Leon
Uma Holly magra e de olhos cansados me observa da cama. Parece menor. Em todas as dimensões: pulsos, cabelo crescendo em tufos...
Tudo, a não ser os olhos.
Ela abre um sorriso fraco.
Holly: Você esteve aqui no fim de semana passado.
Eu: Dei um pulo aqui. Precisavam da minha ajuda. Estavam sem ninguém.
Holly: Foi porque eu chamei você?
Eu: De jeito nenhum. Você sabe que é a paciente de que menos gosto.
Sorriso maior.
Holly: Você estava passando um fim de semana legal com a sua namorada de cabelo curto?
Eu: Na verdade, estava.
Holly parece muito maliciosa. Não quero ter esperanças, mas ela está visivelmente melhor — esse sorriso nem apareceu no fim de semana passado.
Holly: E você teve que largar a coitada por minha causa!
Eu: Por causa da equipe reduzida, Holly. Tive que largar... Vim trabalhar porque estavam sem gente para ajudar.
Holly: Aposto que ela fica irritada porque você gosta mais de mim do que dela.
Socha, a residente de primeiro ano, põe a cabeça para dentro da cortina para chamar minha atenção.
Socha: Leon.
Eu, para Holly: Volto daqui a pouco, destruidora de lares.
Eu, para Socha: E aí?
Ela abre um grande sorriso cansado.
Socha: O exame de sangue chegou. Os antibióticos estão finalmente fazendo efeito. Acabei de ligar para o residente do Hospital Geral, e ele disse que, como ela está melhorando, não tem que voltar para a internação. A assistente social também concorda.
Eu: Os antibióticos estão funcionando?
Socha: Estão. A contagem de leucócitos e de proteína c-reativa está caindo, ela não tem mais febre e o ácido láctico está normal.
Pressão estável.
Alívio imediato. Nada como a sensação de ver alguém melhorando.
O entusiasmo por causa do exame de sangue de Holly me acompanha até em casa. Adolescentes fumando maconha na esquina da rua parecem querubins. Um homem fedendo no ônibus e tirando meias para coçar os pés evoca apenas compaixão. Até o grande inimigo dos londrinos, o turista lento, só me faz abrir um sorriso indulgente.
Planejo um jantar excelente para as nove da manhã. Primeira coisa que noto é o cheiro. Tem um cheiro... feminino. Como o de incenso e de floricultura.
Logo depois percebo a enorme quantidade de coisas na sala.
Pilhas gigantes de livros na bancada da cozinha. Almofada em formato de vaca no sofá. Um abajur de lava — um abajur de lava! — na mesinha de centro. O que é isso? Essa mulher de Essex quer montar um brechó no apartamento?
Meio atordoado, vou deixar as chaves no lugar de sempre (quando não opto pelo fundo da cesta de roupa suja) e vejo que está ocupado por um cofrinho em forma de cachorro. Inacreditável.
Parece um episódio ruim de um programa de decoração. O apartamento foi redecorado e ficou absurdamente pior. Só posso concluir que ela fez isso de propósito — ninguém pode ter tanto mau gosto.
Tento lembrar o que Kay me falou sobre a mulher. Ela é...
editora? Parece profissão de alguém sensato e de bom gosto. Tenho quase certeza de que Kay não mencionou que a mulher de Essex coleciona objetos estranhos. Parece que não fez diferença.
Desabo em um pufe e relaxo por um momento. Penso nas trezentas e cinquenta libras que não teria conseguido dar a Sal neste mês. Concluo que não é tão ruim assim. O pufe é excelente, por exemplo: estampado e muito confortável. E o abajur de lava tem seu valor cômico. Quem tem um desses hoje em dia?
Noto meus lençóis pendurados no varal no canto da sala. Ela lavou. Meio irritante, já que me esforcei para lavá-los e me atrasei para o trabalho por causa disso. Mas devo lembrar que a irritante mulher de Essex não me conhece. Não saberia que eu obviamente lavaria os lençóis antes de convidar uma estranha para dormir neles.
Bom. Como o quarto vai estar?
Entro, intrépido. Solto um grito estrangulado. Parece que alguém vomitou arco-íris e estampas, cobrindo toda superfície com cores que nunca estariam juntas na natureza. Cobertor horrível e comido por traças em cima da cama. Uma enorme máquina de costura bege ocupa quase a escrivaninha toda. E roupas... roupas em todos os cantos.
Ela tem mais roupas do que uma loja de tamanho razoável estocaria. Claramente não conseguiu pôr tudo na metade do guarda-roupas que liberei para ela, por isso pendurou vestidos atrás da porta, em pregos que um dia seguraram quadros na parede — muito esperta, na verdade — e na cadeira sob a janela, agora quase invisível.
Penso em ligar para ela e bater o pé por aproximadamente três segundos, mas chego à inevitável conclusão de que isso seria estranho e de que, em alguns dias, não vou me importar mais. Na verdade, provavelmente vou parar de notar. Mas mesmo assim.
Neste momento, minha opinião sobre a mulher de Essex chegou ao pior nível. Estou prestes a voltar para o pufe convidativo quando noto a sacola de cachecóis que o sr. Prior tricotou para mim saindo de debaixo da cama.
Eu me esqueci deles. A mulher de Essex pode achar estranho encontrar uma sacola com quatorze cachecóis tricotados à mão embaixo da cama. Já faz tempo que quero doar para a caridade, mas claro que a mulher de Essex não vai saber disso. Não encontrei com ela ainda, não quero que ela ache que sou, você sabe... Colecionador de cachecóis ou algo assim.
Pego papel e caneta, rabisco PARA A CARIDADE em um Post-it e grudo na sacola. Pronto. Só para lembrar, caso esqueça.
Agora é sentar no pufe para jantar e cama. Estou tão cansado que até o cobertor de batique horrível está começando a parecer atraente.
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Teto para Dois
RomanceTrês meses após o término do seu relacionamento, Tiffy finalmente sai do apartamento do ex-namorado. Agora ela precisa para ontem de um lugar barato para morar. Contrariando os amigos, ela topa um acordo bastante inusitado. Leon está enrolado com qu...