Capítulo 4 - O Peso da Coroa

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A manhã que se seguiu à vitória de Jimin no campo de treinamento trouxe consigo uma sensação de vitória pessoal, mas também de alerta. O jovem sabia que havia impressionado os presentes com sua agilidade e inteligência, mas ele também sentia o peso das expectativas crescer sobre seus ombros. O palácio de Calthor parecia mais imponente naquele dia, suas paredes de pedra fria e corredores infinitos quase o sufocavam. Ele estava, sem dúvida, em um lugar onde o poder e a intriga se entrelaçavam de maneira sutil e letal.

O rei Jungkook permanecia um enigma. Embora tivesse assistido ao seu desempenho com olhos atentos, Jimin não conseguira decifrar as intenções do monarca. O olhar de Jungkook era como um oceano profundo: aparentemente calmo na superfície, mas impossível de ver o que se escondia em suas profundezas. E, mais perturbador ainda, era o fato de que Jungkook não dissera nada diretamente a Jimin desde o teste. Aquele silêncio era quase mais pesado do que qualquer crítica.

Jimin caminhava pelo pátio do castelo, o sol do meio-dia brilhando intensamente sobre sua cabeça. Ele sentia os olhares dos soldados e cortesãos enquanto passava, alguns disfarçados, outros abertamente avaliativos. Muitos dos presentes ali ainda o viam como "o filho do general", alguém que, apesar de ter impressionado com sua habilidade, ainda precisava provar muito mais para se destacar naquele mundo de poderosos.

Enquanto ele atravessava o terreno, Taehyung apareceu ao longe, caminhando em sua direção. O comandante da guarda era sempre uma figura imponente, mas hoje parecia mais relaxado, o que surpreendeu Jimin. Ele já havia ouvido falar da reputação severa de Taehyung, então o ver aproximar-se com um semblante quase amigável era um sinal curioso.

— Bom trabalho ontem — Taehyung disse assim que se aproximou, sem qualquer formalidade. — Muitos duvidaram que você seria capaz de enfrentar um dos nossos, mas você provou que é mais do que aparenta.

Jimin ergueu os olhos, surpreso com o elogio, mas manteve a compostura.

— Obrigado, comandante. Foi apenas um começo.

Taehyung deu um sorriso leve, mas seus olhos permaneceram calculistas.

— É verdade. Foi apenas o começo. O rei tem planos para você. — Ele fez uma pausa, observando a reação de Jimin, antes de continuar. — Mas saiba disso, Jimin: ganhar a confiança do rei não é uma tarefa simples. Ele valoriza força, lealdade e, acima de tudo, resultados.

Essas palavras, embora ditas de maneira direta, carregavam um peso que Jimin compreendeu instantaneamente. **Jungkook** era um rei exigente, e, no fundo, Jimin sabia que o teste de ontem era apenas uma pequena peça de algo maior. A mente do rei sempre trabalhava como um estrategista, e ele não convocava ninguém à corte sem um propósito claro. A questão era: qual era o verdadeiro propósito de Jungkook ao trazer Jimin para tão perto de si?

— O rei deseja vê-lo — Taehyung acrescentou de repente, interrompendo os pensamentos de Jimin. — Ele estará na sala de estratégia. Eu o levarei até lá.

Jimin assentiu em silêncio e seguiu Taehyung pelo labirinto de corredores do castelo. O ambiente ao redor parecia mais sombrio à medida que eles se aproximavam do coração do poder em Calthor. As tapeçarias nas paredes retratavam cenas de batalhas gloriosas, vitórias sangrentas que consolidaram o reinado de Jungkook e de seus antecessores. Tudo naquele lugar falava de poder, controle e conquista.

Ao chegarem diante de uma grande porta de madeira esculpida, Taehyung parou e olhou para Jimin com uma expressão séria.

— Boa sorte, Jimin — ele disse antes de abrir a porta.

Jimin entrou na sala de estratégia com passos controlados. O espaço era grande, mas não ostentava a grandiosidade de outras partes do castelo. Havia um mapa detalhado do reino de Calthor sobre uma longa mesa de carvalho no centro da sala, rodeado por cadeiras simples de madeira. Diversos pergaminhos estavam espalhados pela mesa, e Jimin podia ver marcas de tinta e anotações que demonstravam que aquele local era mais de trabalho do que de diplomacia.

Jungkook estava de pé ao lado da mesa, vestido com uma túnica negra simples que contrastava com a luxúria de seu entorno. Seus olhos estavam fixos no mapa à sua frente, mas ele levantou a cabeça quando Jimin entrou, avaliando-o com aquele mesmo olhar intenso e penetrante. Por um momento, nenhum dos dois falou. Jimin sentiu que o rei estava deliberadamente criando o silêncio, como se estivesse esperando para ver como ele reagiria.

Finalmente, Jungkook quebrou o silêncio.

— Sente-se, Jimin.

Jimin obedeceu, sentando-se em uma das cadeiras perto da mesa. O rei permaneceu de pé, sua presença dominando o ambiente. Ele parecia uma estátua de mármore viva — belo, mas inatingível. Cada movimento seu era contido, controlado. Havia uma rigidez em seu corpo, como se ele estivesse sempre pronto para o ataque ou para se defender.

— Você se saiu bem ontem — disse Jungkook, sua voz baixa, mas firme. — Mas isso foi apenas um teste de força. O que vem agora será muito mais difícil.

Jimin manteve a postura, mas suas sobrancelhas se franziram levemente em curiosidade.

— Estou pronto para qualquer coisa que o senhor precise de mim, Majestade.

O leve movimento de um sorriso curvou os lábios de Jungkook, mas foi algo que desapareceu tão rápido quanto surgiu.

— Quero que entenda algo — Jungkook começou, sua voz ainda controlada, mas agora mais fria. — O reino está à beira de um colapso. As tensões entre a nobreza e os camponeses aumentam a cada dia. Revoltas estão surgindo nas aldeias e vilarejos. Meu poder, por mais que pareça absoluto, é frágil.

Jimin ouviu atentamente, surpreso pela franqueza com que o rei falava sobre as ameaças ao seu trono. A imagem de Jungkook como um monarca inabalável começava a mostrar suas rachaduras. Mas ele ainda não entendia onde ele, Jimin, se encaixava nessa complexa teia política.

— E onde eu entro nisso, Majestade? — Jimin perguntou com cautela.

Jungkook se aproximou da mesa, seus dedos traçando o contorno do mapa.

— Você é o filho do general Park, um dos homens mais respeitados neste reino. Seu nome carrega um peso que pode ser usado a meu favor — Jungkook disse, erguendo os olhos para encontrar os de Jimin. — Mas, mais do que isso, você tem algo que me interessa.

Jimin sentiu um leve tremor percorrer sua espinha. A intensidade no olhar de Jungkook parecia atravessar qualquer barreira que ele tentasse erguer em defesa.

— E o que seria isso? — Jimin perguntou, tentando manter a compostura.

Jungkook parou por um momento, e o silêncio na sala pareceu aumentar dez vezes. Quando ele finalmente falou, sua voz era suave, mas carregava uma ameaça implícita.

— Você não tem medo de mim.

Aquelas palavras caíram no ar como uma declaração e, ao mesmo tempo, um desafio. Jimin piscou, confuso, tentando entender o que Jungkook queria dizer. Ele sabia que o rei inspirava medo em todos à sua volta. Sua postura, seu poder, e até mesmo o mistério que o envolvia faziam com que os outros o reverenciassem ou temessem. Mas Jimin nunca havia sentido exatamente isso. Havia respeito, sim, mas também havia curiosidade — uma vontade de entender o homem por trás da coroa.

— Deveria ter? — Jimin respondeu calmamente, encontrando o olhar de Jungkook.

O sorriso de Jungkook voltou, desta vez mais visível e carregado de algo que Jimin não conseguiu identificar de imediato.

— Talvez — disse o rei, voltando sua atenção para o mapa. — O tempo dirá.

E com isso, Jungkook virou-se para sair da sala, deixando Jimin sozinho com seus pensamentos, perguntas e uma crescente sensação de que o futuro seria mais perigoso do que ele imaginara.

Corações em Chamas •Jikook•Onde histórias criam vida. Descubra agora