Capítulo 6 - Luna

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No dia seguinte, o sol nasceu com um brilho especial, pintando o céu com um lindo tom dourado. A grama estava mais verde, os grilos cantavam alto, as pessoas eram incrivelmente gentis e amáveis, e eu? Bem, eu tinha o telefone de Stella.

Quando me apresentei como Ayla, a palestrante que ela tanto queria ouvir, a garota quase teve um treco. Sua boca se abriu em um nítido estado de choque, e aproveitei para pedir o número do seu telefone. Péssimo momento, eu sei, mas não podia correr o risco de perdê-la de vista outra vez. A surpresa e a hesitação nos olhos de Stella, por um momento, me fizeram questionar se estava indo rápido demais, mas ela pegou o meu celular e gravou seu nome, exibindo um leve vermelho nas bochechas.

Entre reuniões com clientes e processos despachados, minha mente divagava para o que eu estava prestes a fazer: ligar para Stella e convidá-la para um encontro. Um encontro de verdade, sem depender do acaso para nos aproximar novamente.

Decidi ligar durante o almoço para não a atrapalhar na faculdade e evitar o risco de Amanda ouvir a conversa. Ultimamente, ela andava muito xereta, e eu nem podia reclamar ou seria acusada com alguma teoria sem fundamento. Aparentemente, não sou uma pessoa que inspira confiança.

Por um lado, Amanda estava certa e eu estava um pouco, apenas um pouquinho, obcecada com a ideia de conhecer melhor Stella. Mas, por outro, não tinha como aquele turbilhão de emoções que se agitavam dentro de mim quando eu pensava nela, ser apenas a sombra do meu ego ferido por não tê-la. Concordo que, levando em conta as aventuras do meu passado, talvez eu não fosse a rainha da inteligência emocional. No entanto, o destino e seus encontros me faziam enxergar uma chance real de construir algo concreto com Stella.

Girei o celular em minha mão por alguns minutos, ponderando qual seria a melhor abordagem. Era apenas um convite para jantar, algo que eu já fizera um milhão de vezes. Então, porque me sentia tão nervosa e com medo de estragar tudo?

Bom, o destino já havia feito muito por mim, agora era a minha vez.

— Alô? — Stella atendeu no primeiro toque, não me dando tempo para ensaiar mais uma vez as palavras que havia treinado a manhã inteira.

— Oi, Stella! É a Luna, tudo bem?

— Oi, Luna. Estou bem e você? — Ótimo, ela não tinha desligado; minhas chances eram boas.

— Bem. Como está a sua vó? O que aconteceu? — A situação da avó, resumida em uma troca de mensagens por dois segundos, era uma das poucas informações que eu tinha sobre a vida de Stella.

— Ah. — Stella pareceu surpresa com a pergunta. — Ela desmaiou em casa. Minha irmã ficou preocupada porque ela é diabética e a levou para o hospital. As duas estavam muito nervosas, e eu precisei ir até lá. Mas ela já está bem, obrigada por perguntar.

Agora, além da avó, também sabia que ela tinha uma irmã. Pela forma que Stella falava, elas eram bem próximas.

— Que bom, me avise se eu puder fazer alguma coisa por ela. Eu amo avós! — Droga! Lá se vai o rumo da conversa. Por sorte, ouvi uma risadinha dela do outro lado da linha. — Avós, no geral, não só a sua.

— Essa é uma boa qualidade.

— Viu só? Tem muitas outras de onde veio essa. — Meu Deus, onde havia ido parar a minha capacidade de flertar? Bufei baixinho, tentando recuperar meu autocontrole. — Como foi sua manhã?

— Tranquila, só tive a certeza de que meu professor de Seguridade Social é apaixonado por você. A aula inteira foi sobre sua palestra.

Credo! Vou ter que conversar com o Camilo sobre os malucos que a universidade está contratando para lecionar — tentei suavizar a conversa.

— Ótima ideia! — Stella manteve o tom descontraído. — Acredita que ele ainda teve o disparate de indicar outro artigo seu para a turma ler no final de semana?!

— Meu Deus! Espero que já estejam passando uma lista pedindo exoneração desse cara. — Isso! Eu ainda sabia como manter um diálogo usando frases completas.

— Com certeza, e meu nome é o primeiro da lista — Stella respondeu, brincalhona, e céus, aqueles minúsculos segundos de glória me causaram mais arrepios do que os saltos mensais de paraquedas a que eu estava acostumada.

— Você vai ler o artigo? — foco, Luna. Mantenha o foco e diga as palavras.

— Claro, preciso passar nessa matéria.

— E se você pegasse a informação direto da fonte? Ouvi dizer que a autora é legal, bonita e inteligente.

— E humilde — ela completou. Eu andava de um lado para o outro pela minha sala, tentando adivinhar as expressões de Stella. Se eu estivesse certa, agora ela estaria revirando os olhos, com um meio sorriso.

— Isso também. Humilde e acessível. O que me diz? Quer jantar comigo? — perguntei, e senti uma hesitação do outro lado.

— Luna... — ah não. O tom da sua voz era de tristeza. — Eu não posso.

— Não quero te pressionar, mas é só um jantar. Eu preciso comer, você precisa comer. Por que não podemos fazer isso juntas? — tentei convencê-la, apesar da pontada de decepção.

— Me desculpa, eu não posso — ela falou após um breve silêncio, e eu me preparei para aceitar que não era para ser. Apesar da minha certeza, eu não podia obrigá-la a sair comigo.

— Tudo bem — sentei-me no sofá do escritório e fechei os olhos sentindo meu coração dar indícios de que estava se despedaçando.

— Eu trabalho à noite, mas o que você acha de um almoço? — espera, o quê? Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios.

— É sério? — perguntei, tentando conter a animação em minha voz. Levantei do sofá com um pulo.

— Eu preciso comer, você precisa comer. Podemos almoçar juntas — um alívio preencheu meu peito, como se eu fosse capaz de respirar novamente.

— Ótimo! Amanhã? — perguntei, deixando a ansiedade me guiar. — Eu te pego na universidade depois da sua última aula.

— Não! — Stella falou, rapidamente. — Não precisa se incomodar, eu te encontro. Só me passa o endereço por mensagem.

— Tá legal, eu tenho seu número — falei, atrapalhada.

— Tem, é o mesmo que você me ligou — Stella deu uma risadinha. Ela não era inocente e sabia o que causava em mim. — A gente se vê amanhã.

— Até amanhã — naquele momento, eu sentia meu corpo mais leve do que o de um beija-flor. Se eu tivesse asinhas e um bico longo, com certeza estaria voando em looping pelo escritório. Como eu pesava um pouquinho mais do que duas gramas, me contentei em dar pulinhos animados. O universo e o destino estavam muito do meu lado.


Oii, gente. Só para dizer que publiquei uma comédia romântica sáfica na Amazon, se chama "O Milagre da Estrela" e vocês podem ler de graça pelo Kindle Unlimited ;)

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⏰ Última atualização: Oct 17 ⏰

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