[28 de novembro] - Piotr e Ivan andavam pela planície do sul, com armas brancas em mãos, buscando encontrar a criatura que atacou o segundo-lugar dias atrás. As gramíneas desbotadas faziam um barulho um tanto áspero quando eles davam seus passos. A falta de vivacidade nas pequenas folhas da grama revelavam a estação do ano. Estavam no vigésimo oitavo dia de novembro, mais especificamente no período da manhã.
- me disse que ela era um perigo, mas onde ela está? - Piotr estava inconformado.
- falei a verdade, somente. - Ivan não entendia bem como que num dia poderia aparecer um ser tão hostil e perigoso, mas no dia seguinte não haver resquício nenhum da existência dele. - talvez encontremos alguma evidência na floresta.
- acredito em você, não precisa mostrar evidência alguma. O único problema é: se encontrarmos a criatura, como iremos derrotá-la?
- não sei, não tenho ideia. Sei apenas que balas não adiantam. É como se elas fossem imunes, imortais. Toda vez que alguém conseguia cortar uma parte delas, a parte ressurgia do nada, como se ela se regenerasse.
- tem mais de uma? - Piotr surpreendeu-se.
- tem.
Seguiram em direção ao sul. A luz fina e sutil do sol incidia sobre o terreno que se tornava mais alto à frente deles. Ao lado leste estava a mesma floresta de sempre, que era menos densa e com mais espaçamentos entre as árvores naquela parte próxima da planície. Também havia a extensão dela até os montes, que sempre estavam no fundo da paisagem, formando uma grande parede que dividia a Europa da Ásia.
Certo momento na caminhada, a inclinação para o alto que o terreno fazia dava numa depressão repentina, que descia nas pradarias. Estavam ali os dois, na borda que dava para uma rampa um tanto íngreme. Deram um passo na descida e escorregaram pela grama até seus pés baterem no chão firme. Sabiam que, embora fosse fácil descer, retornar era difícil, sendo mais viável voltar pela floresta, onde o terreno era mais regular.
Estavam um tanto distraídos enquanto conversavam entre si. Piotr usava uma camisa mais leve, por conta do calor, mas também calças para não arranhar as pernas nas serrilhas das plantas. Por não ter nenhuma parte em suas vestimentas onde pudesse guardar a faca que carregava.
- você disse a verdade aos familiares dos homens que morreram lutando contra a criatura?
- disse. Não há nada que o povo não saiba. Faço questão que todos participem das questões internas, que nem vocês fazem no norte.
- já prepararam os funerais deles? - Piotr manifestava um pesar em seu rosto, mesmo sendo acostumado a enterrar inúmeros de seus conhecidos e até amigos. Na realidade, o costume preventivo nesses últimos nove anos foi de sempre cremar os mortos e só depois enterrá-los com areia, para evitar que houvesse risco de contaminação pela peste. Mesmo aqueles que faleceram de outras causas tiveram o mesmo fim com seus corpos. Não era viável arriscar-se, nem se as chances de infecção fossem mínimas.
O vento balançava os galhos das árvores perdidas num lugar ou outro da planície, e fazia a grama dançar e deitar-se na direção do norte, passando por ela. Um céu claro e sutil. Mais à frente, na planície, estava o que parecia ser um acampamento, formado por tendas e uma fogueira com carne assada. Kresimir era um homem de barba castanha aparada no rosto, que possuía uma espingarda guardada nas costas. Hrvoje, assim como o outro, vestia-se numa vestimenta leve e dinâmica para movimentação e luta. Os dois avistaram os dois líderes das vilas enquanto estes falavam entre si.
Piotr percebeu que o vento trazia para si o cheiro de brasas e vapores de sangue de animais. Kresimir e Hrvoje os observavam em seus lugares, sem fazer sinal de ameaça para eles. Mesmo assim, fez uma posição de luta para os dois desconhecidos, com a faca bem segura para lutar, se fosse preciso.
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Livre servidão, primeira parte: passagem
Fantasi[aviso]: conteúdo de violência extrema [recomendação]: esta obra faz parte do mesmo universo de 'Rei dos ratos', mas não há problema algum em pular essa outra história. [sinopse] - Após uma epidemia de larga escala que devastou a humanidade, e deixo...