Dois

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Eu não queria aquilo.

Só queria ter a minha estabilidade emocional e psicólogica denovo.

Queria voltar a ser aquela menina que fugia do mundo na biblioteca no centro da cidade, sempre que podia.

Eu podia fazer qualquer coisa...

Eu não tinha mais ninguém.

Por que não voltar a ser quem eu sempre fui?

Ok biblioteca, me aguarde.

(...)

— S/n? Faz muito tempo desde a última vez
que te vi.

— Eu sei. Posso pagar pelo último livro em vez de trazê-lo de volta?

— São dois dólares. — Jenny disse sorrindo, de —
Achei que seriam mais. Foram três anos sem aparecer aqui. — Murmurei.

— Você é especial s/n. — Ela sorriu.

Jenny era melhor amiga da minha mãe antes dela morrer. A mulher beirava uns quarenta anos, mas não tinha má forma.

— Tudo bem. - Falei largando os poucos dólares amassados. — Ah, Jenny...pode me arrumar um café? — Enfiei minhas mãos nos bolsos do casaco.

— É claro.

Acho que Jenny sempre soube o inferno que passava em minha mente.

Acho que toda a bibliotecária sabe.

Uma pessoa precisa estar muito fodida mentalmente pra achar consolo em uma realidade alternativa em apenas papel.

— Desculpa! Eu não estava prestando atenção. — Quase imploro, quando esbarro com tudo em um cara. Ele me lançou um olhar quase mortal e travou seu maxilar antes de seguir até o caixa.

— Só esse? — Jenny perguntou para o loiro que parou em frente ao balcão.

— Sim. — Ele disse simples.

— Tudo bem Vinnie. — Ela falou anotando seu livro. — Traga qualquer dia da próxima semana. — Por fim alcançou o mesmo para o tal Vinnie.

Ele não a respondeu, só saiu vestindo sua jaqueta.
Eu virei as costas e me sentei em uma mesa afastada.

— Aqui. — Jenny me trouxe a xícara de café, depositando-a sobre a mesa.

— Obrigada. — Forcei o mais simpático sorriso.

— O que aconteceu?

— Nada. Por quê? — Fingi.

— Eu não sou idiota, pequenina! — Ela tocou a ponta do meu nariz.

— E sério. Não aconteceu nada.

— S/n.

— Daddy Issues! — Brinquei. — Robert é tão... insuportável. Eu só não quero ter que ver mais a cara dele.

Ela suspirou fundo.

— Vocês brigaram?

— Meio que isso...

— Foi feio? - Ela arqueou uma sobrancelha.

— Sim. - Franzi meus lábios inferiores com uma expressão grave.

— Sabe que tem estadia lá em casa. A Sabrina vai gostar de ter você lá por um tempo.

— Muito obrigada. Mas não posso aceitar. Já tenho dezenove anos, posso arrumar uma casa própria.

— Não se arruma uma casa da noite pro dia, pequenina! Você vai ficar lá em casa até conseguir a sua moradia. E isso não foi uma sugestão! — Ela me dá as costas.

𝗗𝗮𝗱𝗱𝘆'𝘀Onde histórias criam vida. Descubra agora