Confissões

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— Sou obrigada a reconhecer que você me levou para comer em um lugar muito interessante. — disse Pilar, olhando para o mar.

— É o melhor da cidade — concordou Gabriel.

O casal resolveu sentar-se na areia, olhando de frente para a água. Pilar não parava de olhar para o mar. Parecia se sentir em casa. Gabriel percebeu isso e só pensava em como ela era especial. Ele não conseguia se lembrar de ninguém parecido com ela, e se perguntava mais uma vez por que ela estava aqui. Eram tão diferentes quanto duas pessoas podem ser. Pilar era uma mulher doce, criada por um pai atencioso, sempre desejosa de ajudar quem precisa. Já ele era um professor que não conseguia separar entre ser a autoridade e ser amigo dos alunos. Motivo do qual sempre gerava brigas entre eles. Mas ali, sentado ao lado dela, se viu desejando poder ser mais como ela.

— Em que está pensando? — perguntou Pilar com sua voz gentil, arrancando Gabriel de seus pensamentos.

— Estava me perguntando porque você está aqui. — confessou.

— Porque gosto de praia. Não faço isso com muita frequência. Não há muitas ondas ou barcos de pesca de camarão no lugar de onde venho. — disse Pilar fingindo inocência. Quando viu a expressão de Gabriel, ela lhe deu um tapinha na mão. — Estou aqui porque quero.

Gabriel se perguntou porquê isso lhe incomodava  tanto. Para ele, era um sentimento novo, ao qual com certeza ele não estava acostumado. Pilar tinha voltado a sua atenção para a água.

— Isto aqui é deslumbrante. Imagina um pôr do sol nesse lugar. — disse Pilar admirando o lugar.

— Seria perfeito! — disse Gabriel admirando não a vista, mas sim a mulher que estava ao seu lado.

Pilar esticou as pernas e se virou para Gabriel com um olhar sedutor e inocente ao mesmo tempo.

— Quer saber em quê eu estava pensando? —  perguntou a ele.

— Quero. — respondeu sorrindo para ela.

— Estava pensando que gostaria que você estivesse comigo nesses dois últimos dias. — disse pensativa.

— Como assim? Eu estava com você todos esses dias. — disse sem entender.

— Você estava, mas era como se não estivesse. Me evitava e ignorava. Eu só queria entender o porquê... — disse triste.

— Olha, minha intenção não era te deixar mal, eu só precisava de um tempo. Vê você com o Cézar não foi fácil. — explicou Gabriel, segurando as mãos da sua amada. — Desculpa.

— Tudo bem. Você teve os seus motivos e com razão. Aceitar sair com o Cézar foi muito injusto com você. Quem deve um pedido de desculpas sou eu. — disse olhando nos olhos dele. — Mas eu tenho que confessar,  você fez muita falta. E eu descobri que não consigo passar um dia sem falar com você. Nem que seja para brigar, mas eu preciso de você por perto. — disse essa última parte rindo.

Gabriel engoliu em seco. A vontade dele era de beijá-la naquele momento. Em vez disso, a única coisa que conseguiu fazer foi ficar olhando para ela. Pilar sustentou o olhar sem o menor sinal de constrangimento.

— Passar um tempo com você parece ser
... a coisa certa, de certo modo. — confessou Pilar. — É fácil, do jeito que deveria ser.

— Eu sinto a mesma coisa em relação a você. — admitiu fazendo Pilar deslizar suavemente a mão para dentro da dele, os dedos se entrelaçando aos dele.

Enquanto estavam ali sentados, o ar se encheu com o barulho das ondas. Gabriel estava maravilhado com a sensação de como tudo parecia ser tão novo. Novo e confortável, como se eles se conhecessem desde sempre. E olha que nem eram um casal de verdade.

— Ali! — gritou Pilar, enquanto apontava para o mar.

Gabriel percorria com os olhos, mas não via nada. Ao seu lado, Pilar se levantou de repente e começou a correr em direção à água.

— Venha! — gritou por cima do ombro. — Depressa!

