Yang Jungwon é um rapaz amaldiçoado desde seu nascimento, e a única forma de quebrar esse poder tão intenso posto sobre ele, é se apaixonando. Escolhido a dedo pelo Diabo, entornado por demônios de todas as espécies, tem o dom da morte e dá descanso...
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Página 1 - Palavras Frias.
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Naquela época, ele só tinha 22 anos.
Estava sentado na areia. Os pés, cobertos por sapatos de pano, foram encharcados pelo mar salgado, assim como seu rosto pelas lágrimas pesadas que escorriam de seus lumes castanhos. Eu senti o cheiro de remédios, e ainda não tenho certeza se vinha mais dele ou da entidade que o acompanhava.
Não era forte, mas entregava uma segunda tentativa de overdose sem sucesso.
Por um momento, me questionei se abrir uma exceção não seria de todo ruim e assim eu poderia entregar o que ele tanto procurava.
Eu pude. Porque eu sou o que ele procurava.
E não fiz. Porque eu não sou o que o Diabo quer que eu me torne.
Aquela ideia mudou em questão de segundos quando suas orbes encontraram as minhas no meio da quase completa escuridão da noite. Havia apenas um poste de luz próximo, amarelado, piscava vez ou outra, mas era escasso.
Quando ele sorriu pequeno e amistoso em minha direção, como se estivesse esperando por mim há horas e eu fosse um amigo próximo, capaz de ampará-lo, senti tudo desmoronar sob meus pés.
Eu não sabia o que aquele simples sorriso queria dizer. Nunca havíamos nos visto antes. Mas era bonito.
Por que ele sorriu para mim? Por que ele me entregou aquele sorriso perfeito, fez eu me apaixonar apenas para lembrar constantemente agora e sofrer todos os dias?
Não faço a mínima ideia. Não consigo entender.
No entanto, quando menos percebi, eu também me deixei banhar os pés. Me deixei esfriar um pouco mais a pele. Deixei meus pensamentos se bagunçarem e meus dedos se esconderem no casaco que usava naquela noite. Me aproximei do rapaz, parando ao seu lado, encarando pelo rabo de olho a expressão torta do demônio, que me observou com o mais puro desprezo.
Caramba, era a única expressão que ele devia ter.
Estranhamente, me encantei por aquele humano tão sofrido. Meu coração bateu apressadamente no peito. E o frio na barriga, arrepios na pele, não eram causados pelo vento cortante da maré.
Era tudo muito novo e eu não sabia identificar o que era aquela onda de calor e estranhezas que passaram por todas as minhas veias. Eu quase entrei em combustão. As coisas ao redor pareciam estar pesando sobre mim e eu sequer conseguia respirar corretamente.
Mas, então, eu escutei sua voz pela primeira vez. Ela era bonita, rouca, arrastada, doce e morna. Ornava com seu rosto, seu cabelo, seu corpo, seu cheiro... seus lábios.
Tudo o que ninguém tinha. E menos do que ele mesmo poderia saber.
