CAPÍTULO 5

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Pov Luiza

O restante do dia passou sem que ela envergonhasse a si mesma. Conseguiu manter os olhos longe de Valentina, na maior parte do tempo, pelo menos. A imagem do corpo seminu não saía da sua cabeça e ela frequentemente precisava afastá-la da sua mente. Em algumas ocasiões, precisava sacudir a cabeça para apagar a cena. Quando a escuridão começou a levantar das profundezas da floresta, Maya iniciou seu cântico de ordens e todos começaram a obedecer sem questionar. Parecia-se muito com um ritual, se olhasse de longe e colocassem uma música instrumental para tocar, as sombras do fogo dançando sobre os corpos em movimento, cada um sabia qual era a sua parte, cada um tinha um ritmo próprio. Luiza sorriu internamente quando pensou em fazer sons de batuques, mas mudou de ideia quando viu Maya andando em sua direção. Rapidamente, olhou em volta à procura de algo para ocupar as mãos. Pegou alguns gravetos e começou a empilhar nos braços. Respirou aliviada quando viu a amiga passar por ela e embrenhar-se na mata.

— Eu acho perigoso a Maya ficar andando sozinha na mata, nessa escuridão. — Luiza falou, quando chegou perto de Valentina. Ela estava mexendo dentro de uma bolsa térmica, que ficava no lugar onde eles guardavam os alimentos.

— Sinta-se à vontade para dizer isso a ela. — Valentina levantou o rosto em sua direção. — Na verdade, te pago vinte reais se você fizer qualquer crítica sobre como ela se comporta nesse ambiente. — Sorriu maldosamente. — Só me avise antes, para que eu possa registrar o momento de ternura.

— Esse é o seu jeito carinhoso de dizer que é melhor eu não me meter? — Luiza lançou um olhar para dentro da bolsa em busca de qualquer que fosse o item desaparecido que Valentina estava procurando com tanto afinco.

— Oh, não. Isso não tem nada a ver com o que eu falei. — Começou a remexer as mãos com mais impaciência. — O que eu disse é que você deve expressar preocupação pela sua amiga, e, ainda será paga por isso. — Levantou triunfante uma caixinha de achocolatado, com um canudo grudado na embalagem. — Agora sim, a bebida dos deuses. — Começou a andar em direção à sua barraca. — Você precisa entender que a Maya é o tipo de pessoa independente e individualista. Não gosta de críticas ou opiniões, mas quando ela precisa de qualquer um dos dois, não tem vergonha de pedir. — Entrou em sua barraca e Luiza imaginou se estava esperando que ela entrasse também. De jeito nenhum ficaria com Valentina sozinha em um espaço tão pequeno e íntimo. Suas dúvidas morreram quando Valentina saiu com uma xícara na mão e começou a despejar o líquido da caixa lá dentro. Jogou a caixinha vazia em uma sacola que eles usavam para colocar o lixo e tomou um grande gole. Luiza resolveu não questionar a esquisitice daquilo.

— A reação dela é tão ruim assim? — Sentaram-se de frente para a fogueira. Roger e Marcelo já estavam lá. Igor não estava em nenhum lugar que Luiza pudesse ver. — Eu bem que poderia fazer uso de vinte reais. — Franziu a sobrancelha, ponderando as vantagens que aquilo poderia lhe trazer.

— Você precisa descobrir do modo tradicional. — Valentina respondeu, satisfeita.

— Hoje é a sua vez de tocar. — Roger falou para Valentina. — Igor ainda está de ressaca e se recusa a sair da barraca. — Luiza notou que a notícia foi dada com alegria exagerada. Ou Valentina tocava muito bem, ou Roger não gostava muito de Igor.

— Só vou tocar três. — Falou, sem olhar para ele. — Você não sabe a hora de parar. Acha que é algum cafetão que pode ficar exigindo as coisas sem se importar com o custo delas. Da última vez, meus dedos quase sangraram.

— Cada um pode pedir três músicas? — Marcelo perguntou. — Preciso pensar com sabedoria. — Uniu as sobrancelhas para se concentrar.

— Não. Três músicas no total. — Deu um gole na sua bebida. — Cheguem a um consenso.

Não prive o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora