O nascimento dos herdeiros de Drifitmark

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Rhaenys abriu os olhos, e o mundo ao seu redor parecia estranhamente familiar e ao mesmo tempo distante. Estava em seu quarto, mas tudo ali parecia mais novo, como se o tempo tivesse retrocedido décadas. Ao tentar se sentar, sentiu uma pressão incômoda em seu corpo, um desconforto que conhecia bem. Seus olhos se voltaram para baixo, e ela viu sua barriga, pesada e imensa, carregando o peso de nove meses de gestação. O choque tomou conta dela.

Com esforço, se levantou da cama e caminhou até o espelho. Quando seus olhos encontraram o reflexo, ela quase perdeu o fôlego. A jovem mulher de vinte anos que a encarava do outro lado era ela mesma, mas um “eu” de outro tempo, de outra vida. As memórias da sua vida passada a atingiram como um golpe. Tudo o que viveu, todas as perdas, a morte de seus filhos, a traição de Corlys, a guerra… Tudo retornou com uma intensidade esmagadora, fazendo com que sua cabeça latejasse de dor.

Ela mal conseguiu se manter de pé quando Corlys Velaryon, seu marido, a amparou com uma expressão preocupada no rosto.

— Rhaenys, o que está acontecendo? — perguntou ele, confuso com o estado de sua esposa.

Rhaenys, ofegante, tentou afastar o peso das memórias e da dor, mas não conseguiu esconder o misto de fúria e determinação que começaram a tomar conta dela. Seus olhos encontraram os de Corlys, e por um momento ele vacilou ao ver a fúria contida no olhar dela.

Com a voz firme, mas carregada de raiva, Rhaenys não hesitou:

— Onde está ela? — A pergunta cortou o ar como uma lâmina.

Corlys piscou, confuso.

— Ela? De quem você está falando, Rhaenys?

— A sua amante! — rugiu ela, sem rodeios. — A mulher que você engravidou. Onde ela está?

Corlys deu um passo para trás, seus olhos arregalados em surpresa e descrença. Ele balbuciou, tentando encontrar as palavras.

— O que... do que você está falando? Não existe... isso não é verdade...

Rhaenys, agora de pé, sentiu a raiva ferver dentro dela. Ela sabia. Vhagar havia mostrado tudo a ela. E ela não permitiria que as mentiras de Corlys a enganassem de novo.

— Não minta para mim, Corlys. Eu sei de tudo. Você me traiu! — As palavras saíram afiadas, cortantes. — Eu quero saber onde ela está. Agora!

A culpa começou a se espalhar pelo rosto de Corlys, ainda que ele tentasse manter a compostura. Ele sabia que não havia como esconder aquilo por muito mais tempo.

— Eu... Eu não sei do que você está falando, Rhaenys... — murmurou ele, mas sua voz já não tinha a mesma firmeza de antes.

Rhaenys deu um passo à frente, encurtando a distância entre eles, o peso da gravidez e das memórias fazendo cada passo parecer uma batalha.

— Não ouse me tratar como uma tola — disse ela, sua voz carregada de uma autoridade que fez Corlys encolher. — Você desonrou a nossa casa, e agora... agora, você vai me contar a verdade.

Corlys desviou o olhar, o silêncio entre eles se tornando pesado e sufocante. Ele sabia que, desta vez, não havia saída.

— Ela... ela está em Volantis — admitiu, com a voz baixa. — Não está mais em Driftmark.

Rhaenys sentiu o sangue ferver em suas veias, mas também um alívio misturado à amargura. Ela havia voltado. E desta vez, as coisas seriam diferentes.

Rhaenys endireitou a postura, deixando a mão deslizar suavemente sobre sua enorme barriga, acariciando-a por alguns instantes, enquanto sentia o peso de sua gravidez e o poder que crescia dentro de si. Ela voltou a olhar para Corlys, mas desta vez com uma intensidade avassaladora. Quando o Serpente Marinha encarou os olhos da esposa, por um breve momento ele não viu apenas a mulher que conhecia, mas sim algo mais profundo, algo mais antigo e aterrorizante. Maelys, o dragão de Rhaenys, parecia refletir nos olhos dela, como se a própria criatura estivesse habitando sua alma naquele instante.

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