Enquanto o professor Ferdinando palestra sobre a Revolução Industrial, eu viajo para outras dimensões ainda desconhecidas pelo homem ao mesmo tempo em que meus olhos percorrem as letras rebuscadas do cartão de apresentação de Miguel.
LORD é uma empresa que vem ganhando popularidade por vender produtos adultos de alta qualidade, todas as vendas são feitas pela internet, por isso eu ainda não havia ouvido falar deles até dar uma stalkeada em suas redes sociais. Eles começaram um pouco antes da pandemia e foram fazendo seu nome com o passar dos anos exportando produtos para outros países.
É, não é pouca bosta não. E pensar que eu transei simplesmente com o CEO dessa empresa emergente e que agora ele está querendo que eu seja a dominatrix dele.
Não vou mentir, durante a noite, depois que Camila foi dormir — não sem antes me encher de perguntas —, eu dei uma xeretada na internet e descobri muitas coisas sobre a comunidade BDSM, coisas que me deixaram surpresa e até meio encantada com a possibilidade de fazer parte desse mundo.
Claro, também vi algumas coisas ruins, como a imagem distorcida que os BDSMers têm perante a sociedade graças a certas obras cinematográficas e literárias que modelaram uma cacetada de fetiches só para agradar ao público.
Mas e aí? Aceito ou não a proposta de Miguel?
Não é comum para mim hesitar, então acho que darei uma chancezinha àquele homem bonito e verei o que ele faz em uma sessão BDSM.
— Tá olhando o quê?
Depois que minha alma volta para o corpo, encaro Nando com a mesma cara de ódio que encararia uma barata no meio da madrugada.
— Vou colocar a porra de um sino no teu cu pra ver se tu para de me assustar!
— Ai, calma, mona, você tá muito selvagem hoje!
Ele se senta na minha frente e rouba o cartão das minhas mãos.
— Tá pensando em comprar um vibrador novo, é?
— Não. — Por exatos três segundos, eu penso se devo contar ao meu melhor amigo sobre meu dilema e acabo por suspirar. — Sabe o carinha que eu conheci ontem?
— O cara pra quem você deu no meu da madrugada? Sei sim.
— Então, acontece que ele é o CEO dessa empresa de produtos adultos.
Antes que o grito estridente daquela gay pudesse estourar meus ouvidos, tampo sua boca com uma das mãos.
— Minina! — Ele afasta minha mão de sua boca, seu batom roxo ficou marcado nos meus dedos. — E aí?! Vai sair com ele de novo? Vocês vão, tipo, entrar num relacionamento desses de sadomasoquismo?
— Eu não sei, porra! — Me jogo para trás na minha cadeira.
Paro de pensar por um momento e me permito observar o movimentos dos demais alunos que nada tinham a ver com esses meus dilemas. Onde foi que minha vida começou a se complicar mesmo? Foi com o Igor? O Matheus? A Helen? Eu devo incluir o professor Rafael nessa lista? Acho que sim, afinal, agora com o Miguel já são cinco pessoas que transformaram uma "foda casual" num turbilhão de coisas.
Cinco não, tiveram mais, porém esses não me impactaram tanto quanto esses cinco, mas todos falharam igualmente em uma coisa: fazer com que eu me apaixonasse.
Para mim, era apenas tesão, mas eles, meu Deus do céu, se apaixonaram num nível inacreditável, tanto que nem sei nomear qual foi o pior e, pelo que tudo indica, o Miguel está no caminho certo para copiá-los.
Será aquele tal de amor à primeira vista? Essa merda sequer existe pra começo de conversa? Nunca me apaixonei, e se me apaixonei, provavelmente tive algum trauma que me fez esquecer esse romance. Todavia sei que não vou poder deixar o Miguel esperando por toda a eternidade, tenho que lhe dar uma resposta.
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É BDSM
Roman d'amourO que uma mulher poderia fazer às quatro da manhã de uma segunda-feira? Revisar as anotações de seu trabalho da faculdade? Dormir em sono profundo e pleno? Maratonar aquela série marota? Bem, todas são opções plausíveis, porém, nha, muito batidas, n...