Os caixotes o fizeram duvidar da sua sensatez, mas Pilar não parecia estar se incomodando. Ou fingia que não.— Sinto muito. Achei que seria mais confortável. — desculpou-se.
— Está ótimo. Minhas pernas estão cansadas e meus pés doendo. Isto foi perfeito. — disse Pilar se acomodando mais perto de Gabriel.
Gabriel estava pensativo, quando sentiu Pilar apoiar a cabeça em seu ombro, se viu desejando que o tempo parasse. Queria que aquele momento nunca acabasse.
— Você está calado. — disse Pilar ainda apoiando a cabeça no ombro de Gabriel.
— Desculpe. Só estava pensando na noite de hoje.
— Coisas boas, espero. — disse olhando para ele sem mudar a posição.
— Sim, coisas boas. — confirmou olhando à de volta.
Pilar se remexeu em seu assento e Gabriel sentiu a perna dela roçar na dele.
— Eu também. — disse Pilar sorrindo.
A poucos metros do casal, a tempestade parecia chegar ao auge quando mais uma rajada de chuva irrompeu das nuvens. O estrondo dos trovões parecia um canhão.
Pilar chegou mais perto e Gabriel colocou seu braço em volta dela. Ela cruzou as pernas na altura dos tornozelos e se deixou apoiar nele, fazendo-o sentir que poderia abraçá-la assim para sempre.
— Você é diferente da maioria dos caras que conheço. — Observou ela, a voz soando baixa e íntima nos ouvidos de Gabriel. — Apesar das brincadeiras, você é mais maduro, sabe respeitar o meu espaço e espera o tempo certo sem forçar nada.
— E não se esqueça que sou bom de papo, sei impressionar, sou bonitão e te irrito como ninguém. — disse convencido.
— Que você sabe impressionar e é bom de papo, concordo. Isso de me irritar... Bem, parece que isso vem junto com o pacote. Ninguém é perfeito. — provocou Pilar. Gabriel lhe deu uma cutucada, fingindo estar magoado.
— Fazer o que, né? Eu amo te irritar, é meu passa tempo favorito! — provocou de volta.
— Você é impossível. Mas, eu gosto disso em você! — disse voltando o olhar para a chuva.
— Gosta?! — perguntou surpreso.
— Sim, é o seu jeito. Acho que me estressa por não conseguir ver as coisas com mais leveza, igual você vê. Mas eu admiro isso em você! — admitiu o olhando nos olhos .
Embora o vento estivesse mais forte, a chuva começava a diminuir.
— Você já se apaixonou alguma vez? — perguntou Pilar.
— Isso veio do nada e de repente.
— Ser imprevisível faz as mulheres serem mais misteriosas.
— Faz mesmo. Respondendo a sua pergunta, eu não sei. — respondeu pensativo.
— Como pode não saber? — disse Pilar fazendo Gabriel hesitar, tentando saber o que dizer.
— Eu namorei uma garota a poucos anos atrás e, na época, achava que estava apaixonado. Ao menos era o que eu dizia a mim mesmo. Mas agora, quando penso nisso, eu... Não tenho mais certeza. Sentia carinho por ela, mas mal pensava nela quando estávamos separados. Não éramos um casal, se é que isso faz sentido. — explicou Gabriel deixando uma Pilar pensativa, mas que não disse nada.
— E quanto a você? — perguntou Gabriel fazendo Pilar anuviar o rosto.
— Não. — respondeu.
— Mas pensou que estava. Como eu, certo? — perguntou Gabriel. Pilar respirou fundo e balançou a cabeça negativamente.
— Não, eu nunca estive em um relacionamento. Já ouve pedidos e caras interessados., mas eu nunca consegui corresponder. Até agora pelo menos. — disse tímida, mas o olhando nos olhos.
— Pilar, você me surpreende cada vez mais. — disse maravilhado. — Isso quer dizer que esse momento deveria ser mais especial.
No silêncio que se seguiu, Gabriel refletia o quão fofa Pilar era. Ela se guardava para alguém especial. A mesma tem tantos pretendentes que se ela não tivesse o contado, ele jamais suspeitaria. Ele já sabia que Pilar era uma mulher diferente. Mas não pôde não ficar impressionado.
— Prometo agir como um perfeito cavalheiro. — prometeu a ela, fazendo-a olhar para ele.
— Do que está falando? — perguntou franzindo a testa.
— Desta noite. De amanhã à noite. De sempre. Você me confiou algo que nunca contou a ninguém. Eu não quero que você se arrependa de ter vindo aqui hoje e de tudo o que rolou. Quero fazer de cada nova experiência sua inesquecível! — disse Gabriel enquanto passava um dedo pelo queixo de Pilar e sentiu a pele da mesma se arrepiar ao seu toque.
— Eu sei. — disse ela, apaixonada. — por que acha que estou aqui com você?
Sua voz era tão suave que Gabriel teve que controlar a vontade de beijá-la. Pois não era disso que ela precisava, não agora, mesmo que fosse difícil pensar em qualquer outra coisa.
— Você sempre foi um cavalheiro comigo. Sempre foi honesto, é um dos poucos homens que me passa confiança, me ajuda mesmo estando chateado comigo e sempre me tratou com delicadeza. — confessou Pilar. — Cada momento com você tem sido especial.
Abaixo do lampião da rua, uma névoa se elevava do solo remanescente do calor do dia. Grilos começaram a se fazer ouvir, cantando uns para os outros. Pilar olhou para Gabriel, depois para o teto, depois para seus pés e por fim, de novo para Gabriel. Ele apertou sua mão e ela suspirou, maravilhada com o fato de que no final do outono, em um lugar comum, se apaixonaria pelo mesmo cara que dizia odiar no começo dessa mesma estação.
— Você não faz ideia de quanto estes últimos dias significaram para mim. Conhecer você foi a melhor coisa que já me aconteceu. — hesitou Gabriel, sabendo que, se parasse agora, nunca conseguiria dizer isso a mais ninguém. — Eu me apaixonei por você!
Gabriel sempre imaginou que seria difícil pronunciar essas palavras, mas não foi. Em toda sua vida nunca tivera tanta certeza de algo. E por mais que esperasse ouvir um dia Pilar dizer aquelas mesmas palavras, o que mais importava era saber que ele tinha esse sentimento para oferecer, sem condições nem expectativas.
— Você alguma vez imaginou algo assim? Você e eu , quero dizer?
— Não. — respondeu Gabriel.
— Isso me assusta um pouco. — confessou ela.
— Você não precisa me dizer de volta. Não foi por isso que eu disse...
— Eu sei. Você não entendeu. Não fiquei assustada pelo que você me disse. E sim, porque eu queria isso também. Eu estou apaixonada por você, Gabriel. — disse o olhando nos olhos.
Mesmo agora, Gabriel não tinha muita certeza de como aconteceu. Em um momento estavam conversando, e no momento seguinte Pilar se inclinou na sua direção. Por um segundo, perguntou-se se beijá-la iria quebrar o encantamento sobre qual os dois estavam, mas era tarde demais para parar.
Quando os lábios dele se encontraram com os dela, Pilar soube que poderia viver cem anos e ler todos os livros que gostava, mas nada iria se comparar com esse momento único em que beijou pela primeira vez o homem dos seus sonhos. Esse homem extraordinário chamado Gabriel.