11- Acrasia

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Violento e cruel.

Essa era a dele. Manipulador com quem queria encantar, terrível com o restante.
Jungkook me mostrava o sangue nas mãos, os arranhões no rosto, a crueldade nos olhos quando machucava alguém. Rosnava para que eu ficasse longe, mas, ao mesmo tempo, aquele sorriso sombrio e zombeteiro  parecia me desafiar a fazer o contrario.

Ele não era um príncipe. Era um lobo. E talvez todos os lobos parecessem príncipes esplêndidos e delicados; caso contrário, Chapeuzinho Vermelho não se deixaria enganar. Essa era a conclusão que eu sabia que precisava aceitar.

Não havia luzes.
Não havia esperança.
Não com alguém como Jungkook.
Por que eu não conseguia entender isso?

— Estamos prontos — avisou Norman.

O dia da partida havia chegado rápido demais e, enquanto eu colocava as malas de viagem ao pé da escada, senti um desconforto estranho e inexplicável.

Quando Anna e eu nos entreolhamos, entendi que me sentia assim porque sabia que só a veria de novo mais tarde. Por mais que eu estivesse ciente do meu apego excessivo, vê-los indo embora me causava uma estranha sensação de abandono que remontava à infância.

— Vocês vão ficar bem? — perguntou Anna, preocupada.

A ideia de nos deixar um dia inteiro sozinhos a preocupava, principalmente por estarmos em uma fase delicada da adoção. Eu sabia que ela não considerava um bom momento para viajar, mas eu a havia tranquilizado dizendo que nos veríamos naquela noite e que, quando ela voltasse,
nos encontraria ali.

— A gente liga quando pousar.

Ela ajeitou o lenço e eu fiz que sim, tentando sorrir. Jungkook logo atrás de mim.

— Não se esqueçam de colocar a do nosso bichano. — lembrou Norman com humor
e, apesar de tudo, senti o rosto se iluminar.

Olhei ansiosamente para o gatinho e o vi me lançar um olhar sinistro antes de passar por mim, mostrando-me o traseiro, sem sequer encostar na gente.

Anna apertou o ombro de Jungkook enquanto me olhava. Ela sorriu para
mim e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— A gente se vê hoje à noite — disse ela, toda delicada.

Fiquei onde estava enquanto eles se dirigiam à porta. Parei perto da escada e acenei para os dois antes de saírem.O clique da fechadura ecoou no silêncio da casa. Poucos instantes depois, ouvi passos atrás de mim, mas só tive tempo de ver as costas de Jungkook desaparecendo no andar de cima. Ele foi embora sem se dignar a me olhar.

Encarei fixamente o ponto em que ele desaparecia antes de me virar: observei a porta da frente e suspirei.

Eles voltariam logo, logo… Fiquei parado na entrada, como se Norman e Anna pudessem reaparecer a qualquer momento. Eu me vi sentado no chão, de pernas cruzadas, sem saber como. Tamborilei os dedos no piso, seguindo um sulco na madeira, e me perguntei para onde o gatinho tinha ido.

Inclinei a cabeça na direção da sala e o vi no centro do tape te, lambendo a pata. Ele movia a cabecinha para cima e para baixo e não pude deixar de achá-lo fofo.

Será que estava a fim de brincar?

Eu me agachei atrás da parede e o espiei. Então, tentando me esconder, rastejei na direção dele. Mas ele sacudiu o rabo algumas vezes e foi embora. Eu me sentei sobre os calcanhares, meio frustrado, antes de resolver subir ao meu quarto para estudar.

Cheguei ao andar de cima me perguntando a que horas Anna e Norman pousariam no aeroporto. Estava imerso em pensamentos quando algo chamou a minha atenção: ao me virar, o meu olhar foi atraído para o
centro do corredor.

A Lenda Do Fabricante De Lágrimas ( VERSÃO JIKOOK )Onde histórias criam vida. Descubra agora