10- Borboleta branca

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Eu sempre pensei que Jungkook fosse como a lua. Uma lua escura que mantinha o lado oculto escondido de todos, brilhando na escuridão até ofuscar as estrelas.
Mas eu estava errado.

Jungkook era como o sol. Vasto, ardente e inacessível. Queimava a pele. Cegava.
Desnudava os pensamentos e semeava dentro de mim sombras que envolviam tudo.

Quando eu chegava em casa, a jaqueta dele estava sempre ali. Bem que eu queria poder dizer que não me importava com aquilo, mas seria mentira. Tudo era diferente quando ele estava por perto. Os meus olhos o procuravam. O meu coração afundava.
A minha mente não me dava trégua, e o único jeito de evitar encontrar aquele olhar perturbador era me trancar no quarto o dia inteiro, até Anna e Norman voltarem para casa.

Eu me escondia dele, mas a verdade era que existia algo que me assustava muito mais do que aquele olhar penetrante ou o tempe ramento indiferente e imprevisível.
Algo que se agitava no meu peito, mesmo quando paredes e tijolos nos separavam.

Certa tarde, porém, resolvi deixar as inseguranças de lado e ir ao jardim para aproveitar um pouco do sol. Nessa região, o mês de fevereiro era ameno, claro e
fresco — nunca tínhamos invernos excessivamente rigorosos.

Para aqueles que, assim como eu, tinham nascido e vivido no sul, não era difícil imaginar estações tão amenas: árvores sem folhas e ruas molhadas, nuvens brancas em um céu que já cheirava à primavera ao amanhecer.

Amei sentir a grama sob os pés descalços de novo. O sol desenhava um rendilhado de luzes na grama enquanto eu estudava à sombra de um damasqueiro,reencontrando um resquício de serenidade.

A certa altura, um barulho chamou a minha atenção. Eu me levantei e me aproximei, curioso, mas, assim que descobri a origem do som, vi que não era nada de promissor.

Era uma vespa. Uma das patas estava presa na lama e, toda vez que tentava voar, as asas zumbiam. Apesar de toda a minha delicadeza, não pude deixar de olhar para ela com medo, estranhamente hesitante diante de um bichinho em apuros.

As abelhas eram muito fofas, com as patinhas rechonchudas e o pescoço
peludo, mas sempre tive um certo medo de vespas. Alguns anos antes, eu tinha levado uma picada feia: doera por vários
dias e eu não estava muito a fim de reviver aquela dor.

Mas a vespa seguiu se debatendo de forma tão inútil e desesperada que a parte mais terna de mim falou mais alto:aproximei-me inseguro, dividido entre o medo e a compaixão. Tentei ajudá-la com um graveto, tenso, mas saí correndo com um grito estridente assim que ela soltou aquele zumbido cavernoso de novo. Depois, voltei com o rabinho entre as pernas, aflito, tentando ajudá-la mais uma vez.

— Não me pica, por favor — implorei enquanto o graveto quebrava na
lama —, não me pica…

Quando consegui libertá-la, senti uma sensação de alívio no peito.Por um instante, quase sorri. Então, a vespa levantou voo.
E eu empalideci.

Larguei o graveto e corri feito louco: escondendo o rosto nas mãos, gritando de uma maneira vergonhosa e infantil. Tropecei nos meus próprios pés e perdi o equilíbrio nos ladrilhos da entrada. Teria caído se alguém não tivesse me segurado no último segundo.

— O que… — Ouvi atrás de mim. — Você está louco?

Eu me virei de supetão, desnorteado, ainda segurando as mãos que me envolviam. Dois olhos me encaravam, perplexos.

— Taemin?

O que ele estava fazendo ali no jardim?

— Eu juro que não estou perseguindo você — disse ele, envergonhado.

A Lenda Do Fabricante De Lágrimas ( VERSÃO JIKOOK )Onde histórias criam vida. Descubra agora