Capítulo 3 - Stella

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Decidi aceitar a proposta de Isa e trabalhar na tal festa. Graças a Deus, não era como os eventos externos da Black. Ali, as pessoas, a maioria mulheres, estavam realmente apenas aproveitando, bebendo e se divertindo.

Conheci a Amanda, e ela era mesmo legal e respeitosa. Ela me garantiu que ninguém saberia da verdadeira natureza do nosso trabalho, porque entendia que privacidade era um fator fundamental para nossa segurança.

Amanda me contou que foi convidada para a festa de despedida de solteiro de um amigo na Black. Mesmo relutante, acabou indo e, ao chegar lá, só teve olhos para Isa. Voltou algumas noites depois para revê-la e, com coragem, pediu uma dança particular. Desde então, as duas vinham se conhecendo melhor. O carinho entre elas era evidente, mas assumir um relacionamento era um passo muito complexo, e nenhuma das duas tinha certeza de como fazer aquilo. Eu sabia que Isa não havia me dito nada porque tinha medo da minha reação, e ela estava certa. Secretamente, eu me questionava se Amanda realmente aceitava a profissão de Isa numa boa e até quando a paixão superaria o ciúme. Mas optei por não entrar em detalhes para não arriscar tirar o sorriso bonito do rosto da minha amiga.

A festa rolava há algum tempo, e eu esperava que a aniversariante aparecesse para tomar um drink, mas só a vi mais cedo por alguns segundos. Nossos olhares se encontraram, e parecia que ela viria em minha direção como um foguete, mas subitamente desapareceu entre as convidadas. Enquanto isso, Amanda andava de um lado para o outro, organizando mesas e certificando-se de que não estava faltando nada. Frequentemente parava no bar para saber como estávamos. Era estranho saber que ela era uma cliente da boate, mas confesso que fiquei mais tranquila ao ver a preocupação dela com o bem-estar de Isa.

Gata, vou buscar mais gelo, quer alguma coisa lá de dentro? — Avisei Isa, que estava concentrada preparando um mojito. Ela apenas balançou a cabeça em agradecimento, focada em sua tarefa.

Mais cedo, Amanda me mostrara um freezer na área externa da casa, onde estavam os sacos de gelo e garrafas de destilados, caso as do bar acabassem. Eu não queria deixar Isa muito tempo sozinha ou a fila começaria a dar voltas, mas ao retornar com dois sacos de gelo, notei a porta da cozinha aberta e, ao ouvir uma voz, decidi dar uma espiada.

— Por acaso, você está querendo roubar meu emprego? — Brinquei, ao ver uma mulher picotando um limão de uma maneira um tanto sádica. Seus olhos cor de mel me encararam, e seu rosto ganhou um tom vermelho.

— Não, não. Eu só estou aqui, ahn... lutando com esses limões. — Ela falou, com dificuldade de concluir seu raciocínio.

— Deixa que eu faço para você. — Deixei os sacos de gelo na porta e entrei na cozinha, tirando a faca da mão dela antes que um acidente acontecesse. — É o meu trabalho — Acrescentei, piscando ao perceber sua tensão, como se a tivesse pego em flagrante. — Você não está invadindo a casa, está?

— Não, é claro que não! — Ela respondeu, sem jeito. — Eu moro aqui, é o meu aniversário.

— Eu sei, estou brincando. Tem um monte de fotos suas espalhadas lá fora. — Apontei para o salão de festas enquanto pegava a coqueteleira e o açúcar.

— Amanda é exagerada. — Ela revirou os olhos e estendeu a mão em cumprimento. — Eu sou a Luna, pode me chamar de Lua.

Que coincidência. "Eu também sou da noite", pensei sem querer.

— Muito prazer. — Coloquei os limões já cortados na coqueteleira e sacudi a mistura com gelo e açúcar. A maneira como Luna acompanhava atentamente cada um dos meus movimentos me aguçava. Parecia que ela queria me decifrar, mas eu estava no papel de Estrela, e ali não havia nada para ler.

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