Belchior

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Então, continuaremos tentando até que nosso sangue se converta em água, até que todos os nossos recursos se esgotem. Iremos chorar, e chorar de novo, até que toda a nossa força se esvaia. Seremos chamados de loucos e ultrapassados, dirão que nossos questionamentos não fazem sentido. Que devemos apenas seguir a banda conforme a música, sem reclamar ou questionar.

Carregamos essa dor, essa pele, essa vivência, esse desamor. E, mesmo assim, continuaremos firmes, firmes até que o sol seja para nós. Que possamos ter honra por nossa pele, e que ela resplandeça sob o sol. Que as mulheres pretas possam receber o recíproco. Que nós, irmãos de cor, possamos ter empatia por nós mesmos. Que o espelho reflita amor e paz. E que o passado fique para trás.

Já lamentei demais com facas no peito e lâminas de lamúrias. Desvendei-me de tal maneira que deveria estar esgotada. Porém, no ano passado, morri, mas este ano não morro. De todas as vezes em que a tristeza subiu, seu fruto foi agonia. Agora, devo recolher minhas lágrimas, meu pensar, meu sentimento e minha angústia. Prometo não me castigar mais, como antes, por toda a dor que carrego ou um dia já carreguei.

Este ano, não morro de novo, não. Fiz promessas que não pude cumprir, me dei mal. Agouros e chicotadas ainda doem até os dias de hoje, carrego essas marcas dos meus antepassados. Elas sangram até os dias atuais. Sei que poderia falar sobre isso por horas ou em muitas folhas. Tenho chorado demais. Prometo a você, assim como prometi a mim: no ano passado, morri, mas este ano não morro.

Ponto FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora