Four

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Termino de fechar o caixa e e vou direito para o vestuário, ansiosa para tirar o uniforme da loja e ir embora

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Termino de fechar o caixa e e vou direito para o vestuário, ansiosa para tirar o uniforme da loja e ir embora. Lidar com o público não é nada fácil, foram mais de oito horas de trabalho e minha bateria social está esgotada. Agora que mais um dia se foi, tudo o que eu quero é chegar em casa, tomar um banho quente e apagar. Estou exausta, e faz tempo que não descanso direito. O sono tem sido curto e inquieto.

Já faz alguns dias desde que falei com a professora Amélia. Agora, estou na espera de uma resposta. Ela disse que passou meu nome para alguns conhecidos e que me avisaria assim que soubesse de algo. Eu tentei ficar tranquila e aguardar com paciência, mas a verdade é que essa espera está me consumindo. A ansiedade tem roubado minha paz e, com ela, o meu sono. Espero muito que isso dê certo, preciso muito dessa oportunidade, dessa ajuda.

Depois que organizei tudo na loja, fecho a porta e sigo para o ponto de ônibus. A noite estava agradável. Céu estralado, vento fresco e poucas pessoas na rua. Não demora muito e o ônibus que sempre pego aparece. Faço sinal para parada e subo. Agradecendo mentalmente por, finalmente, estar indo para casa.

O ônibus começa a andar e eu me permito relaxa sobre o banco. Por conta do horário, não havia muitas pessoas no transporte e o fluxo de carros estava pouco. Assim evitaria trânsito e eu chegaria mais rápido em casa.

Começo a olhar para as ruas praticamente vazias através da janela do ônibus, e meus pensamentos me levam para outro lugar. Fico imaginando como seria se eles estivessem aqui. Tudo seria mais fácil, ou talvez não, mas ao menos seria mais suportável. Eu não me sentiria tão sozinha, tão exausta. Teria alguém para dividir esse fardo, para compartilhar as responsabilidades. Eles estariam ao meu lado, me ajudando, me dando forças para continuar. Seriam uma lembrança de felicidade em meio ao que prece ter se perdido.

Não é que viver com a minha avó seja um peso, muito menos ela. Eu a amo com todo o meu coração e alma, e quero cuidar dela, mas é exaustivo lidar com tudo sozinha. Às vezes, forço um sorriso quando tudo o que quero é chorar. Fingir que está tudo bem, quando não está, cansa. É difícil dar um jeito em tudo o tempo inteiro, estar sempre no controle, sempre cuidando. Só queria, por um momento, ser cuidada também.

Meus pais morreram quando eu ainda era muito jovem. Minha avó assumiu a responsabilidade de me criar, e cuidou de mim o quanto pôde, até que a doença apareceu. Foi aí que tudo mudou. De repente, eu precisei aprender a me virar sozinha. Não tive escolha. Tive que crescer rápido, adquirir uma maturidade forçada, e me tornar a mulher forte que tento ser até hoje.

Aprender a ser forte quando tudo dentro de você quer desmoronar não é fácil. É como se a vida estivesse sempre me empurrando para frente, mesmo quando o que eu mais desejo é uma pausa. Ninguém fala dessa parte. Ninguém explica como é duro ser responsável. Pior ainda, ninguém te ensina como ser responsável, você simplesmente precisa aprender na marra.

E, apesar de todo o amor que sinto pela minha avó, é doloroso saber  que não consigo dar a ela o tratamento que ela merece. Estou constantemente lutando contra um sistema que parece não querer que a gente sobreviva. É injusto. É cansativo. Mas no fim, eu sigo em frente, tento ser capaz, tentando ser o apoio que minha avó sempre foi para mim.

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