CAPÍTULO 4

44 7 1
                                    

Pov Valentina

Durante a manhã, Valentina viu os integrantes do grupo deixarem suas barracas de forma dessincronizadas, com feições de quem havia acabado de voltar de um massacre de animais em meio a uma plantação clandestina. Ninguém permaneceu mais de vinte minutos ao ar livre antes de voltar correndo para a proteção dos seus cobertores, devidamente medicados.

Ela e Luiza passaram boa parte da manhã arrumando a bagunça deixada pelos cantores embriagados da noite anterior. Valentina foi dormir cedo, mas sabia que a bagunça continuou madrugada adentro. Fizeram o máximo possível para deixar a clareira limpa e organizada e quando chegou perto do meio-dia, começaram a preparar o almoço. Cozinharam algumas coisas práticas que haviam levado. Salsicha e macarrão instantâneo foi o cardápio refinado da vez. Ficar perto de Luiza era fácil e frequentemente se pegava sorrindo das coisas que ela falava. Percebeu que Luiza não ficava mais que dois minutos parada e já estava atrás de alguma coisa para fazer, fosse organizar a caixa térmica ou mexer as pernas rapidamente, fazendo os pés baterem no chão enquanto estava sentada.

— Você está impaciente? — Valentina perguntou, quando Luiza batucava os dedos no queixo. — Está com pressa de ir embora?

— O quê? — Luiza perguntou, sem entender.

— Você está parecendo um animal enjaulado. — Valentina falou, tentando não soar ríspida.

— Ah. — Luiza parou de bater os dedos. — É a ansiedade. Eu te falei que quando não uso branco piora. — Sorriu, tentando fazer com que parecesse uma brincadeira.

— Como é isso? Ser ansiosa? — Valentina perguntou, colocando a mão sobre a perna que Luiza começou a balançar, sem perceber.

— Não é legal. — Luiza desviou os olhos, incomodada. — Eu não sou diagnosticada com ansiedade, é mais um palpite meu.

— Certo. — Valentina não iria insistir. — Acho que nosso banquete está pronto.

Serviram-se e se sentaram lado a lado para comer. O dia continuava nublado, mas não estava tão frio quanto antes. A neblina havia se dissipado, e agora era possível ver todo o verde que as cercava e o contorno branco do céu que o rodeava. Um arrepio de satisfação percorreu o corpo de Valentina. Ela se arrepiava muito quando estava em lugares assim. Quando acabaram de comer, levantou e foi buscar uma muda de roupa e uma toalha.

— Você vem? — Perguntou para Luiza que a encarava.

— Onde? — Luiza olhou com atenção o conteúdo que Valentina carregava nos braços.

— Tomar banho. É o melhor horário. O mais quente que teremos hoje. — Sorriu, contente e encheu os pulmões de ar.

— Tomar banho? — Luiza perguntou, descrente. — E onde você pretende fazer isso?

— No rio, onde mais? — Valentina respondeu, como se fosse óbvio. — Espera, você pretende ficar dois dias sem tomar banho?

— Não. — Luiza respondeu, envergonhada. — Eu trouxe lenço umedecido.

— É uma opção também. — Valentina concordou, não muito convencida. — Bom, eu já volto, então.

— Está fazendo, sei lá, uns dez graus. — Luiza começou a andar atrás dela. — Você vai morrer congelada.

— Eu já enfrentei temperaturas muito mais baixas para ter a sensação de corpo limpo e alma livre. — Valentina sorriu.

— Não é perigoso você ir até lá sozinha? — Luiza continuava seguindo-a pela trilha.

— Não. Não é longe e não tem ninguém por aqui. — Valentina virou-se para Luiza. — É a sua última chance de pegar uma toalha e tirar o cheiro de fumaça do cabelo.

Não prive o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora