Prólogo

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Narradora

Jonh Cantrall encontrava-se ofegante, a sua respiração quente era visível, devido ao frio, que se fazia sentir, naquela noite.

Os seus cabelos grisalhos balançavam ao sabor do vento. Os seus passos eram largos e pesados, provocando ruídos, sempre que pisavam nas folhas e nos ramos espalhados pelo chão.

O velho homem olhava para trás, enquanto corria, numa falha tentativa de perceber se continuava a ser perseguido. Como a sua atenção estava voltada para o que poderia estar a acontecer atrás de si, não se deu conta que à sua frente se encontrava um ramo maior, no chão, no qual tropeçou e caíu.

O seu corpo caiu por cima das folhas secas de outono, espetando alguns pequenos galhos, nas suas mãos.

Respirou fundo e num ápice, reergueu -se, como se nunca tivesse caído, o que era impressionante para um velhote de 75 anos. Sacudiu a sujidade da sua roupa, algumas folhas e pó.

O coração de Jonh acelerou, assim que ouviu passos atrás de si, pesados e firmes. Tentou correr, mas os seus joelhos traíram-no, e não o deixaram mover-se.

- Finalmente, encontrei -te! - foi a última coisa que o pobre velho ouviu, antes de sentir uma espada atravessar-lhe o corpo, de um lado ao outro, fazendo com que ele caísse de joelhos e posteriormente, se deixasse cair sobre as folhas secas e ramos, novamente.

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Pov Kylie Cantrall

- Eu odeio poesia! Tudo o que escrevo parece incorreto...- a Ruby reclamava e bufava ao mesmo tempo. Estávamos no clube de poesia.

- Ruby a poesia precisa de ser sentida, precisa de transparecer emoções que estão escondidas dentro de nós e precisa de torná-las indecifráveis. - expliquei como se fosse óbvio.

Desde pequena que escrevo poesia, para mim era fácil compreendê-la. Eu vivia para a poesia e a poesia vivia para mim.

- Claro, Kylie! Para ti é fácil....eu só estou aqui porque fui obrigada. - reclamou, novamente, encostando desajeitadamente as suas costas contra a cadeira e cruzou os braços.

- Eu não te obriguei a vir...- encolhi os ombros e voltei a prestar atenção ao que a professora Hora explicava.

- Eu quero que vocês escrevam um poema sobre...- a professora não conseguiu terminar de falar porque foi interrompida pelo som grave da porta a chocar contra a parede, fortemente.

- Professora! Desculpe...mas...- era a Camila, a minha irmã mais velha. Ela estava ofegante e o seu rosto estava mais pálido do que o normal.

A sua mão direita estava repousada sobre o seu peito e ela procurava recuperar o ar que havia perdido.

- Eu preciso de falar com a Kylie, por favor! É importante. - suplicou chorosa.

- Tudo bem, Kylie podes ir!- a professora cedeu ao pedido da Camila.

Levantei-me, fui em direção à minha irmã e saímos da sala. Quando atravessei a porta e fechei-a, ela abraçou fortemente, como se a sua vida dependesse daquele abraço.

Senti as suas lágrimas molharem o meu ombro e o seu corpo tremia por inteiro.

- Camila, o que é que aconteceu? - perguntei preocupada. Ela, raramente, chorava, apenas o fazia quando algo de grave tinha acontecido.

- O avô...- começou por dizer mas um soluço sôfrego interrompeu-a.- O avô faleceu, Kylie! Ele foi assassinado...- contou entre soluços e gritos cheirosos, angústiantes.

O mundo parou, naquele instante, senti a minha pressão baixar, os meus batimentos não eram sincronizados, batiam fortemente e depois lentamente. O suor escorria pelas minhas mãos e eu sentia calafrios percorrem o meu corpo, de cima a baixo.

O meu avô era a pessoa mais importante da minha vida, foi ele quem me transmitiu a paixão pelos livros. Foi ele quem me transmitiu o amor incondicional pela poesia.

A Camila continuava a abraçar-me, eu sentia a tensão do seu corpo, pela força que ela colocava no meu.

Eu estava paralisada, angustiada, um vazio enorme alojou-se dentro de mim. Não consigo compreender como alguém poderia assassinar uma pessoa tão bondosa e cheia de vida...Eu daria a minha vida pela vida do meu avô, sem ter de pensar muito.

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Narradora

Os dias da Kylie passaram a soar melancólicamente, as recordações dos bons momentos com o seu avô atormentavam-na, mas ao mesmo tempo deixavam um rasto de saudade e tranquilidade.

A sua voz não era escutada por ninguém, recusava-se a usá-la. O seu sorriso não era visto por ninguém, recusava-se a demonstrá-lo. Ela não estava a ser rude com as pessoas, apenas não estava a fingir uma falsa alegria para disfarçar os seus sentimentos e a sua revolta.

Ela encontrava-se frustrada por não se sentir compreendida, estava em luto, mas parecia que as pessoas lhe exigiam que ela o ultrapassasse rapidamente. Assim como a Camila o fez...a sua irmã estava muito feliz para quem tinha acabado de perder um ente querido.

A Camila chorou, apenas, nos braços da Kylie, quando lhe contou a trágica notícia, depois disso nunca mais verteu uma lágrima, nunca mais falou sobre o seu avô...Vivia a sua vida normalmente como se nada tivesse acontecido.

O facto de ela ter superado tudo tão repentinamente, deixava a Kylie frustrada e irritada, ela não queria que a sua irmã se esquecesse do seu avô daquela forma. Ela queria manter a sua memória viva, mas a Camila queria apagá-la de uma vez, do mundo...

Passado cinco dias da notícia do falecimento do seu avô, a Kylie regressou à faculdade.

Quando chegou observou a sua vizinha Malia a sair da sala de aula, assim que a mais nova a notou, sorriu abertamente para ela e caminhou na sua direção.

- Kylie, é bom ter-te de volta- sorriu carinhosamente.- Como estás? Precisas de alguma coisa? - questionou simpaticamente.

A Kylie apenas negou com a cabeça, não esboçou nenhum sorriso e deixou a Malia sozinha, sem lhe agradecer pela sua simpatia.

Entrou dentro da sala de aula, na esperança de que a mesma estivesse vazia, porém, a Dara já lá estava sentada a ouvir música.

A Kylie caminhou em direção à sua mesa, voltou toda a sua atenção para duas pequenas folhas de papel, que se encontravam lá perdidas.

Primeira folha  (bilhete 1)

A morte do teu avô foi rápida e pouco angústiante...
Observar a espada a atravessar o seu corpo foi deveras fascinante.

Segunda folha (bilhete 2)

Não sou profissional da escrita, mas sei que um poeta morto, é uma poesia silenciada....E uma neta que perdeu o seu querido avô é uma alma despedaçada.

Gostaste das minhas rimas? Eu gostei tanto de as escrever, como de assassinar o Jonh...Vejo -te em breve, Kylie!

A Kylie ficou sem reação, a sua pele aparentava estar mais branca do que o normal, o seu coração estava acelerado e uma súbita raiva começou a crescer dentro de si.

Ela destruiu as folhas com as suas próprias mãos, pois na sua mente aquilo não passava de uma brincadeira sem sentido. Quem poderia brincar com a morte de uma pessoa? Fazer-se passar por um assassino? E se, realmente, o assassino do seu avô estiver dentro da sua faculdade?

As perguntas eram imensas, as respostas eram escassas...mas a Kylie não iria desistir até descobrir quem era o autor daqueles bilhetes...

Ela refere-se a um autor masculino porque segundo as autoridades, as marcas de pegadas deixadas no local do assassinato eram de um homem...Um homem que ela queria destruir com as próprias mãos...



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