SWEATHER WEATHER - THE NEIGHBOURHOOD

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LYRAE SANTOYO


Chamei Lee para ajudar, mas ela chegou tempo depois. A deixei avisada que podia atirar contra o armazém caso estivesse muito silencioso, e foi o que a maluca fez.


— Você não podia simplesmente esperar? — pergunto, franzindo a testa. — Sabe que atirar assim pode acabar chamando atenção, né?


Carter agora me encara como se eu fosse a única garrafa d'água disponível no mundo. Não o julgo, pois estou irreconhecível desde que ele partiu sem ao menos me dar notícias, sem me dizer se tinha chegado em segurança ou se iria me ajudar a me soltar das amarras do meu pai. Sei por que ele está investigando isso também; sua irmã foi vítima dos comparsas dos meus pais enquanto ele apenas aceitava que ela estava sofrendo nas mãos deles por anos. Não o culpo pelo que aconteceu comigo depois que ele se foi, mas doeu saber que ele havia partido sem me levar consigo.


— Não vai dizer nada? — insisto, ainda olhando para Lee, mas notando o olhar de Carter queimando sobre mim. — Você sumiu, Carter. E agora simplesmente reaparece? Acha que tudo ficou bem enquanto esteve fora?


Nosso laço era uma chama que queimava intensamente em meio à escuridão. Dentro daquele lugar opressivo, ele era meu único refúgio. As melhores memórias que guardo estão entrelaçadas com sua presença, momentos de risos e liberdade, mesmo que temporários. Sempre que ele aparecia, eu me sentia viva, como se estivesse sendo resgatada das correntes que meu pai impunha, das salas onde eu era trancada em solidão. Mas então, um dia, eu procurei por ele em todos os lugares: nos corredores labirínticos, nos calabouços frios, nas celas onde a esperança parecia ter morrido. E não o encontrei. Naquele momento, percebi que meus dias se tornariam monótonos e banhados em sangue.


— Estão bem? — Lee entrou no armazém, a arma firme em suas mãos. Ao seu lado, Jules, com o rosto sério. Não pude deixar de soltar um suspiro. 


— Serio? — murmuro. — Ela tinha que trazer esse saco de pancadas?

— Achei que fosse uma emergência — Jules responde com um sorrisinho. — Não podia deixar Lee vir sozinha, você sabe como ela é.


Reviro os olhos, mas antes que eu possa responder, Carter se aproxima de mim, os olhos fixos nos meus. Ele tenta falar algo, mas eu o interrompo, minha voz saindo mais fria do que eu pretendia:


— Você tem ideia do que foi ficar presa lá depois que você se foi? — pergunto, cruzando os braços. — Eu não precisei só me libertar fisicamente, Carter. O que aconteceu me mudou.


Ele tenta dizer algo, mas Lee corta o momento, andando pelo armazém e avaliando a situação.


— Podemos continuar com o drama depois? — Lee diz, a voz prática. — Estamos aqui por Santoyo, ou já esqueceram disso?Jules faz um gesto afirmativo com a cabeça, apoiando Lee como sempre. — Ela tem razão. Precisamos nos concentrar.

REDENÇÃO EM SOMBRASWhere stories live. Discover now