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Leon

Braços bem abertos, pernas afastadas. Uma agente penitenciária de rosto sério me revista com bastante entusiasmo. Desconfio que me encaixe no perfil dela de pessoa que pode trazer drogas ou armas para a sala de visitas. Imagino a mulher repassando seu checklist mental. Gênero: Masculino. Raça: Indeterminada, mas ligeiramente mais moreno do que seria preferível. Idade: Jovem o bastante para fazer besteira. Aparência: Desleixado.
Tento sorrir de maneira não ameaçadora, como um cidadão de bem. Se parar para pensar, provavelmente pareço arrogante.
Começo a me sentir um pouco enjoado. A realidade daqui penetra em mim apesar do esforço que fiz para ignorar rolos de arame farpado sobre grades grossas de aço, prédios sem janelas, placas agressivas sobre consequências de traficar drogas para prisões.
Ainda não consigo evitar o mal-estar, apesar de fazer isso pelo menos uma vez por mês desde novembro.
O caminho da revista até a sala de visitas talvez seja a pior parte.
É composto por um labirinto de concreto e arame farpado e, durante todo o percurso, somos guiados por guardas diferentes que estão sempre tirando chaveiros do cinto para abrir portões e portas que precisam ser trancados antes que a gente dê um passo em direção aos seguintes. É um lindo dia de primavera. O céu, com seu azul provocador, mal pode ser visto acima das cercas.
A sala de visitas é melhor. Crianças correm entre mesas ou são erguidas, aos gritos, por pais musculosos. Prisioneiros usam macacões de cores vivas que os diferenciam do resto de nós.
Homens usando o laranja vibrante se aproximam mais das namoradas do que permitem as regras rígidas, dedos entrelaçados com força. Há mais emoção aqui do que em um saguão de aeroporto. Simplesmente amor perdeu uma boa oportunidade.
Eu me sento na mesa designada. Espero. Quando trazem Richie, meu estômago se revira de forma estranha, como se quisesse ficar do avesso. Ele parece cansado e sujo, rosto encovado, cabeça raspada às pressas. Está usando a única calça jeans que tem — não quer que eu o veja com o moletom da prisão —, mas ela está folgada demais na cintura. Odeio isso, odeio isso, odeio isso.
Levanto e sorrio, abrindo os braços para abraçá-lo. Espero que ele venha até mim; não posso deixar a área designada. Guardas estão perfilados diante das paredes, observando de perto, rostos inexpressivos.
Richie, me dando um tapa nas costas: E aí, mano, você está ótimo!
Eu: Você também.
Richie: Mentiroso. Estou uma merda. A água foi cortada depois de uma briga na Ala E. Não tenho a menor ideia de quando vão abrir de novo, mas até lá não recomendo que use o banheiro.
Eu: Beleza. Como você está?
Richie: Ótimo. Teve notícias do Sal?
Achei que pudesse evitar o assunto por pelo menos um minuto.
Eu: Tive. Ele pediu desculpa pelos documentos que estão atrasando a audiência de apelação, Richie. Ele está correndo atrás disso.
O rosto de Richie se fecha.
Richie: Não posso ficar esperando para sempre, Lee.
Eu: Se quiser posso tentar achar outro advogado.
Silêncio triste. Richie sabe tão bem quanto eu que isso provavelmente só vai atrasar ainda mais o processo.
Richie: Ele conseguiu a gravação do circuito interno do mercado?
Será que ele pediu essa gravação? Estou começando a duvidar, apesar de ele ter dito que pediu. Esfrego a nuca, olho para baixo, desejo cada vez mais que Richie e eu estivéssemos em qualquer outro lugar.
Eu: Ainda não.
Richie: Essa é a solução, cara, estou dizendo. A câmera do mercado vai mostrar a eles. Eles vão ver que não sou eu.
Queria que fosse verdade. Mas será que as imagens são de alta resolução? Qual é a probabilidade de serem nítidas o bastante para contrapor a identificação das testemunhas?
Falamos sobre o pedido de apelação por quase uma hora. Não consigo tirar o assunto da cabeça dele. Análises, provas ignoradas, sempre a história da gravação do mercado. Esperança, esperança, esperança.
Vou embora com as pernas tremendo, pego um táxi até a estação. Preciso de açúcar. Trouxe na mochila o tiffin que Tiffy fez;
como umas três mil calorias enquanto o trem corre pelo interior, um campo plano após outro, me levando para longe do meu irmão e de volta para o lugar onde todos já se esqueceram dele.
• • • Encontro o saco de cachecóis no meio do quarto quando chego em casa. Tem um bilhete de Tiffy preso à lateral.
O sr. Prior faz cachecóis que valem duzentas libras? E ele nem demora tanto assim! Caramba. Penso em todas as vezes que recusei novos cachecóis, chapéus, luvas ou capas para chaleiras. A essa altura já seria bilionário.
• • • Na porta do quarto:
Oi, Tiffy, OBRIGADO por me avisar sobre os cachecóis. É, preciso mesmo do dinheiro. Vou vender tudo. Você pode me dizer onde/como?
Um senhor do trabalho tricota. Ele basicamente dá para qualquer pessoa que quiser levar (senão me sentiria mal por ficar com o dinheiro...) Leon Oi, Ah, com certeza. Você deveria vender pelo Etsy ou pelo Preloved.
Esses sites têm milhares de clientes que vão amar esses cachecóis.
Hum... É uma pergunta estranha, mas será que esse senhor do seu trabalho estaria interessado em tricotar por encomenda?
Bjos, Tiffy Não faço ideia do que isso significa. Falando nisso, pegue seu cachecol favorito. Vou pôr o resto na internet hoje à noite.
Leon Caído no chão do quarto (muito difícil de achar):
Bom dia, É que estou trabalhando em um livro chamado Crochê para a vida (eu sei, é um dos meus melhores títulos) e precisamos que alguém faça quatro cachecóis e oito chapéus muito, muito rápido para fotografarmos e incluirmos no livro. Ele teria que seguir as instruções da autora (em relação às cores, aos pontos etc.). Posso pagar, só não vai ser um valor muito alto. Você me passaria o contato dele? Estou desesperada, e ele é obviamente muito talentoso.
Ai, meu Deus, vou usar este cachecol o tempo todo (não dou a mínima se já está fazendo calor). Adorei. Obrigada!
Bjos, Tiffy De novo na porta do quarto:
Bom. Não sei por que essa ideia não daria certo, mas tenho que consultar a diretora. Escreva uma carta para eu levar para ela e depois para o tricotador, se ela concordar.
Já que você vai usar o cachecol o tempo todo, será que poderia se livrar dos outros quinhentos que estão ocupando seu lado do armário?
Outra novidade: o primeiro cachecol acabou de ser vendido por duzentas e trinta e cinco libras! Que loucura. Nem é bonito!
Leon No balcão da cozinha, ao lado de um envelope fechado:
Oi, “Seu lado” é a parte essencial da sua frase, Leon. O lado é meu e eu quero enchê-lo de cachecóis.
A carta está aqui. Me avise se precisar que eu mude algo. Falando nisso, em algum momento vamos ter que jogar fora alguns desses bilhetes. O apartamento está começando a parecer o cenário de Uma mente brilhante.
Bjos, Tiffy Entrego a carta de Tiffy para a diretora. Ela permite que o sr.
Prior tricote para o livro dela. Ou faça crochê. A diferença é pouco clara para mim. Sem dúvida Tiffy vai escrever um bilhete comprido em algum momento com a explicação detalhada, sem que eu peça.
Ela adora explicações detalhadas. Por que usar uma frase se pode usar cinco? Mulher estranha, ridícula, divertida.
Na noite seguinte, o sr. Prior já fez dois chapéus. Eles têm forma de chapéu e são de lã, então suponho que tenham saído como o planejado.
O único problema do acordo é que agora o sr. Prior está fascinado por Tiffy.
Sr. Prior: Então ela é editora.
Eu: É.
Sr. Prior: Que profissão interessante.
Uma pausa.
Sr. Prior: E ela mora com você?
Eu: Aham.
Sr. Prior: Que interessante.
Olho para ele de esguelha enquanto preencho seu prontuário.
Ele pisca para mim, olhos redondos e inocentes.
Sr. Prior: Eu não imaginei que você fosse gostar de morar com outra pessoa. Você gosta muito da sua independência. É por isso até que não quer morar com a Kay, né?
Tenho que parar de falar de vida pessoal com pacientes.
Eu: É diferente. Não tenho que ver a Tiffy. A gente só deixa bilhetes um para o outro, na verdade.
Sr. Prior assente, pensativo.
Sr. Prior: A arte de escrever cartas. Uma carta é uma coisa...
profundamente íntima, não é?
Encaro, desconfiado. Não sei o que ele quer dizer.
Eu: São Post-its na geladeira, sr. Prior, não cartas entregues em mãos, em papéis perfumados.
Sr. Prior: Ah, claro, você está certo. Obviamente. Post-its. Não há arte nisso, claro.
• • • Na noite seguinte, até Holly já está sabendo de Tiffy. Incrível como notícias pouco interessantes viajam rápido entre alas em que a maioria das pessoas está de cama.
Holly: Ela é bonita?
Eu: Não sei, Holly. Que diferença faz?
Holly faz uma pausa. Pensativa.
Holly: Ela é legal?
Eu, depois de pensar um pouco: É, ela é legal. Um pouco intrometida e esquisita, mas legal.
Holly: O que significa ela ser sua “colega de apartamento”?
Eu: Colega de apartamento significa que ela divide o apartamento comigo. A gente mora junto.
Holly, olhos arregalados: Tipo namorados?
Eu: Não, não. Ela não é minha namorada. É uma amiga.
Holly: Então vocês dormem em quartos separados?
Sou bipado antes de precisar responder. Ainda bem.

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