Capítulo 2: Bem-vinda a Sweet Amoris

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— Camille! — uma voz feminina soou ao longe, despertando a garota de seu transe. Ela piscou algumas vezes, tentando se aclimatar ao que estava à sua frente. Camille se levantou lentamente, a mente turva e confusa. O que está acontecendo? Olhou ao redor e logo percebeu que estava em um quarto diferente, mas ao mesmo tempo não tão desconhecido. As paredes eram de um tom suave de lilás, decoradas com pôsteres de bandas e fotos de momentos alegres. Era o quarto de Lynn, a protagonista de Amor Doce! Camille sentiu um frio na barriga, misturando excitação e pânico.
— Camille! — a voz voltou, mais insistente agora. Camille virou a cabeça rapidamente, e viu uma mulher com cabelos ruivos e ondulados, de olhos expressivos e um sorriso acolhedor. Era Lucia, a mãe de Lynn. A mulher parecia preocupada, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo.
— Está tudo bem, filha? Você parece meio fora do ar. — Lucia disse, aproximando-se. Camille abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. O que estava acontecendo? Ela estava dentro do jogo, vivendo a vida de Lynn, mas como? Era um sonho? Uma alucinação? A mente dela girava, e a confusão se instalava. Ela estava perdida entre a realidade e a ficção.— Camille? — Lucia chamou novamente, a voz dela soando mais próxima. — Você tem que se apressar! Vai se atrasar para a escola! 
Escola? Camille olhou para o espelho que estava ali, refletindo sua imagem, mas agora com um pijama totalmente diferente, com cabelos mais compridos e um olhar curioso. Ela sentia uma mistura de euforia e desespero. Estou dentro do jogo! Isso não pode ser real!  pensou, enquanto tentava processar a situação.
— O que... o que está acontecendo? — finalmente conseguiu articular, sua voz tremendo. Lucia franziu a testa, confusa com a reação da filha.
— Camille, você está me assustando. Por que você está agindo assim? — A mãe de Lynn, agora dela, perguntou preocupada. Camille tentou se lembrar, mas sua mente estava em branco. Ela não fazia ideia do que Lucia estava falando.
— Eu... não sei! — ela respondeu, a voz falhando. — Eu não sou a Lynn! Eu sou Camille!
A expressão de Lucia mudou de preocupação para confusão total.
— Lynn? O que você quer dizer com isso?
Camille sentiu que estava prestes a entrar em colapso. O que estava acontecendo? Como ela tinha ido parar ali? E por que todos achavam que ela era Lynn? Ela queria gritar, queria que alguém explicasse, mas tudo que conseguia fazer era se perder em um mar de perguntas.
— Camille! Por favor, venha logo! — outra voz soou, agora vinda da porta. Camille virou-se para ver quem era, era Phillipe, pai de Lynn. Ele a olhou com uma expressão de preocupação, e Camille se sentiu em choque. O que a vida dela se tornara?
— O que está acontecendo, Camille? — ele perguntou, e as palavras pareceram ecoar em sua mente, misturando-se com o caos que ela sentia.
Camille estava prestes a surtar. Como ela poderia voltar para casa? Como tudo aquilo era possível? 
Camille sentiu a pressão crescente de todas aquelas vozes e olhares em cima dela. Phillipe e Lucia a observavam com expressões preocupadas, como se tentassem decifrar o que havia se passado com a filha.
— Olha, Camille, se essa é uma tentativa de faltar no primeiro dia de aula, pode desistir, porque não vai funcionar — Phillipe disse, um tom de firmeza na voz que não deixava espaço para discussão.
Camille, ainda em estado de choque, olhou para ele, a mente girando em confusão. Ela não estava tentando faltar; simplesmente não fazia ideia do que estava acontecendo.
Lucia se aproximou, seu olhar caloroso, mas com um toque de preocupação.
— Amor, você precisa se levantar. O que quer que esteja passando na sua cabeça, não pode ficar assim. — disse ela, puxando Camille para fora da cama com um movimento suave, mas decidido. Camille se levantou, os pés descalços tocando o chão frio, e a realidade começou a pesar sobre seus ombros. Ela era Lynn, a protagonista do mangá, mas como isso havia se tornado a sua realidade? A confusão a envolvia como uma névoa densa, impedindo-a de enxergar claramente. Silêncio. Ela não sabia o que dizer.  Cada movimento parecia distante, como se estivesse observando tudo de fora, sem conseguir compreender a nova realidade.
— Vamos, querida. Você precisa se arrumar! — Lucia incentivou, puxando-a para o banheiro, onde os produtos de beleza e acessórios de Camille estavam dispostos de maneira meticulosa.
Camille se olhou novamente no espelho, e sua imagem refletida parecia quase familiar, mas ao mesmo tempo estranha. As roupas, o cabelo, a expressão... tudo parecia tão certo e tão errado ao mesmo tempo. Ela balançou a cabeça, tentando recobrar a compostura. É só um dia, pensou, mas a ansiedade começava a brotar em seu peito. E se, ao longo do dia, as coisas não mudassem? E se esse fosse o seu novo normal? Enquanto Lucia a ajudava a escolher uma roupa, Camille não conseguia deixar de se perguntar se havia uma forma de voltar para sua vida anterior. Isso não pode ser real. Não pode! As palavras ecoavam em sua mente, mas no fundo, uma parte dela estava intrigada com a possibilidade de explorar esse novo mundo.
Finalmente, quando se vestiu e se preparou para sair, Camille não pôde evitar uma última olhada no espelho. O que você faria, Lynn? ela se perguntou, antes de seguir seu novo caminho, mesmo que estivesse completamente perdida.

Ao descer as escadas, Camille encontrou Tia Agatha, a irmã de Lucia. A mulher tinha um sorriso radiante e um olhar acolhedor, e, por um momento, Camille se perdeu em pensamentos sobre como os nomes da personagem era o mesmo de sua tia no mundo real. Agatha... como se minha tia fosse um eco do jogo, ela riu internamente, tentando se distrair da confusão que ainda a cercava.
— Bom dia, Camille! — Agatha exclamou, seus olhos brilhando de entusiasmo. — Está ansiosa para o primeiro dia de aula?
Camille hesitou, as palavras presas em sua garganta. Ansiosa? O que ela deveria responder? Era difícil expressar a montanha-russa de emoções que sentia.
 — Um pouco, eu acho... — ela finalmente respondeu, tentando soar casual.
Agatha sorriu, percebendo a nervosismo da sobrinha.
— Não se preocupe! — disse Agatha, colocando a mão reconfortante em seu ombro. — Vou te levar para a escola. Vai ser divertido, eu prometo!
Camille assentiu, ainda tentando absorver tudo. "Divertido" era uma palavra estranha para descrever o que ela estava prestes a enfrentar. O primeiro dia de aula sempre foi estressante para qualquer aluno, mas agora, entrar em um mundo que ela conhecia apenas de um mangá tornava tudo muito mais intenso. Enquanto Agatha guiava Camille para fora de casa, um misto de expectativa e apreensão se instalou em seu coração. O que será que me espera? Camille pensou, enquanto as duas se dirigiam para a escola. E se essa for a chance de ter a vida que sempre sonhei?

Dentro do carro, Camille começou a recordar como era o primeiro dia de aula da docete, a protagonista do jogo. As memórias da narrativa a envolviam como um cobertor familiar, e ela se pegou pensando em todos os detalhes que havia lido. "Acho que eu precisava de uma foto 3x4 e dinheiro para a taxa de inscrição..." ela murmurou, tentando lembrar-se das informações do primeiro episódio. Era engraçado como pequenos detalhes se tornavam cruciais em um momento como aquele.
 — Está tudo bem? — Agatha perguntou, percebendo o olhar pensativo da sobrinha. Camille forçou um sorriso, tentando disfarçar sua preocupação.
 — Sim, só estava pensando em algumas coisas que esqueci de preparar. — Ela hesitou, e então adicionou, — Como a foto 3x4 e a taxa de inscrição.
Agatha balançou a cabeça, compreendendo.
— Ah, isso é importante! — disse ela — Você trouxe tudo, certo?
Camille fez uma careta. Na verdade, não tinha certeza se tinha lembrado de tudo. 
— Acho que sim... bem, espero que sim. — respondeu, tentando manter a calma. Agatha sorriu para ela, um olhar de incentivo.
— Não se preocupe, querida. O importante é que você está pronta para aproveitar essa nova fase.
"Aproveitar" era uma palavra que soava distante, mas Camille tentava se agarrar a essa ideia. O que mais ela poderia descobrir? Quem seriam seus novos colegas? E será que alguém ali se lembraria dela? Enquanto se aproximavam da escola, o coração de Camille começou a acelerar. Estou prestes a entrar em uma nova vida, pensou. Só espero que eu consiga lidar com isso.

Ao chegarem à escola, Camille ficou maravilhada com a visão diante dela. O prédio era imponente, com uma fachada elegante e janelas amplas que deixavam entrar a luz do sol. Era exatamente como ela havia imaginado, a escola onde a história de Amor Doce se desenrolava. Agatha parou em frente à entrada e se virou para Camille, um sorriso carinhoso no rosto.
— Aqui estamos! — disse, entregando a Camille 15 euros. — Para garantir que você tenha dinheiro para o que precisar.
Camille aceitou o dinheiro, agradecendo com um aceno de cabeça. Era um gesto simples, mas lhe deu um pouco mais de confiança.
— Não se esqueça de me ligar se precisar de alguma coisa, tá bom? — Agatha acrescentou, a preocupação transparecendo em seu olhar.
Camille sorriu, embora seu coração estivesse acelerado. Vai ser só um dia normal, ela se lembrou, mas a ansiedade estava começando a se misturar com a empolgação. Ela deu um passo em direção à entrada da escola, e ao abrir a porta, um turbilhão de sons e vozes a envolveu. Estudantes conversavam, riam e se moviam de um lado para o outro, criando uma atmosfera vibrante que a deixava um pouco tonta. A primeira coisa que chamou sua atenção foi o grupo de garotas animadas rindo e conversando. Camille sentiu uma pontada de insegurança. E se elas não gostarem de mim? Pensou, lembrando das experiências difíceis do mundo real. Mas, naquele momento, ela se lembrou das palavras encorajadoras de Agatha e decidiu que não deixaria o medo a dominar.
Só vou ser eu mesma, pensou, erguendo o queixo. Enquanto caminhava pelos corredores, Camille se viu observando tudo com curiosidade. O ambiente estava repleto de cartazes coloridos, e estudantes pareciam se conhecer muito bem, formando grupos coesos. Ela podia ver alguns rostos familiares que reconhecia do mangá: os meninos, as garotas, e até mesmo os professores. Um rapaz de cabelo castanho claro e óculos com lentes grossas se aproximou de Camille, os ombros levemente curvados e um sorriso tímido brincando nos lábios. Camille o reconheceu imediatamente: era Kentin. Ele parecia um pouco desajeitado, mas seus olhos tinham uma gentileza familiar, como no início do mangá.
— Oi... Camille? — ele perguntou, com uma hesitação curiosa, segurando a alça de sua mochila com força.
Camille piscou algumas vezes, ainda surpresa por vê-lo ali, exatamente como lembrava da fase "pré-transformação" dele no jogo. Ele estava mais baixo que alguns dos outros rapazes, um tanto inseguro, mas claramente tentava fazer o melhor para soar amigável.
