Capítulo 3

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Yaman voltou até a aeronave. Pegou sua mochila, colocou algumas garrafinhas de água dentro e alguns sanduiches que estavam no carrinho.

Seher perguntou a Hakan se ele queria ir.

H: Não vou conseguir andar, acho que torci o tornozelo. Vão vocês e tragam socorro.

Y: Vou puxar o carrinho até aqui. Tem água e alguns sanduiches e biscoito. Quando sairmos vou encostar a porta da aeronave para que fique seguro aqui dentro, porque pode ser que demoremos para voltar. A senhora vai com esses sapatos?

Seher abriu sua pequena mala e tirou um par de tênis e os calçou. Disse: estou pronta. Vamos?

Yaman a achou muito firme e decidida. Sua impressão já tinha mudado com relação àquela mulher que conheceu no hangar.

Saíram. Andaram por algum tempo, mas só o que viam eram árvores e vegetação. Pararam para descansar, beber e comer.

Y: sinto muito que isso tenha acontecido. Não havia previsão de tempestades para a área que estávamos voando.

S: Eu sei que não foi sua culpa. Aliás, gostaria de lhe agradecer. Não sei como você conseguiu pousar o avião no meio do mato. Graças a Deus estamos vivos! E a você também. Estamos vivos e inteiros.

Y: sim, e isso é o que mais importa, mas estou arrasado. Acho que não conseguirei recuperar meu colibri.

S: colibri? O avião?

Y: sim. Eu o chamo assim, sempre o chamei.

S: E por quê?

Y: É que o colibri, ou beija-flor, como preferir chamar, é uma ave pequena, mas forte e determinada. Sabe que não os temos por aqui. Eles habitam as américas.

S: Interessante! Realmente são muito lindinhos.

Y: Sabe que um tipo bem comum tem penas verdes-esmeralda de uma cor estonteante...Parou por um instante e por fim disse: assim como os seus olhos.

Olharam-se. Ela tentava descobrir o que havia por trás daquelas palavras, teria sido uma cantada? e ele tentava descobrir se tinha conseguido chamar a atenção daquela mulher linda e que era agora a sua companheira de aventura.

Y: Bem, não importa. Vamos tentar nos salvar primeiro, depois eu vejo o que farei com o meu colibri.

Será que estavam enganados um sobre o outro? Ou aquele tinha sido apenas um momento descontraído?

S: mas você não tem seguro?

Y: sim, tenho.

S: ah então? Com certeza você vai conseguir outro avião.

Y: Mas eu não quero outro eu quero o meu colibri. Você não entende que tem coisas que não podem ser substituídas?

Yaman pensou: pronto, por um instante me iludi que ela era diferente. A riquinha só pensa em substituir o que está quebrado, não tem apego a nada! Sabia, sabia que meus instintos não tinham me enganado. Linda, mas uma patricinha, uma metida!

Continuou: Sei que deve ser difícil para você entender, afinal, as pessoas que têm muito dinheiro, não têm apego às coisas. Para elas é muito fácil tudo ser substituído.

Seher pensou: Sabia que não tinha me enganado. Quem ele pensa que é? Nem me conhece, não sabe quem sou ou o que vivi, não sabe o que passei para chegar até aqui e já vai tirando conclusões. Idiota!! Lindo, mas um idiota!

Yaman se levantou e disse: Vamos andando, temos que achar algum rastro de civilização para que possamos pedir ajuda.

Andaram mais algum tempo e a paisagem não mudava. Pararam mais uma vez para descansar e comer. Eram os últimos sanduiches. Teriam de achar alguma saída ou retornar ao avião.

S: Eu acho que estamos andando em círculos!

Y: é mesmo é? E com qual propriedade você diz isso? Você por acaso tem curso de navegação ou sobrevivência na selva? Porque os pilotos têm. É obrigatório, sabia?

S: é mesmo é? E um navegador dos ares como você não tem pelo menos uma bússola?

Yaman tira a bússola da mochila e diz: sim senhora, um navegador dos ares como eu tem uma bússola. Porém, eu não contava que ela tivesse sido avariada na queda.

S: ah, então quer dizer que a minha suposição de que estamos andando em círculos não é tão estapafúrdia assim? Porque se o navegador dos ares já tinha até recorrido à bussola...

Y: E o que uma dondoquinha como você entende dessas coisas? O que te faz falar com tanta propriedade que estamos perdidos? Me explique, por favor? Mas não me venha com teorias ridículas!

Seher pegou na mão dele o puxou e disse: venha? Vou te mostrar o que a dondoquinha aqui fez.

O levou até uma árvore onde estava gravada a letra S, que ela tinha feito na primeira vez que tinham passado por ali. Disse: Está vendo? Esse S fui eu quem fiz, na primeira vez que passamos aqui.

Y: Você pode ter feito isso agora, não pode?

S: Veja, não acredita? Veja, a seiva que escorreu do tronco já está seca. E escuta aqui, meu senhor, que necessidade eu teria de fazer isso?

Y: Não sei, talvez queira desmerecer o meu trabalho, como fez ainda a pouco, questionando minhas habilidades e meus equipamentos.

S: Escuta aqui, meu senhor, que necessidade eu teria de fazer uma idiotice dessas? Foi algo instintivo, apenas achei que deveria deixar uma marca naquela árvore, só isso. E além do mais, o meu desejo de me salvar é igual ao seu e quanto antes acharmos uma saída...

Y: mais cedo nos livraremos um do outro, não é isso?

S: se você pensa assim...

Yaman respirou fundo e disse: tudo bem, vamos em frente. Daqui a pouco a tarde cai e nós vamos precisar de um lugar para nos abrigarmos para passar a noite.

Seher já estava quase arrependida de ter ido junto. Antes tivesse ficado com Hakan no avião, mas não era mulher de ficar esperando. Sabe-se lá se o metido do piloto não ia se salvar e deixar os dois mofando lá? E também ficar sozinha com Hakan não era uma boa ideia, ele gostava de fazer umas tentativas quando estavam sozinhos, jogar umas dicas, para ver se ela caía e ainda por cima, ele era um chato, com quem ela só se relacionava por estrita necessidade profissional. Aliás, suportava por estrita necessidade profissional. Então, apesar de achar o piloto um metido, ainda era preferível ficar com ele do que com Hakan. 

A Flor e o ColibriOnde histórias criam vida. Descubra agora