Eu me lembrava dela, da minha mãe.
Cabelo crespo e perfume de violetas, olhos cinzentos como o mar de inverno. Mas me lembrava dela porque tinha mãos quentinhas e um sorriso gentil, porque sempre me deixava segurar os espécimes que estudava.“Vai devagarzinho”, sussurrava naquela lembrança, enquanto uma belíssima borboleta azul deslizava das mãos dela para as minhas. “É importante ter delicadeza, Jimin”, dizia-me. “De licadeza, sempre… Lembre-se disso.”
Eu queria lhe dizer que tinha acreditado naquilo. Que eu tinha guardado aquelas palavras dentro de mim, um tijolinho
com o qual construí o meu coração.
Queria lhe dizer que sempre me lembrava delas, mesmo quando o calor das suas mãos se foi e as minhas se encheram de curativos, a única cor que me restava.Mesmo quando os meus pesadelos eram pontuados pelo estalo do couro. Mas, naquele momento… Só queria dizer à minha mãe que, às vezes, a delicadeza não era o bastante. Que as pessoas não eram borboletas e que eu poderia ir tão devagarzinho quanto quisesse, mas elas não se permitiriam ser tratadas com cuidado.
Eu sempre me veria coberto de mordidas e arranhões, e acabaria com um monte de feridas que não conseguia curar.
Essa era a verdade.Na escuridão do quarto, eu me sentia um boneco esquecido.O olhar vazio, os braços em volta dos joelhos. A tela do celular voltou a se acender, mas não me levantei para atender. Não tive coragem de ler mais nada. Eu já sabia o que estava escrito ali, a sequência de mensagens de Taemin
trazia uma acusação atrás da outra.“Olha o que ele fez.”
“Eu falei pra ele parar.”
“Foi ele que começou.”
“A culpa é dele.”
“Ele me atacou sem motivo.”
Eu já tinha visto aquilo acontecer muitas vezes, não tinha mais forças para duvidar que fosse verdade. No fundo, Jungkook sempre tinha sido isso. Violento e cruel, assim Peter o definira.
E, por mais que eu tentasse encaixá-lo nas páginas dessa nova realidade, ele nunca estaria ali. Ele sempre me oprimiria e me destruiria, e eu acabaria perdendo pedaços de mim mesmo, dia após dia. Naquele momento, desejei que Anna e Norman nunca tivessem viajado; desejei que Anna estivesse ali, dizendo-me que para tudo na vida tinha um jeito…
Teria acontecido de qualquer maneira, os meus pensamentos sussurravam para mim. Quer eles tivessem ficado em casa ou não, mais cedo ou mais tarde tudo iria pelo ralo.
Eu me esvaziei com um suspiro. Engoli em seco e me dei conta de que estava morrendo de sede. Decidi me levantar. Já estava ali havia horas, lá fora estava um breu. Antes de sair, conferi se o corredor estava vazio; encontrar Jungkook era a
última coisa que eu queria.Desci a escada no escuro; não estava mais chovendo, o brilho da lua por trás das nuvens iluminava os contornos dos móveis e permitia que eu me movesse sem dificuldade.
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A Lenda Do Fabricante De Lágrimas ( VERSÃO JIKOOK )
FanficNo lugar a qual eu vivia, sempre nos contavam várias histórias; contos de ninar, histórias de terror, lendas e várias outras, entre elas a mais conhecida era a do fabricante de lágrimas. Nela falava de um mundo onde ninguém chorava, todos eram despi...