Prólogo

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Eu vi minha família inteira sucumbir pelas más decisões de meu primo Viserys. Ele foi fraco, permitiu que as cobras verdes infestassem nosso jardim, e isso causou a morte de todos os meus entes queridos, inclusive a minha. Quando caí com Maelys na batalha contra Aegon e Aemond, pensei que aquele seria meu fim. Um fim digno de uma Targaryen, morreria com honra em cima de minha velha amiga, meu dragão leal. Mas os deuses tinham outros planos para mim.

Quando o breu tomou conta da minha visão, uma luz surgiu logo em seguida. Era como se eu estivesse em pé diante de um espelho, vendo toda a minha vida refletida ali. Vi também a vida de Rhaenyra, a única filha de Aemma e Viserys que sobreviveu. Vi desde quando ela era um bebê até se tornar a mulher forte que sempre admirei, mesmo que eu não admitisse.

Eu confesso, morri ainda ressentida. A morte do meu filho, Laenor, sempre foi uma dor que carreguei, e por muito tempo, culpei Rhaenyra por isso. Acreditei que ela havia manchado o nome dele, que aqueles bastardos que carregava eram a prova de sua traição. Mas ali, diante daquele espelho que me mostrava verdades que eu nunca quis enxergar, percebi o quão tola eu fui. Os filhos de Rhaenyra eram, de fato, de Laenor. Ela não mandou matá-lo, como eu pensei. Pelo contrário, ela o amou tanto que forjou sua morte para que ele pudesse ser livre, viver a vida que desejava, ao lado de quem realmente amava.

A culpa tomou conta de mim. Eu, que sempre me orgulhei de minha sabedoria, fui cega. Eu, Rhaenys Targaryen, a mulher que deveria ter apoiado minha sobrinha, dei as costas para ela. Eu a julguei, a condenei em meu coração, sem ao menos lhe dar uma chance de se explicar. Rejeitei os netos que ela me deu, três lindos meninos que, no fundo, eu sabia que Laenor teria amado com todo o coração. Como pude ser tão tola?

Acreditei nas mentiras, nas intrigas dos dissimulados que nos cercavam. Eles plantaram dúvidas em meu coração, e eu, sem perceber, cultivei essas dúvidas até que se transformaram em ressentimento. Agora, com o peso da verdade diante de mim, vejo o quão errada fui. Rhaenyra, minha sobrinha, que tanto amou meus filhos, que sempre buscou o melhor para eles, foi a quem eu virei as costas. E agora, aqui, diante de meu destino, percebo que não sei se algum dia poderei me perdoar por isso.

Eu morri em batalha, defendendo o direito de Rhaenyra ao trono, mas não porque a apoiava por completo. Eu o fiz porque, se Rhaenyra ascendesse ao trono e o passasse para Jacerys, Baela, minha neta, seria rainha um dia. Meu neto, Jacerys, embora na época eu o visse apenas como um bastardo, era o herdeiro que me ligava àquele futuro. A verdade é que minhas motivações não eram puras, eram movidas por ambições e ressentimentos que só mais tarde entendi completamente.

Quando caí, com Maelys sob mim, senti o peso da derrota e do arrependimento começando a consumir minha alma. A dor de perceber meus erros me esmagava. E então, em meio à escuridão que me cercava, senti uma mão suave pousar em meu ombro. Virei-me e vi uma mulher diante de mim, uma visão que me tirou o fôlego. Ela tinha longos cabelos prateados que brilhavam como a lua, e seus olhos violetas me encaravam com uma intensidade que penetrava minha alma.

Sua presença era pura, envolta em uma aura tão serena quanto autoritária. Por um instante, senti medo. Quem era essa figura que surgia no limiar entre a vida e a morte? Mas, em seguida, algo mudou. Ela me trouxe paz, uma paz que eu não sentia há muito tempo. Com um gesto suave, ela abriu os braços, convidando-me para um abraço. Sem hesitar, eu aceitei.

Abracei-a com força, e ali, no calor daquele abraço, minha armadura emocional desmoronou. Eu chorei. Chorei por tudo que passei, pelas perdas que sofri, pelas traições que presenciei. Mas, acima de tudo, chorei por tudo que causei, pelas decisões erradas que tomei, pelas oportunidades de amor que deixei escapar por causa de meu orgulho.

Enquanto eu chorava, ela me acariciava, uma mão gentil percorrendo meus cabelos. Ela não disse nada, mas sua presença falava mais do que qualquer palavra. Ela estava ali, ouvindo meu pranto, permitindo-me derramar tudo o que mantive guardado por tantos anos. E naquele momento, senti uma espécie de alívio. Não fui julgada, nem condenada. Apenas acolhida, como se o fardo que carreguei pudesse finalmente ser posto de lado.

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