CAPÍTULO 3

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Pov Roger

A terceira guerra mundial estava acontecendo dentro de sua cabeça e tudo que Roger queria era achar uma bandeira branca para acabar com aquilo. Aproximou-se do acampamento e viu Valentina e Luiza afastarem-se rapidamente uma da outra quando perceberam que ele estava chegando. Estranho. Roger não entendia as mulheres. Não era exagero, ele realmente não as entendia. Era o melhor amigo de Valentina desde os seis anos e passou a metade da vida sem compreender as coisas que ela dizia ou fazia. Mulheres simplesmente têm a mente complicada demais. Estão sempre pensando e pensando. Ruminando coisas que, ou não conseguem resolver, ou que podem resolver, mas não querem porque são complicadas demais. Sabia que se dissesse isso em voz alta no meio de três delas, seria apedrejado, mas ele realmente não tinha inteligência o suficiente para acompanhar o raciocínio delas. Já falou várias vezes para Valentina que o que falta para o sexo feminino é mais diversão. Bares, esportes, menos preocupação com a aparência e muito menos competitividade entre si. Homens não se xingam pelas costas, não ficam competindo para ver quem é mais bonito ou mais inteligente, e com certeza não diminuem um ao outro no processo. Não ficam ferindo a reputação sexual, pelo contrário, ficam orgulhosos uns dos outros e comemoram em alto e bom som. Claro que nem todas as mulheres e homens são assim, mas Roger tinha desistido de separar em categorias. Agora mesmo, Valentina e Luiza poderiam muito bem estar em uma briga silenciosa de olhares, para provar quem seria o alfa da matilha, ou estarem marcando uma viagem para fora do país. Conhecendo sua amiga, tentaria a sorte na segunda opção, mas nunca se sabe. Valentina era o ser humano mais incrível que Roger conhecia. Poderia escrever um livro contando todas as excentricidades da amiga. Gostava de mato, odiava insetos. Meditava, mas brigava no trânsito. Era um poço de paciência, mas virava um cão raivoso quando o assunto era mexer em sua comida. Em dias pares, não usava meia branca. Não conseguia colocar nada que não fosse de vidro ou metal na boca. Em festas de criança, levava seu próprio garfo para não precisar comer com o descartável e no de aniversário de cinco anos do primo de Roger, a coisa não acabou bem, quando uma criança pegou o garfo do bolso dela e enfiou no braço do coleguinha. Poderia fazer isso o dia todo e não citaria todas as esquisitices daquela garota. Ele até adotou algumas para si.

Parou no meio das duas mulheres e pensou em fazer outro café para Valentina, mas desistiu quando viu Luiza começar a levantar o fogareiro e colocar mais água para esquentar. Valentina parecia desorientada, sem saber o que fazer com as mãos e onde fixar o olhar.

— Está melhor? — Roger estava acostumado a amparar a amiga em momentos como esse. Certa vez, uma aranha caranguejeira estava dentro do banheiro de Valentina e eles foram parar no hospital. Para ser sincero, Roger também precisou ser atendido. Valentina passou uma semana na casa dele porque ninguém sabia onde a aranha tinha ido parar e só voltou para a sua própria casa depois que uma empresa de dedetização passou por lá. Em sua defesa, a aranha estava mais para um caranguejo bombado do que para qualquer outra coisa. Com certeza ela tinha bíceps sarados de tanto carregar aquele corpão peludo. Valentina apenas balançou a cabeça. — Ótimo. Você viu aquela bolsinha sacana de remédio por aí? — Olhou em volta, sem sucesso.

— Eu acho que deve estar com a Maya. — Valentina falou, depois de limpar a garganta. — Vou dar uma olhada para você.

— Obrigado. — Roger ficou observando-a se afastar. Olhou para a barraca onde estavam Igor e Marcelo e seu coração apertou. Fazia uns dois meses que se deu conta de que estava apaixonado por Marcelo, e como ele não sabia que tipo de bizarrice acontecia entre Igor e ele, não fez questão de investir. Apenas suspirava de longe e passava a mão pelo abdômen firme de Marcelo sempre que possível. Mas estava ficando cada vez mais difícil ignorar a pontada no coração toda vez que pensava nele. Valentina falou que ele deveria arrastar Marcelo para o meio do mato e ser honesto. Até parece. Por que facilitar se ele podia sofrer em silêncio, se afogando em desespero? Não iria correr o risco de ser rejeitado por alguém que nunca havia encontrado fora dali e que provavelmente era comprometido.

Não prive o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora