O mar revolvia-se sob o céu cinzento de outubro, como se as águas frias tivessem se tornado cúmplices do vento cortante que nos acompanhava durante toda a travessia. O barco oscilava ao sabor das ondas, arrancando de mim um misto de fascínio e desconforto. Ao longe, um vulto rochoso começou a emergir da névoa: a ilha.
Não era um lugar convidativo, tampouco belo. Sua silhueta escura e irregular parecia ser a personificação de um segredo guardado com tenacidade, como se a própria natureza tentasse preservar aquilo que os homens ali construíram. Era o colégio, com suas torres góticas elevando-se contra o céu pálido, ameaçador em sua austeridade.
Por um instante, senti meu peito ser preenchido por um peso estranho, uma mistura de ansiedade e expectativa. Meus pais, sempre ocupados demais com suas vidas sofisticadas e de intermináveis compromissos sociais, haviam decidido que este seria o meu lar até que eu pudesse "ser um homem digno do nome Whitmore". Essa expressão repetida tantas vezes pelo meu pai agora parecia ecoar na minha mente, como um juramento a ser cumprido.
Enquanto desembarcava, o vento soprou ainda mais forte, como se quisesse advertir-me. O cais era estreito e irregular, composto por pedras cobertas de musgo. Um silêncio sombrio dominava o ambiente, quebrado apenas pelo som das ondas. Meus passos eram cautelosos, hesitantes, mas decididos, enquanto eu caminhava em direção ao caminho estreito que conduzia à entrada do colégio.
À medida que avançava, as árvores do bosque ao redor se erguiam de maneira quase ameaçadora, seus galhos retorcidos balançando ao ritmo do vento. A paisagem era dominada por uma paleta de tons cinzentos e castanhos, refletindo a ausência de qualquer vestígio de vida colorida. Nem mesmo o canto de um pássaro ousava perturbar aquela atmosfera de seriedade e disciplina.
Quando finalmente avistei o portão principal, uma estrutura de ferro forjado com detalhes intrincados, senti uma presença. Um homem alto, de semblante severo e roupas escuras, aguardava-me. Ele era o coordenador, segundo uma das cartas que recebi antes de minha chegada. Seus olhos pareciam avaliar-me com um escrutínio que se prolongou por mais tempo do que considerei confortável.
— Seja bem-vindo ao Colégio Saint Dunstan, Arthur Whitmore — disse ele, com uma voz fria e autoritária. — Espero que você esteja preparado para as exigências que este lugar requer.
Eu apenas assenti, sem conseguir articular uma resposta adequada. Minhas mãos estavam frias, não apenas pelo clima, mas pela sensação de que estava prestes a adentrar um mundo totalmente diferente, regido por regras e expectativas que ainda não conhecia.
Com um último olhar para o portão que se fechava atrás de mim, percebi que não havia mais retorno.
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Onde Dormem os Segredos
Romance"Em uma ilha remota, um internato rigoroso esconde segredos sombrios e desejos proibidos. Quando Arthur Whitmore é atraído por um encontro inesperado, ele descobre que o amor pode ser tão perigoso quanto os mistérios ocultos nos corredores escuros...