Gabriel levantou e foi atrás dela, intrigado. Começou a correr e alcançou Pilar. Ela parou na beira da água, com a respiração entrecortada.

— O que foi? — perguntou Gabriel.

— Bem ali! — disse ela apontando para o mar. Gabriel forçou o olhar e viu aquilo a que ela se referia. Havia três deles montados nas ondas, um depois do outro, desaparecendo quando chegavam à parte rasa, para reaparecer depois um pouco mais adiante.

— São golfinhos. — disse Gabriel — Eles passam pela ilha quase toda noite.

— Eu sei! Parece que estão surfando. — disse maravilhada.

— Sim, acho que sim. Estão só se divertindo. Como não há ninguém na água, eles se sentem seguros para brincar.

— Eu queria ir com eles. — disse Pilar de um jeito fofo.

— Eles vão parar de brincar, ou vão prosseguir ao longo da praia, até encontrarem algum lugar seguro. Eu os via sempre quando vinha com o meu avô. Quando ficam curiosos, chegam bem perto e dão uma espiada em você. — contou Gabriel.

— Você teve muita sorte de ter um avô tão atencioso. Você teve experiências incríveis ao lado dele. Todas que me mostrou até agora foram inesquecíveis! Vou sempre lembrar com muito carinho! — disse sorrindo para Gabriel.

— Você não sabe o quanto é bom poder ter você aqui comigo. Poder dividir tudo isso com você e te ver feliz. É a melhor coisa que poderia me acontecer. —  disse Gabriel .

Continuaram a observar os golfinhos enquanto eles se afastavam do casal, desaparecendo de vista na imensidão do mar.

— Acho que está na hora de ir. — disse Gabriel.

— Mas já?! — perguntou Pilar fazendo bico. — Nem deve tá tão tarde assim.

— Não, não está! Mas, o tempo está fechando para chuva e nós estamos em outra cidade. — explicou Gabriel enquanto segurava a risada, mas não aguentou muito tempo.

— Qual é a graça? — perguntou Pilar estressada.

— Você fazendo biquinho igualzinho uma criança. — zombou Gabriel, fazendo Pilar cruzar os braços. — Vamos fazer assim, a gente vai embora e eu prometo que te trago aqui de novo. Para passar o dia, que tal?

— Promete? — perguntou desconfia.

— Prometo! — afirmou sorrindo para ela.

— Que foi? Por que tá me olhando assim? — perguntou Pilar.

— É que você tá diferente. Você está me mostrando um lado seu que eu não conhecia, um lado mais infantil e fofo. — disse sorrindo, deixando Pilar sem graça.

A lua estava agora oculta pelas nuvens, que escureciam o céu. Após um instante, uma chuva leve começou a cair. Ao perceberem que estava chovendo, correram para um quiosque vazio que havia ali perto. Os coqueiros  que tinham ali, farfalhavam na brisa, enquanto trovoava.

— Podemos sair antes que a tempestade chegue.

— Não temos a onde ir, lembra? Além disso, sempre gostei de tempestades. - disse Pilar sorrindo para Gabriel.

Gabriel a puxou mais para perto, respirando seu perfume. Seu cabelo tinha um aroma doce, como o de morangos maduros. Ficaram olhando a chuva apertar. A única luz vinha das lâmpadas do estacionamento, deixando metade do rosto de Pilar oculto na sombra.

Os trovões soavam em cima de suas cabeças, e começou a chover ainda mais. Viam as gostas baterem na areia, deixando algumas poças. Se sentiram gratos por fazer calor, apesar da chuva. A um lado Gabriel avistou caixotes vazios. Afastou-se de Pilar para pegá-los e começou a empilhá-los, improvisando assentos. Sabia que não seria tão confortável, mas era melhor do que ficar de pé.

Gabriel se sentou e chamou Pilar para sentar ao seu lado. Quando Pilar se sentou ao seu lado, ele soube de repente que vir até aqui tinha sido a coisa certa a fazer. Era a primeira vez que estavam realmente sozinhos, mas parecia que estavam juntos desde sempre.








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