Fatos e Lembranças

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Mai se aproximou de Kai com um sorriso tranquilizador. "Não liga para o Viktor, ele é um idiota. Todo mundo sabe disso."

Jayden, ainda curioso, deu um passo à frente. "Mas e aí, como você conseguiu entrar na Academia? Não é qualquer um que consegue."

Kai olhou em volta para se certificar de que ninguém mais estava ouvindo, então falou em voz baixa: "Vocês têm que prometer que não vão contar para ninguém."

Os dois assentiram com entusiasmo, seus olhos brilhando de curiosidade.

Kai começou a relatar sua história, tentando escolher as palavras com cuidado. "Eu estava explorando a Mina da Lagoa Azul com minha amiga Marina. Você sabe, aquela caverna que tem uma lagoa enorme lá dentro. Mas a caverna é muito maior do que parece à primeira vista. A gente foi mais fundo, explorando os túneis, até que encontramos um pequeno santuário. Algumas coisas estavam jogadas por lá, como se estivesse abandonado há séculos. Foi quando vi um baú trancado. Não era grande, mas parecia importante. Eu forcei a fechadura até conseguir abrir, e lá estava ele... um artefato."

Mai arregalou os olhos, quase incrédula. "Você achou um artefato assim? Dizem que, quando você encontra um artefato desse jeito, é porque ele te escolheu."

Jayden riu, interrompendo-a. "Para com essas bobagens, Mai. Artefatos não escolhem ninguém. O que importa é... qual artefato você achou? É um Comum? Um Raro? Ou, quem sabe... é um Cósmico? Eu nunca vi um artefato cósmico pessoalmente."

Kai, com um sorriso misterioso, puxou a mochila para a frente e enfiou a mão dentro dela. "Meu artefato é de Rank Safira. Tipo Sombrio. Eu me conectei com ele na Artcorp."

Os olhos de Mai e Jayden quase saltaram de surpresa. Ambos encaravam o artefato na mão de Kai com admiração. Mai foi a primeira a reagir. "Kai, isso é incrível! Um artefato desse nível... Você tem algo realmente poderoso nas mãos."

Jayden balançou a cabeça, impressionado. "Realmente, isso é muito raro. Pouquíssimas pessoas têm um artefato Sombrio, e menos ainda conseguem dominá-lo. Só três pessoas em toda Reliqin têm um artefato desse tipo sob controle."

Enquanto eles conversavam animadamente, Kai não conseguia deixar de sentir um momento de orgulho. Por mais que soubesse dos desafios que ainda teria pela frente, ele não podia evitar a sensação de realização ao segurar o artefato em suas mãos.

No entanto, do outro lado do corredor, observando em silêncio, Angel ouvia atentamente a conversa. Embora estivesse impressionada com o que tinha ouvido, seu semblante mantinha uma seriedade incomum. Algo sobre essa descoberta parecia ter despertado sua preocupação.

Kai estava sentado na beirada de sua cama no dormitório da Academia de Lutadores de Artefatos. O dormitório era gigantesco, com inúmeros quartos distribuídos em longos corredores. O ambiente era silencioso àquela hora da noite, exceto pelo leve zumbido de vozes distantes e o ocasional ranger de portas se fechando.

Ele puxou um caderno de anotações surrado que sempre levava consigo. Embora ninguém soubesse, Kai tinha o hábito de escrever como se estivesse conversando com seu pai. Era sua forma de manter uma conexão com a figura paterna que havia desaparecido anos atrás. Na página em branco, começou a escrever sobre os últimos dias, sobre sua chegada à Academia, o encontro com Mai e Jayden, e, claro, o confronto com Viktor. Kai contava tudo, como se esperasse que um dia seu pai lesse aquelas palavras.

Após terminar, ele suspirou e fechou o caderno, guardando-o cuidadosamente ao lado de sua cama. Levantou-se para apagar o lampião mágico — um dispositivo que lembrava um abajur, mas com um toque medieval e tecnológico, alimentado por uma fonte de energia mágica. Esses lampiões estavam espalhados por toda a Academia, um símbolo tradicional do lugar. Com um toque suave, a luz se extinguiu, mergulhando o quarto em uma penumbra reconfortante.

A luz prateada da lua entrava suavemente pela janela, enquanto uma fraca iluminação do corredor se infiltrava pelas frestas da porta entreaberta. Deitado em sua cama, Kai ficou olhando para o teto, perdido em seus pensamentos. Lembranças antigas surgiram à sua mente — seu pai, sentado ao lado dele em um tronco de árvore, com uma fogueira crepitando ao fundo. O céu tingido de laranja pelo pôr do sol. Seu irmão mais velho em pé, conversando com sua mãe. Kai recordava as palavras de seu pai, ditas com carinho e sabedoria: "Se você realmente quer ser um herói, como sempre sonhou, vai precisar trabalhar duro. Seja humilde, mantenha bons amigos por perto, e confie neles."

Aquela memória trouxe um aperto ao peito de Kai. Ele não conseguia deixar de se perguntar onde seu pai e seu irmão estavam agora. Será que algum dia os encontraria novamente? Com esses pensamentos, seus olhos começaram a pesar, e ele foi lentamente sendo levado pelo sono.

Enquanto adormecia, uma sensação de expectativa tomava conta dele. Algo em seu interior dizia que dias importantes estavam por vir. E, no fundo de sua mente, ele sabia que a jornada pela qual tanto esperou estava apenas começando.

Artifact Fighters (Light Novel)Onde histórias criam vida. Descubra agora