é só um babaca que sabe de mais, só precisa tirar informações.  __ Ele diz se virando de costas para mim.

__ Você começa amanhã,  aí tem toda a rotina dele, seus horários, onde vai, o que come, até a maldita puta que ele paga, tudo. __ Scar fala com raiva,  ele odeia ter que lidar com caras assim, que na opinião dele, são inúteis.

__ Certo! __ Repondo e me aproximo mais dele, para garantir que ninguém nos ouça.

__ Alguma novidade sobre o "Grito"?

Pergunto baixinho.

__ Ainda nada, ele é um maldito spectro, não consegui nada, depois da última mensagem ele evaporou no ar.

Eu suspiro,  o "Grito" é alguém que vem atrapalhando meus serviços, ele sempre mata minhas vítimas antes que eu chegue,  e no local deixa mensagens escritas com o sangue da pessoa para mim.  Somente Scar sabe sobre ele, pois eu tive que pedir ajuda quando não consegui encontrar nada sobre ele.

__ Vou tentar chegar antes dessa vez. Esse não pode morrer.  __ Falo sussurrando,  não posso deixar esse maldito estragar meu trabalho outra vez.

__ Vamos conseguir pegá-lo pequena.

É tudo que Scar diz! Me viro para voltar ao meu quarto e estudar minha vítima.

Amanhã mais uma missão se inicia.

 

 

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