— Ah... oi! — respondeu, um pouco sem jeito. — Você não parece nervosa como a maioria. Eu sempre fico um pouco... nervoso em lugares novos.
Camille precisou segurar uma risada. Sabia que, mais à frente, Kentin passaria por uma transformação radical, mas ali estava ele, doce e um tanto inseguro, tentando criar uma amizade. Era como se ela tivesse sido transportada de volta para o começo de tudo, e isso a fez sentir uma estranha sensação de conforto.
— Estou um pouco nervosa também, para ser honesta. — Camille respondeu com um sorriso, tentando ser simpática.
Talvez ser gentil com ele seja o caminho certo, pensou. Sabia como a história do jogo se desenrolava e como aquele Kentin evoluiria. Kentin pareceu se animar com a resposta dela, e um sorriso mais largo apareceu em seu rosto.
— Ei, se precisar de ajuda com alguma coisa... bem, posso te mostrar onde fica a secretaria ou a lanchonete. Eu conheço o básico aqui. — Ele falou com um entusiasmo tímido, mas genuíno.
Camille assentiu, surpresa com o quão confortável ele a fazia se sentir.
 — Na verdade, preciso deixar uma foto 3x4 no grêmio... e pagar a taxa de inscrição. — Ela comentou, pensando nos detalhes que lembrava do jogo.
Kentin abriu um sorriso e acenou com a cabeça.
— Ah, tranquilo! O grêmio é logo ali. Vamos juntos, se quiser.
Os dois começaram a caminhar lado a lado pelo corredor. A sensação surreal de estar dentro do universo de Amor Doce ainda persistia, mas, ao mesmo tempo, Camille sentiu uma calma inesperada ao conversar com Kentin. Talvez essa fosse uma oportunidade de recomeçar, sem os julgamentos do passado.
Enquanto eles caminhavam, Kentin esbarrou levemente em uma garota que vinha na direção oposta, e Camille prendeu a respiração ao ver quem era: Ambre Carello, com seus cabelos loiros perfeitamente arrumados e o olhar superior que deixava claro que se achava a dona do colégio.— Cuidado por onde anda, idiota. — Ambre disse com desprezo, empurrando Kentin de leve com o ombro antes de seguir seu caminho, acompanhada por duas garotas igualmente arrogantes.
Kentin abaixou a cabeça, visivelmente desconfortável, e murmurou:
— Desculpa...
Camille sentiu uma onda de raiva se formando em seu peito. A história mal havia começado, e Ambre já estava agindo do jeito que ela lembrava. Mas, desta vez, Camille não pretendia ser apenas uma espectadora passiva.
Ela deu um passo à frente e lançou um olhar firme para Ambre, que parou e a encarou com desdém.
— Da próxima vez, tenta não esbarrar nas pessoas, ok? — Camille disse, sua voz calma, mas carregada de intenção.
Ambre ergueu uma sobrancelha, surpresa pela atitude da novata. Por um instante, as duas se encararam, e Camille sentiu como se tivesse desafiado o sistema do próprio jogo. Não esperava ser tão direta, mas algo dentro dela gritava para não deixar as coisas acontecerem do mesmo jeito que no passado.
Ambre bufou, revirando os olhos, e então seguiu seu caminho sem mais comentários, como se Camille fosse insignificante demais para merecer sua atenção.
Kentin a olhou com surpresa e gratidão.
— Uau... você não precisava ter feito isso. — Ele sorriu timidamente, como se estivesse impressionado.
Camille deu de ombros, sentindo um leve calor nas bochechas.
— Eu sei... mas não gosto de ver gente sendo maltratada.
Os dois continuaram em direção à secretaria, e Camille percebeu que, mesmo que não tivesse todas as respostas sobre como ou por que estava ali, poderia fazer as coisas do seu jeito.
Talvez, afinal, essa fosse a verdadeira chance de mudar sua história.

Através do Espelho - LysandreOnde histórias criam vida. Descubra agora