4.

27 7 0
                                    

— Tipo... beijou ou beijooou? — James parecia chocado, mas sua pergunta, por mais estranha que fosse, fazia sentido.

— Beijooou — murmuro, achando ridículo repetir isso agora. James ainda parecia incrédulo, mas ao mesmo tempo satisfeito consigo mesmo por ter acertado em suas suposições.

— E... foi bom? — Ele pergunta, curioso. Foi! Quero dizer... talvez nem tanto. Era bom porque era ele, mas o beijo em si foi meio desajeitado, nada como eu tinha imaginado. Tento não pensar demais nisso, porque só me deixa mais envergonhado.

— É... — respondo, hesitante. James me encara, confuso.

— Então... não foi? — Meu silêncio o faz rir. Ele provavelmente está imaginando como aquilo foi constrangedor.

— Tudo vai ficar estranho agora — digo, meio derrotado.

— Claro que não! — Ele responde rápido, mas no fundo sabemos que sim, vai ficar estranho. Qualquer um que assistisse a essa situação como uma terceira pessoa diria o mesmo. Talvez, se eu rezasse o suficiente...

— Era óbvio que isso ia acontecer em algum momento — James continua, com um sorriso satisfeito. — Eu só imaginei que vocês estariam bêbados, mas sóbrios é ainda melhor!

Ele ri, e eu, sem conseguir conter, acabo sorrindo junto. A situação era estranha, mas talvez, com o tempo, ficássemos mais à vontade com isso.

— Não fique tão apreensivo com isso, Moony. Afinal, foi ele quem te beijou! — James diz, com aquele tom de certeza.

Fico pensativo por um momento, relembrando o que aconteceu. Ele tem razão. Meus pensamentos são interrompidos pela chegada de Sirius no quarto.

— Boa noite, madames! — Ele sorri, e, droga, aquele sorriso ainda era lindo. Merda!

— Boa noite. Imagino que sua noite tenha sido magnífica, né? — James responde com um sorriso malicioso. Sirius ergue uma sobrancelha, confuso, e então olha para mim. Quando percebe, revira os olhos antes de se sentar ao lado de James, jogando os pés no colo dele.

Ele nota o livro de runas antigas no meu colo — eu estava quase terminando, faltavam umas vinte páginas — e o puxa.

— Muito complexo. — Ele sorri. — Talvez porque esteja escrito na língua dos nerds.

Reviro os olhos com a piada, mas não posso evitar sorrir ao ver que James achou graça. Sirius devolve o livro no meu colo e vira o olhar para James.

— Estou orgulhoso de você hoje. Passou cinco minutos sem falar da Evans! — digo, sorrindo.

— Talvez eu tenha outros relacionamentos me mantendo entretido agora — ele responde, lançando-me um olhar cheio de significado, quase como se dissesse: Ei, estou falando de vocês.

Alguns momentos depois, James sai, apesar de eu ter insistido para que ficasse. Isso teria aliviado meu constrangimento, mas ele ignorou e deixou o quarto com aquele sorriso malicioso e idiota.

— Você contou a ele? — A voz de Sirius soa um pouco mais séria, mas ainda com aquele tom brincalhão.

— Não! — respondo com coragem e convicção, mas estou mentindo. Contei a James cada detalhe.

O fato de Sirius parecer levemente preocupado com isso poderia indicar que, para ele, o que aconteceu soava como um erro. Talvez tenha sido... mas, apesar de tudo, ainda não parecia haver estranheza entre nós, pelo menos não da parte dele.

— Você está arrependido? — ele pergunta. Eu congelo.

Um minuto de silêncio. Estou tentando encontrar a resposta certa, nervoso e sem conseguir raciocinar bem, então digo:

— Não. Na verdade, não tenho do que me arrepender, foi você quem me beijou! — Ele me olha, com a sobrancelha erguida, num tom de dúvida brincalhão e provocativo.

— Qual é, cara. Você tem me olhado como se eu fosse um pedaço de carne a semana inteira!

— Desatento você — respondo, lançando-lhe um olhar de quem sabe mais. — Venho fazendo isso há três anos.

Vejo um sorriso começar a se formar em seu rosto com minhas provocações. Algo dentro de mim me alerta a parar por aqui, antes que a estranheza inevitável aconteça. Era tolice continuar. Porque, se por um acaso — um em um bilhão — ele realmente gostasse de mim, acabaríamos brigados, como um casal amargurado dividindo o mesmo quarto. O Remus do futuro se preocuparia muito com isso.

Mas então me lembrei de uma frase idiota que ouvi de James, uma vez, ao observá-lo agir e pensar: "Foda-se o futuro, porque eu terei lembranças maneiras do passado". De um jeito estranho, aquilo fazia sentido agora, e talvez eu me sentisse exatamente assim.

Quebrando o silêncio, pensei: Foda-se o futuro!.

Eu me aproximei de Sirius antes que pudesse pensar melhor. Meu corpo agiu por instinto, movido pela tensão que vinha crescendo há tanto tempo entre nós. Minhas mãos pousaram em seus ombros, firmes, enquanto o ar entre nós parecia mais denso, carregado de algo que eu já não podia ignorar. Meu coração batia rápido, e por um instante, a adrenalina tomou conta. Antes que qualquer pensamento de dúvida pudesse me deter, senti meus lábios tocarem os dele.

Havia algo de eletrizante em estar tão perto dele, sensação dos lábios de Sirius nos meus, do toque das mãos dele contra minha pele. Pela primeira vez, eu não estava preocupado.

Eu não sabia o que dizer — não sabia se havia algo a ser dito. Mas, enquanto o observava, com o coração ainda acelerado, percebi uma coisa: isso não parecia um erro. Não para mim. Mesmo com todas as preocupações que eu tinha antes, todas as dúvidas sobre o que viria depois, naquele instante, nada disso importava.

Afinal, o futuro podia esperar.

scars. [wolfstar]Onde histórias criam vida. Descubra agora