CAPÍTULO 5

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BASEADO EM GÊNESIS 24: 62 – 65
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Eles saíram de manhãzinha, quando a brisa é gelada e o sol, pálido.

A parte mais difícil para Rebeca foi se despedir de seus amados parentes.

Mesmo de seu irmão implicante. Rebeca e Labão não eram melhores amigos, mas se amavam. Geralmente à distância.

Na despedida, após recolherem tudo que levariam, ela caminhou timidamente até o irmão. Sentiria falta mesmo dos seus julgamentos e expressão áspera. Era seu irmão, afinal. Olhou para o alto, para o rosto tão familiar. A barba castanha cobria grande parte de seus traços em comum com ela. Olhou para os olhos também castanhos, mas um pouco mais claros que os da maioria. Os cílios que os acompanhavam pareciam plantinhas com orvalho matinal.

— Está chorando, Labão? – Provocou-o.

Em vez de uma resposta áspera, uma retribuição ou mesmo uma ameaça, recebeu um abraço apertado e surpreendente.

— Que cresças, nossa irmã, até ser milhares de milhares; e que a sua descendência conquiste as cidades dos seus inimigos.

Seus familiares e servos gritaram em concordância.

Ela retribuiu seu abraço. Ele olhou para o lado como se estivesse com raiva das lágrimas traiçoeiras. Labão se afastou levemente e ela aproveitou para olhar ao redor. Rostos felizes. Emocionados. Queria pintar esse momento para nunca o esquecer.

Rebeca deu um último beijo em sua mãe e em seu pai. As servas que a acompanhariam também se despediram.

— Está na hora de irmos. A viagem será longa. – Disse Eliézer com um sorriso acolhedor.

Rebeca sorriu também.

— Eu só posso imaginar.


***

Eliézer e seus homens estavam segurando a risada por educação. Rebeca podia ver em seus olhos.

— Peço perdão, senhora Rebeca. Supus que já andarias a camelo com essa idade.

Débora parecia irritadiça com a condescendência deles. Entre as servas de Rebeca, ela era como uma senhora. A mais querida, a mais antiga, a mais forte. E a mais maternal também.

— Senhor Eliézer, a senhora Rebeca jamais precisou. Camelos são para viagens longas e a senhora Rebeca nunca saiu de Padã-Arã. Ajude-a a montar, ou não sairemos tão cedo daqui.

Rebeca gostaria de intervir para impedir que a viagem começasse com um clima ruim de desavença entre os servos. Infelizmente para Eliézer, ela tinha uma regra pessoal de nunca ir contra a pessoa que a está defendendo no momento exato em que está sendo defendida. Portanto, só observava a situação com olhos atentos.

Rebeca estava ansiosa com a viagem. Ansiedade boa e ruim misturavam-se e se entrelaçavam no âmago do seu ser.

— Senhor Eliézer, peço-te que ajude também minhas servas a montar o camelo. Tens certeza que recolheu o triplo dos alimentos e da água que levou inicialmente?

— Sim, senhora Rebeca. Ilias, ajude-a a subir. Seja gentil com a nossa futura senhora.

Um homem alto da pele cor de jaspe deu um aceno curto de cabeça. Logo – mas com certa dificuldade – Rebeca estava em cima do camelo que lhe fora designado.

O Cântaro e o DesertoOnde histórias criam vida. Descubra agora