CAPÍTULO 2

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Pov Luiza

Luiza não poderia ter ficado mais surpresa ao descobrir que Valentina estava a poucos metros de distância durante todo aquele tempo e ela nunca percebeu. Quer dizer, Valentina não era o tipo de mulher que passava sem ser notada. Luiza tinha certeza de que se a tivesse visto em qualquer lugar, viraria o pescoço para olhar novamente. Assim como fez naquela tarde. Quando a viu pela primeira vez, sua atenção voltou-se instantaneamente para aqueles olhos verdes e sorriso travesso. Valentina estava falando alguma coisa para Roger, sorrindo e dando um soquinho no braço dele, quando ela chegou. Luiza ficou sentada por alguns segundos no banco do carro admirando a cena. Bem, admirando a mulher. Ela tinha uma altura mediana, pele extremamente clara e cabelos castanhos. Constantemente, Luiza voltava o olhar disfarçadamente em direção à Valentina, e se encantou ao notar as bochechas vermelhas do esforço ao subirem o morro. Imaginava que estivesse próxima dos trinta anos, mas quando sorria, emanava uma energia mais jovial, de quem acabara de entrar na casa dos vinte. Julgou que talvez ela fosse namorada de Roger, mas depois da conversa que envolveu Valentina referindo-se a ela como "mulher bonita", ficou claro que estava errada. Luiza ficava inquieta e ansiosa perto dela, mas não conseguia evitar de aproximar-se sempre que uma oportunidade surgia. Sua mente estava sempre consciente do lugar onde Valentina estava, mesmo que não estivessem conversando ou fazendo contato visual. Parecia que havia um radar dentro de si, sempre a procura dela. E Luiza sabia que isso não podia acontecer. Precisava se controlar. Precisava parar o que quer que estivesse acontecendo. E alguma coisa estava acontecendo.

Chegou a essa conclusão segundos antes de virar a dose de tequila, quando Valentina olhou para os seus lábios e Luiza precisou conter a vontade de passar a língua por eles, umedecendo-os. A bebida desceu queimando sua garganta e liberou um arrepio de reprovação quando chegou ao estômago. Sabia que precisava sair dali. Rápido. O restante do grupo estava em volta de Igor, pedindo músicas, gritando e cantando refrões errados. Sentiu os ombros relaxarem depois de um tempo, e as pernas começarem a amortecer. Recusou-se a tomar mais uma gota sequer de álcool. A última coisa que precisava era uma ressaca no meio do nada, sem um banheiro e um chuveiro. Valentina havia se afastado, quando Roger a chamou insistentemente para ir ao "banheiro". "Nem a pau que ele iria se enfiar no matagal sozinho e dar de cara com a Bruxa de Blair", foi o argumento que usou. Valentina precisou segurar em um dos braços para fazê-lo andar em linha reta até a saída mais próxima. Na garrafa de tequila, havia apenas mais dois dedos do líquido transparente. O violão descansava esquecido, encostado no tronco que antes estavam todos sentados. Música tocava no celular de alguém, e Marcelo, Igor e Maya cantavam alegremente, usando pedaços de madeira para simular os microfones. Quando Valentina voltou, Maya a puxou pela mão para juntar-se à banda. Luiza não pôde deixar de sorrir, quando ela passou a liderar o grupo de talentos e separar os cantores em primeira e segunda voz. Não conseguia imaginar do que Valentina seria capaz se bebesse. Depois de três músicas, Valentina aproximou-se, com o rosto corado e um sorriso enorme estampado no rosto. Luiza apreciou cada segundo que ela usou para chegar até onde estava sentada. Valentina agachou-se em sua frente e segurou-a pela mão. O toque fez seu braço todo esquentar.

— Estamos precisando de um baterista. — Falou, com a voz alegre, sem tirar o sorriso do rosto. — Estamos prestes a começar uma turnê mundial, e não podemos sair do Brasil sem a nossa baterista. Você entende que como dona da banda, estou em uma situação delicada, não é?

— Não posso ser a guitarrista? — A boca de Luiza curvou-se por vontade própria em um sorriso. — Faz mais meu estilo, eu acho.

— Você pode ser o que você quiser. — Valentina falou, levantando-se e puxando-a pela mão. Quando Luiza enfim ficou em pé, uma leve tontura em razão da bebida passou por ela e Valentina a segurou com firmeza. — Você está bem? — O sorriso sumiu.

Não prive o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora