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Alice Veiga

Depois que Nathalia saiu batendo a porta, a tensão na sala ainda parecia pairar sobre nós. Eu tentei me acalmar, mas o desconforto daquela cena ficou comigo. Me sentei de volta no sofá, abraçando a manta para afastar o frio, enquanto todos na sala começavam a despertar devagar.

— Que manhã, hein? — Raphael resmungou do chão, esfregando os olhos. Eu nem sabia como começar a explicar tudo para ele.

Antes que qualquer conversa pudesse fluir, meu celular vibrou no bolso da manta. Eu o tirei, surpresa ao ver que era uma ligação dos Estados Unidos, da minha chefe, Julie. Trabalhei como babá para a família dela enquanto morava lá, e achei estranho receber uma ligação tão cedo, considerando o fuso horário.

— Alô? — atendi, tentando manter a voz firme, mas algo na pressa do momento me deixou inquieta.

— Alice, bom dia. Espero que esteja tudo bem — começou Julie, com um tom mais formal do que de costume. Um frio percorreu minha espinha.

— Tudo bem sim, e com você? — respondi, me esforçando para manter a calma.

— Bem, eu queria conversar sobre algo um pouco delicado — ela continuou, hesitando. — Recebi uma mensagem que me deixou preocupada. Não sei como dizer isso, mas... parece que a Nathalia falou com a gente.

Meu coração acelerou. Nathalia? Como assim?

— Ela... falou o quê? — perguntei, sentindo um nó se formar no estômago.

Julie suspirou do outro lado da linha, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.

— Ela disse que você estava envolvida com o ex-namorado dela, Richard. Comentou que viu vocês juntos e... insinuou que isso poderia afetar o seu trabalho, especialmente cuidando da nossa bebê.

Eu mal conseguia acreditar no que estava ouvindo. Nathalia tinha levado a briga pessoal para outro nível, e agora estava interferindo no meu trabalho.

— Isso não é verdade! — exclamei, me levantando do sofá, sentindo a raiva subir. — Julie, eu nunca misturaria essas coisas. Não tem nada entre mim e o Richard. A gente só passou a noite com amigos, foi só isso.

— Eu acredito em você, Alice — Julie disse, tentando me tranquilizar, mas o desconforto na voz dela era claro. — Mas com toda essa situação, eu e o Dan conversamos e achamos melhor procurar outra pessoa para cuidar da nossa filha. Não é nada pessoal, é só que queremos evitar qualquer tipo de confusão para a bebê.

Fiquei em choque. Não era possível que isso estivesse acontecendo. Meu trabalho nos Estados Unidos era uma parte importante da minha vida, e agora Nathalia tinha arruinado tudo com uma mentira.

— Julie, por favor... — tentei argumentar, mas ela já parecia decidida.

— Alice, eu sinto muito. Realmente sentimos. Mas decidimos seguir outro caminho. Espero que você entenda — ela finalizou, e antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, desligou.

Fiquei ali parada, com o celular na mão, sentindo a raiva e a frustração crescerem dentro de mim. Raphael, Gabriely, Endrick e Richard já tinham percebido que algo sério tinha acontecido, e me olhavam com preocupação.

— O que houve, Alice? — Raphael perguntou, se levantando do chão e caminhando na minha direção.

— Foi a Nathalia — eu disse, minha voz saindo mais fria do que eu pretendia. — Ela ligou para a minha chefe e disse que eu estava com o Richard. Agora, eu perdi meu trabalho.

Todos ficaram em silêncio por alguns segundos, processando o que eu havia dito.

Richard deu um passo à frente, visivelmente tenso.

— Alice, eu... sinto muito. Isso nunca deveria ter acontecido. Eu não imaginava que Nathalia iria tão longe — ele disse, passando a mão pelos cabelos, claramente frustrado com a situação.

Eu balancei a cabeça, tentando afastar a sensação de injustiça.

— Não é culpa sua, Richard. Mas é incrível como as pessoas conseguem destruir a vida dos outros por pura mesquinharia.

Endrick me olhou com um misto de solidariedade e raiva.

— Isso não vai ficar assim. Ela não pode fazer isso com você, Alice — ele disse, seu tom mais sério do que o habitual.

Raphael se aproximou e colocou a mão no meu ombro.

— A gente vai resolver isso, Alice. Não se preocupa. Mas, por agora, tenta relaxar. Vamos dar um jeito nessa confusão.

Eu apenas assenti, embora soubesse que aquela situação não seria resolvida tão facilmente. Nathalia tinha conseguido mexer com algo que era importante para mim, e eu não sabia como reverter o estrago.

Olhei para o celular em minhas mãos, ainda tentando entender como minha vida tinha virado de cabeça para baixo tão rapidamente.

"Bom, que comece a guerra", pensei.

Lisboa, Entre Nós, Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora