Prólogo

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Quando perdi meus pais aos oito anos, a dor parecia infinita. Naquele instante, percebi que minha infância terminava ali. Lilly, com apenas dois anos, dependia de mim para tudo.

Meu pai era o líder de uma máfia, um homem poderoso e temido por muitos. Mesmo eu sendo apenas uma criança, eu sabia que sua vida era cheia de riscos.

Minha mãe... A  Ayla. Ah, como sinto falta dela. Meu pai me disse que ela morreu de câncer no hospital, mas até hoje algo nisso nunca fez sentido para mim.

Antes de sua morte, ele sempre me dizia que ela estava se recuperando, que as coisas iriam melhorar.

Ela era uma mulher forte, cheia de vida, e por mais que estivesse doente, nunca demonstrou fraqueza diante de mim. Foi tudo tão repentino, de um dia para o outro, simplesmente, ela se foi.

Minha mãe sempre foi carinhosa, sempre fez de tudo para me proteger e me mostrar que o amor poderia nos sustentar nos piores momentos.

Meu pai, apesar de sua vida perigosa, também me dava afeto, me ensinava que a família vinha em primeiro lugar, acima de tudo. Juntos, eles eram meu refúgio, meu porto seguro.

Mas a maneira como tudo aconteceu... Algo sempre me pareceu errado. A morte dela nunca me pareceu uma simples consequência da doença.

Era como se houvesse algo escondido, uma verdade que meu pai não quis ou não pôde me contar.

E, desde então, essa dúvida me assombra, crescendo no silêncio das noites em que eu me sentia mais sozinha do que nunca.

No fundo, sempre tive medo de que algo ruim acontecesse, mas nunca imaginei que a notícia da sua morte chegaria tão cedo e de uma forma tão brutal.

Ravi, o meu pai foi assassinado a tiros por uma máfia rival...

Até hoje eu penso em descobrir quem foi o desgraçado que me tirou uma pessoa importante.

Nunca soube o motivo, ninguém se preocupou em me contar os detalhes. Só me restou o vazio de uma despedida que nunca aconteceu.

O dia em que encontraram seu corpo foi o dia em que meu coração se partiu de vez.

Cada palavra que ouvia sobre sua morte me destruía um pouco mais, como se o mundo estivesse desmoronando ao meu redor.

E, enquanto eu sofria em silêncio, William não demonstrou nenhuma compaixão.

Ele não derramou uma lágrima, não ofereceu um ombro para me consolar.

Para ele, a morte do meu pai foi apenas uma oportunidade de assumir o controle, de me prender em seu domínio sombrio.

Antes de partir para um de seus negócios, meu pai confiou William a missão de cuidar de mim.

Era para ser temporário, até que ele voltasse. Mas ele nunca voltou. E, desde então, o homem que deveria me proteger se tornou meu maior pesadelo.

A partir daquele momento, minha vida virou um inferno, e tudo que me restava era a responsabilidade de proteger Lilly da mesma dor que me sufocava.

Eu me obriguei a ser forte, a crescer antes do tempo, porque sabia que não havia mais ninguém para protegê-la, exceto eu.

Meu tio William deveria ter sido nosso amparo, mas ele se aproveitou da nossa fragilidade.

Todas as noites, ele me tratava como um lixo, e me tocava destruindo pouco a pouco o que restava de mim.

Eu me sentia imunda, sufocada por uma culpa que não era minha, mas que parecia me consumir.

Aprendi que algumas cicatrizes nunca desaparecem, mas é nelas que encontro a lembrança de que sobrevivi.

Cada dia era uma batalha para sobreviver, enquanto a dor se instalava no meu peito, tornando-se parte de quem eu era.

Félix foi meu único alívio. Ele apareceu após a tragédia e, com sua bondade, trouxe uma luz que eu não sabia que ainda existia.

Sua mãe me tratava como uma filha, e todos os dias eu fugia para a casa deles com Lilly, buscando um lugar onde eu pudesse respirar, onde a presença de William não pudesse me alcançar.

Mas, aos 13 anos, a última coisa boa que eu tinha foi tirada de mim.

Meu tio decidiu que nos mudaríamos para Nova York, e assim me despedi de Félix sem saber que seria a última vez.

Desde então, segui cuidando de Lilly, crescendo rápido demais, sempre lutando para esconder as cicatrizes que William me deixou.

Às vezes, a dor se torna tão profunda que você aprende a sorrir com o coração em pedaços.

...

Porque você se foi papai?

Está tudo tão difícil depois da sua perda...

A família Gonzales se despedaçou em partes...

Quando nos mudamos para Nova York, senti que a esperança escapava das minhas mãos.

William continuava a me atormentar, mas agora, longe de tudo que eu conhecia, não havia nem mesmo Félix para me confortar.

Eu sabia que não poderia continuar vivendo daquela forma. Um dia, a coragem ou talvez o desespero falou mais alto.

Eu Fugi de casa, deixando Lilly trancada no quarto, segura do que eu pudesse garantir pois eu iria voltar.

Havia apenas uma pessoa em quem eu podia conversar: meu padrinho. Jean..

Lembrava vagamente de sua casa, de como ele parecia ser alguém que se importava comigo antes de tudo desmoronar.

Minhas lembranças eram nebulosas, mas, por sorte, ele ainda morava no mesmo lugar. Eu precisava dele, não por mim, mas por Lilly.

Não podia deixar que ela sofresse da mesma forma que eu sofri.

Naquela noite, enquanto caminhava pelas ruas frias de Nova York, com o coração pesado e os pés cansados, a única coisa que me mantinha em movimento era o pensamento de que, talvez, eu estivesse finalmente encontrando um caminho para salvar a mim e a minha irmã.

Mas, às vezes, a esperança é uma lâmina afiada, ela te dá força para continuar, mas também te corta quando você menos espera.

...

Aprendi que, por mais que o mundo me quebrasse, eu sempre encontrava uma forma de juntar os pedaços e seguir em frente.

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