CAPÍTULO 6

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Pov Roger

Discretamente, Roger aproximou a mão de Marcelo. Estavam lado a lado, ouvindo Valentina cantar. Tudo parecia possível ali. Não podia negar que o clima que se instalou na clareira facilitava a romantização de qualquer coisa. Deveriam proibir aquela mulher de cantar perto de pessoas que tinham amores platônicos. Deu uma olhada em volta e concluiu que não era o único com problemas sentimentais ali. Com exceção de Valentina, todo o resto parecia traumatizado de alguma maneira. Se ela não estivesse cantando, Roger tinha certeza de que se juntaria ao time. Maya estava com as pernas cruzadas, encarando a ponta dos dedos, que estavam cruzados, e os lábios levemente apertados. Marcelo estava ali, todo perfeito e cheiroso, com o olhar perdido para o céu. Queria saber o que estava pensando. Ou em quem. Considerou que o fato dele não estar encarando a barraca onde Igor estava já era um bom sinal. Luiza parecia ter sido atingida por algum veículo em alta velocidade e estava tentando descobrir para onde ele tinha ido. E Roger, que não tinha um amor de verdade, mas tinha uma paixão. O problema da música é esse. Ela intensifica demais os sentimentos. Está triste? Coloque uma música de acordo e vai parecer que ligou aquele sentimento na tomada. Está feliz? Confuso? A receita é universal. Não está sentindo nada? Escute Jorge e Mateus e seus problemas acabam. Ou começam, depende do ponto de vista.

Fingiu que precisava mudar de posição e passou a mão pela mão de Marcelo. Ele não pareceu notar, então Roger podia abusar mais um pouco. Segurou no braço dele, quando "precisou" se levantar para achar um lugar mais confortável. Sentou-se no mesmíssimo lugar. Isso pareceu chamar a atenção de Marcelo.

— Está tudo bem? — Perguntou, baixinho. Sempre tão atencioso, Roger sorriu internamente.

— Sim. Minha bunda está doendo, a sua não? — Claro que ele precisava falar de bunda. Precisava se conter, pensou divertidamente.

— Um pouco. Quer levantar para ver se melhora? — Olhou em volta. — Eu preciso mesmo fazer xixi. Toda essa água está cobrando o seu preço. Não deveríamos ter bebido tanto ontem.

— Falamos isso todas as vezes. — Roger apoiou a mão no joelho de Marcelo e levantou-se. — Eu te acompanho.

— Onde vocês estão indo? — Maya perguntou. — Se forem ao banheiro, também quero. — Que ótimo. Claro que ele não poderia ir sozinho para o mato com aquele homem. Valentina largou o violão e se juntou ao grupo.

— Luiza? — Roger perguntou, desgostoso... — Quer ir também?

— Não, obrigada. Eu vou ficar cuidando dos marshmallows. — Levantou o graveto que estava caído perto da fogueira. Na ponta, marshmallows carbonizados pendiam tristemente.

— Hum, devem estar uma delícia. — Valentina falou, com uma falsa animação. — Mal posso esperar.

Luiza apertou os lábios, segurando um sorriso. Rapidamente, Roger analisou o perfil dela. Com certeza era alguém por quem Valentina se interessaria. Esteticamente falando, já que duvidava que elas tiveram tempo de se conhecer a fundo. Lançou um olhar para Valentina, mas nenhuma análise foi feita, porque naquele momento ela o atingiu com um tapa na nuca.

— Está esperando um convite por escrito, princesa? — Sorriu, maldosamente, satisfeita com o barulho que o tapa provocou. — Tinha um mosquito.

— Me deixe em paz. — Acariciou o local que recebeu o golpe. — Meu Deus, você é muito bruta. Desse jeito, homem nenhum vai gostar de você.

— Não fala assim, que eu nem durmo à noite de preocupação. — Fez biquinho e se embrenhou na mata.

— Essa independência toda também não ajuda o seu desempenho com o sexo masculino. — Roger foi logo atrás, e precisou desviar do galho que quase acertou o seu rosto. — Pare de soltar esses galhos em mim. Eu estou falando sério, Valen, isso dói. — Lembrou que Marcelo estava atrás dele e se esforçou para não parecer um bebê chorão. — Você sabe que tenho alta resistência à dor, mas hoje eu estou de ressaca. — A resposta de Valentina foi uma risada debochada. Roger apressou o passo, porque não conseguia mais ver onde a amiga estava. Morria de medo de se perder por ali. Acalmou-se um pouco quando lembrou que Maya estava na retaguarda. Depois de alguns instantes, conseguiu enxergar o cabelo castanho de Valentina, alguns passos à frente.

Não prive o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora