Poças Vermelhas

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Esta noite tudo se repetiu.

O silêncio ensurdecedor me deixava cada vez mais irriquieto, a escuridão me cegava de pavor, o medo rodeava minha cabeça como um redemoinho, baguncando meus pensamentos.
No pequeno rádio tocava uma canção que dizia sobre um domingo sombrio, eu não tinha forças para trocá-la, não era forte o bastante pra isso.
Eu só tinha cabeça para voltar a fazer aquilo, que tanto me aliviava, a dor daquilo me dava prazer, por ser menor que a dor do que ocorria em minha volta, da dor da minha vida.
Eu sabia que não deveria estar fazendo isso, mas eu estava viciado. Não queria mostrar pra ninguém em qual nível de tristeza ou vontade de aparecer estou para esse tipo de coisa, aliás, não queria que ninguém soubesse mesmo, queria desaparecer. Eu queria um alívio de qual meu corpo precisava, queria um alívio de toda a dor que a vida traz, e chorar não adiantaria.
Voltei a fazer o que eu mais temia: a cada corte, muito sangue escorria, chegou uma hora em que minhas vistas começaram a embaçar, tudo o que eu via era um grande borrão vermelho, eu estava ficando fraco. Fechei meus olhos lentamente, e caí no chão.

Me acharam no dia seguinte, banhado em meu próprio sangue, sem mais uma alma viva. Minha mais temida saída foi meu fim.

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