5. Quem tem limite é cartão

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Como diria minha mãe: eu não respondo pelos meus atos quando estou sendo impulsionada pelos hormônios — ela dizia isso sempre que entrava na TPM. Da mesma forma, estou atestando aqui e agora que não correspondo mais pelas minhas ações, e se por acaso eu for parar num tribunal, serei inocentada por incapacidade mental de replicar qualquer argumento.

Por que tudo isso? Porque eu me encontro novamente encarando a fachada do bar Cherry Promise.

Mas calma, pra entendermos o contesto desta minha localização, primeiro é necessário retroceder para as oito da noite de terça-feira.

Eu encarava o buquê de cravos como se ele tivesse encantado minha alma, alternando apenas para o cartão da LORD em minhas mãos. Já havia me decidido, daria uma resposta ao Miguel.

[20:23] Dominique: boa noite, Miguel.

[20:23] Dominique: podemos nos encontrar de novo? Acho que temos algumas coisas para conversar.

Simples e direto, como eu gosto, porém antes que pudesse largar o celular no sofá, ele vibrou nas minhas mãos, indicando que havia recebido uma mensagem e esta era do próprio Miguel — que rápido, Jesus.

[20:24] Miguel: boa noite, senhorita Dominique.

[20:24] Miguel: eu adoraria encontrá-la novamente. Está livre agora?

Agora? Tá com a porra, esse não perde tempo titubeando.

[20:25] Miguel: presumo que seja referente ao meu convite para participar de uma sessão de BDSM.

Errado ele não estava, mas tinha mais algumas coisinhas que nós precisávamos esclarecer.

[20:26] Dominique: não exatamente. Temos que conversar a sério, é só isso que você precisa saber por enquanto.

[20:26] Miguel: entendo. Neste caso, quando gostaria de se encontrar comigo?

E aqui estamos, nove da noite de quarta-feira, um horário razoavelmente anormal para se estar num bar, considerando que estamos literalmente no meio da semana, porém eu não podia adiar mais essa conversa com o Miguel, afinal, não aguentaria se ele acabasse fazendo outra gracinha romântica.

Inspiro o ar gelado para dentro dos pulmões e solto em seguida. Quero deixar bem claro: não estou nervosa, só ansiosa. Sim, pretendo dar minha resposta para o Miguel sobre sua proposta, porém também preciso traçar um limite antes que seja tarde demais.

Com o Igor foi assim, eu apenas deixei as coisas fluírem e, quando me dei conta, já estava tudo emaranhado numa cama de gato infernal.

Mas tenho fé que será diferente — boa frase pra uma ateia pensar.

— Dominique!

A voz chega até mim no meio do frio, calorosa e gentil, e posso até supor que encontrarei um sorriso alegre quando me virar para encarar Miguel.

Sim, aí está o sorriso de canino faltante e lindos olhos caramelados.

Ele estava todo formoso em seu suéter cinza com blusa roxa de mangas longas por baixo, além das calças e calçados da cor preta. Ah, mas hoje eu também caprichei no visual! Estou usando calças jeans de cintura alta, uma blusa azul de manga longa e um casaco branco felpudo.

Viu? Eu sei me arrumar — quando não tenho preguiça.

— Vamos entrar? — ele convida e só então me recordo de que devo dizer alguma coisa.

— Claro.

A beleza desse cidadão mexe diretamente com a minha mente, tenho que tomar cuidado senão vou ficar que nem uma idiota na frente dele.

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