entre fogo e penas []dabihawks[]

entre sombras e verdades☆

A noite tinha caído de vez, e as luzes dos prédios eram agora os únicos faróis na escuridão que envolvia a cidade. O vento soprava frio, mas Dabi não se importava com isso. Para ele, o calor de suas chamas sempre estivera presente, pronto para ser liberado a qualquer momento. Cada passo que ele dava o afastava mais de Hawks, mas as palavras do herói ainda ecoavam em sua mente, mais intensas do que ele gostaria de admitir.

Ele odiava como Hawks tinha a capacidade de mexer com ele. Não era comum alguém se aproximar tanto, se intrometer em seus pensamentos, e isso o irritava. Mas, ao mesmo tempo, havia algo inegável ali. Uma conexão que ele não podia simplesmente ignorar, por mais que quisesse.

Dabi continuou caminhando pelas ruas desertas, seus olhos azuis fixos à frente, como se tentasse se concentrar em qualquer coisa que não fosse o maldito herói. Mas sua mente vagava de volta àqueles momentos, aos encontros anteriores com Hawks, às conversas rápidas, repletas de sarcasmo e provocação, e, principalmente, à maneira como o herói o olhava. Era um olhar que Dabi conhecia bem – um misto de curiosidade e algo mais profundo, algo que ele se recusava a nomear.

Ele se escondeu em um beco, encostando-se à parede de concreto enquanto o brilho de suas chamas diminuía. O silêncio do lugar era reconfortante, envolvente. Fechou os olhos por um momento, tentando silenciar o turbilhão em sua mente.

Mas antes que pudesse se perder completamente naquele instante, uma voz familiar cortou o silêncio.

— Se continuar desaparecendo assim, vão achar que você tá tentando evitar alguém.

Dabi abriu os olhos, e lá estava ele. Hawks, pousado em uma viga de metal a poucos metros de distância, as asas abertas levemente, como se prontas para alçar voo a qualquer momento. Sua expressão era casual, como sempre, mas Dabi sabia que havia mais do que isso.

— O que diabos você quer? — Dabi perguntou, a irritação evidente em sua voz.

Hawks deu de ombros, mas não desceu da viga. — Achei que podíamos conversar um pouco mais. Não é todo dia que um vilão e um herói conseguem ter esse tipo de interação, certo?

Dabi estreitou os olhos, franzindo o cenho. — Conversar? — Sua voz estava carregada de desdém. — Não sou o tipo de cara pra papos casuais, pássaro.

Hawks finalmente saltou da viga, pousando suavemente no chão, como se suas asas o controlassem completamente. Ele caminhou em direção a Dabi, mas manteve uma distância segura, sabendo que qualquer aproximação súbita poderia desencadear uma explosão de chamas.

— Talvez não, mas acho que tem mais em você do que só essas chamas e cicatrizes. — Hawks falou calmamente, seu tom tão casual que parecia desconcertante. — Você sempre fala sobre destruição, caos, mas eu acho que no fundo tem algo que você ainda não queimou.

Dabi riu, um som curto e vazio. — E o que seria? Minha alma? — Ele fez um gesto exagerado com as mãos, como se zombasse da ideia. — Se eu tivesse uma, já estaria em cinzas.

— Talvez — Hawks respondeu, seus olhos âmbar analisando o vilão com cuidado. — Mas algo me diz que você ainda está lutando por alguma coisa. Só que você não quer admitir.

O olhar de Dabi se endureceu, e ele deu um passo à frente, o calor emanando de sua pele como um aviso silencioso. — Você não sabe nada sobre mim, Hawks. Você é só mais um peão nesse jogo. Acha que tá no controle, mas a verdade é que todos nós somos manipulados por alguém. — Sua voz soava como veneno, cada palavra carregada de raiva acumulada.

Hawks não recuou, mesmo sentindo o calor que começava a aumentar ao redor de Dabi. Ele se manteve firme, os olhos fixos nos do vilão. — Você não tá errado. Todos somos manipulados de alguma forma. Mas isso não significa que não podemos escolher como reagir.

Dabi balançou a cabeça, irritado. — Chega de discursos de herói. Não estamos no mesmo lado, pássaro. Eu queimo, você salva. É simples assim.

O silêncio que se seguiu foi denso, quase sufocante. Dabi esperava que Hawks recuasse, desistisse, mas o herói continuou ali, parado, as asas semi-abertas, como se estivesse pronto tanto para lutar quanto para proteger. Havia algo na postura dele que incomodava Dabi profundamente — aquela mistura de firmeza e compaixão que ele não conseguia entender.

— Talvez não estejamos do mesmo lado — Hawks finalmente disse, quebrando o silêncio. — Mas isso não significa que estamos completamente opostos. E eu acho que você sabe disso.

Dabi encarou Hawks, a raiva e a frustração queimando em seus olhos. Ele queria gritar, lançar suas chamas e acabar com aquela conversa de uma vez por todas, mas algo o impediu. Talvez fosse o fato de que, no fundo, ele sabia que Hawks estava tocando em uma verdade que ele se recusava a reconhecer. Talvez fosse a estranha conexão que ele sentia, aquela atração perigosa que os mantinha voltando um para o outro, mesmo quando deveriam ser inimigos.

— Vai embora, Hawks — Dabi finalmente disse, a voz rouca. — Antes que eu mude de ideia e faça o que deveria ter feito desde o início.

Hawks ficou em silêncio por um momento, observando o vilão com uma expressão que era difícil de ler. Então, com um leve aceno de cabeça, ele deu um passo para trás, as asas se abrindo completamente.

— Você sabe onde me encontrar — Hawks disse suavemente antes de alçar voo, desaparecendo rapidamente no céu escuro.

Dabi ficou parado por alguns instantes, observando o herói desaparecer nas sombras da noite. Ele apertou os punhos, sentindo o calor de suas chamas começarem a diminuir. As palavras de Hawks ainda ecoavam em sua mente, e, por mais que ele tentasse ignorá-las, sabia que algo havia mudado naquele encontro.

Ele odiava admitir, mas Hawks estava mexendo com algo dentro dele. Algo que ele não queria que viesse à tona. Algo que ele temia mais do que o próprio fogo que o consumia.

Com um suspiro pesado, Dabi se afastou das sombras do beco, retomando seu caminho. Mas, desta vez, ele sabia que aquela noite não seria fácil de esquecer.

Os encontros com Hawks estavam se tornando mais frequentes, e isso não era um bom sinal.

Mas, no fundo, talvez fosse isso que ele estivesse procurando. Algo que o mantivesse preso à realidade, antes que ele se perdesse de vez nas próprias chamas.