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Alice Veiga

A raiva fervia em mim como um vulcão prestes a explodir. Eu mal conseguia pensar direito. A ligação de Julie ainda ecoava na minha mente, e cada segundo que passava só aumentava a minha vontade de confrontar Nathalia. Ela tinha atravessado todos os limites. Tinha mexido com o que eu mais prezava, o meu trabalho, e isso era imperdoável.

Raphael, Gabriely e Endrick tentaram me acalmar, mas não havia nada que eles pudessem dizer que apagaria o que Nathalia tinha feito.

— Alice, não vai lá — Raphael disse, tentando me impedir quando eu já estava quase na porta, jogando uma jaqueta por cima do pijama. — Ficar com raiva só vai piorar as coisas.

— Piorar? — eu retruquei, a voz cheia de frustração. — Ela já destruiu o que eu tinha nos Estados Unidos. Eu vou lá sim, e ela vai ouvir tudo que merece!

Richard me olhou com uma expressão de culpa.

— Alice, eu sinto muito. Eu juro que não queria que você se envolvesse nesse drama, mas... — ele começou, mas eu o interrompi.

— Não é sua culpa, Richard. É dela. E ela vai me pagar por isso.

Antes que qualquer um deles pudesse me segurar, saí porta afora, sentindo o ar fresco do lado de fora me dar uma sacudida, como se fosse o prelúdio da tempestade que eu estava prestes a causar. Peguei o carro, acelerando em direção ao apartamento de Nathalia. A raiva estava no volante, guiando cada pensamento, cada curva.

Cheguei à casa dela em questão de minutos. Eu sabia que estava exagerando, mas algo dentro de mim gritava por justiça. Desci do carro rapidamente e caminhei até a porta do prédio. Apertei o interfone com força, e a voz irritada de Nathalia ecoou pelo alto-falante.

— Quem é?

— Sou eu, Alice. Abre essa porta agora — respondi, o controle que me restava se esvaindo. Ela hesitou por um momento, mas logo ouvi o clique da porta se destravando.

Subi as escadas apressadamente até o apartamento dela. Quando Nathalia abriu a porta, parecia estar prestes a falar algo, mas eu a interrompi antes que qualquer palavra saísse da boca dela.

— Que tipo de pessoa você acha que é, Nathalia? — comecei, a voz saindo mais alta do que pretendia. — Você destruiu o meu trabalho! Foi até os Estados Unidos enfiar suas mentiras e conseguiu com que eu fosse demitida!

Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa com a minha fúria. Mas, ao invés de parecer arrependida, ela apenas cruzou os braços e assumiu uma postura defensiva.

— Eu fiz o que tinha que fazer — ela disse, com uma frieza que só me deixou mais furiosa. — Achei que você fosse uma babá mais responsável, mas pelo visto não é bem assim, né?

— Eu nunca misturei minha vida pessoal com meu trabalho! — retruquei, dando um passo à frente. — Você veio até mim hoje de manhã, viu uma cena que mal entendeu e agora acha que tem o direito de interferir na minha vida? Você foi longe demais!

Nathalia riu, uma risada amarga e cheia de desprezo.

— Não fui eu que estava de pijama, toda confortável ao lado do meu ex, Alice. Não me venha com essa de inocente. Eu sei o que vi.

Eu podia sentir meu sangue fervendo a cada palavra dela. Nathalia não estava nem um pouco arrependida. Ela achava que tinha todo o direito de fazer o que fez, de arruinar minha vida profissional por pura mesquinharia.

— E isso te dá o direito de destruir meu trabalho? — gritei. — Você perdeu a cabeça! Tá jogando toda sua raiva em cima de mim por causa do que aconteceu entre você e o Richard, mas eu não tenho nada a ver com isso!

Ela deu um passo à frente, me encarando com um olhar cheio de desprezo.

— Você se enfiou na minha vida no momento que ficou com ele. Se acha que vou ficar quieta, está muito enganada.

Aquilo foi o limite para mim. Eu avancei, sem pensar. Minha mão já estava erguida, pronta para fazer algo que eu sabia que ia me arrepender depois, mas Nathalia conseguiu segurar meu braço no último segundo.

— Não se atreva, Alice — ela sussurrou, seus olhos brilhando de raiva.

Eu a encarei por alguns segundos, respirando com dificuldade. A raiva me consumia, mas, naquele instante, algo dentro de mim hesitou. A ficha começou a cair. Eu estava prestes a cruzar uma linha da qual não havia retorno. Eu nunca tinha sido esse tipo de pessoa.

Afastei meu braço lentamente, meu coração ainda batendo forte no peito. Nathalia me olhava com uma expressão que misturava desprezo e uma pequena dose de triunfo, como se ela tivesse ganhado. Respirei fundo, tentando me acalmar.

— Isso não vai acabar aqui, Nathalia — murmurei, com uma voz mais controlada, mas ainda carregada de frustração. — Eu não vou deixar você sair impune.

Ela sorriu, um sorriso que só serviu para aumentar minha raiva, mas eu me virei e fui embora antes que fizesse algo que realmente me arrependeria.

Desci as escadas rapidamente, sentindo o ar do lado de fora me acalmar um pouco. Entrei no carro, minhas mãos ainda tremendo de raiva, e dirigi de volta. Eu sabia que isso não tinha acabado, mas agora eu tinha uma clareza diferente.

Nathalia tinha feito seu movimento, mas eu também sabia que era forte o suficiente para me levantar, mesmo que ela tivesse tentado me derrubar.

Lisboa, Entre Nós, Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora