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Dazai suspira quando chega em casa. O peso do mundo parecendo se escorar em seus ombros, em seu corpo, na sua alma. Seus olhos se movem para o teto cheio de estrelas quando ele se joga na cama, não dando a mínima para mais nada. 
Desde a morte de seu irmão mais velho três meses atrás, toda a responsabilidade da casa e da faculdade recaiu sobre ele, além do plano funerário, que por sorte Oda já havia pagado algumas prestações. 

Dazai se perguntava se Oda sentiu que valia a pena quando se jogou sem pensar para salvar aquela criança desconhecida. Valia a pena morrer por outros, mesmo que não fizessem parte da sua família? Pra Oda certamente pareceu que sim, já que o homem nem hesitou antes de correr para o meio da rua e empurrar a criança com todas as forças para longe do carro que corria em alta velocidade em direção a ele. 

Foi uma morte instantânea, Dazai sempre se lembrava da voz do médico o contando. Oda não sentiu dor, seu corpo sofreu, mas ele não sentiu nada. Ele apenas morreu. 

Quem sentiu foi Dazai, irmão mais novo, e Ango, melhor amigo e recém namorado do homem. Se Dazai levasse em consideração as cartas de amor guardadas por Oda em seu guarda roupa, todas assinadas por Sakaguchi Ango, com uma caixa de anéis do lado e folhas secas de um buquê. 

Dazai ainda visitava a criança, feliz por ela estar viva e sem nenhuma sequela. Não a culpava, o culpado estava morto, morreu juntamente com Oda naquele dia que nunca sairia da mente de Dazai.  

Ele sentia falta do seu irmão mais velho. 

Seu olhar se move para seu celular quando ele pisca duas vezes. Suspirando, Dazai se vira na cama, alcançando seu celular. Ele mal olha para a tela antes de se levantar e correr para se arrumar. 

Havia esquecido seu encontro com seu cunhado, Ango. 

Se arrumando rapidamente, ele pega suas chaves de casa, celular e uma pequena caixa de cigarros. Um pequeno vício que havia adquirido nesses três meses de puro estresse. Ele fecha os olhos e respira fundo quando sai pra fora do prédio, a cacofonia de barulhos atingindo seus ouvidos no momento em que pôs os pés para fora. Tudo estava o atingindo com mais força, barulhos altos, buzinas de carros, gritos, choro de criança. 
Tudo isso o fazia reviver os quinze segundos em que viu seu irmão sair correndo do seu lado para simplesmente ser jogado longe por um carro. 

Seus pensamentos o engolem por inteiro, ao ponto que ele mal percebe quando chega no café em que marcou com Ango. Ele solta um riso forçado pelo nariz, sabendo claramente que só havia chegado ali porque seu corpo sabia de cor o caminho para esse café. Era o favorito de Oda. 

Suspirando com o ar quente que o atinge ao entrar no estabelecimento, Dazai olha em volta, caminhando diretamente para uma das mesas ao fundo, onde um homem de óculos e aparência cansada estava sentado. 

— Dazai, você está aqui! 

Seu olhar observa o velho amigo, vendo o quão grande eram as bolsas de olheiras abaixo dos olhos, o cansaço claro em seus olhos avermelhados. Ango parecia ter envelhecido uns bons dez anos, o que fazia Dazai se lembrar que não era só ele que estava em extrema dor. 
Ango era amigo de infância de Odasaku. Dazai se lembra claramente da dupla saindo para brincar todos os dias, e do ciúme que ele sentia quando Ango roubava toda a atenção que seu irmão mais velho tinha em si. Com o passar dos anos, esse ciúme passou, já que ele mesmo havia se tornado um bom amigo de Ango. Mas ele percebia que entre seu irmão e entre seu amigo rolava alguma outra coisa. Os dois não sabiam disfarçar os olhares, os toques, os sorrisos trocados, o que muitas vezes fazia Dazai estalar a língua e revirar os olhos, entediado com a lerdeza dos dois. 

O relacionamento deles foi evoluindo, Dazai tendo os pegado nos beijos inúmeras vezes, mas sempre ignorando para não os constranger mais. A mudança da casa dos pais para o 'próprio' apartamento, foi uma abertura a mais para esse relacionamento, o que infelizmente o fez escutar seu amigo gemendo no quarto ao lado. Parando para pensar, agora isso são memórias que não o constrange mais, mas que o fazem ter vontade de voltar no tempo porque sabia que Ango estaria gemendo para seu irmão. 

Seu irmão vivo, Oda. 

Que pensamento fodido. 

— Ango. 

Dazai cumprimenta, pendurando sua bolsa da cadeira e se sentando com um suspiro. Ele encara o pequeno cardápio, todo o conteúdo nele sendo decorado pelas inúmeras visitas ali. Ele escuta Ango suspirar, o fazendo estremecer um pouco e desviar o olhar do cardápio. 

— Pensei que não viria. 

— Desculpa. 

— Não prec... — Ango para, tirando os óculos e levando as mãos até os olhos, os esfregando. Outro suspiro escapa de seus lábios, fazendo Dazai querer ir embora. — Como você está? 

— Bem. 

— Dazai...

— Estou bem, Ango. — ele acena para o conhecido garçom quando um copo de café americano é entregue a ele. Dazai dá um gole, sentindo o calor queimar sua garganta. — Você deveria se preocupar com você mesmo. Oda não gostaria de te ver assim. 

Suas palavras parecem quebrar Ango um pouco mais. O homem de repente se encolhendo na cadeira faz Dazai querer engolir suas palavras. Eles não falavam de Oda, eles não queriam falar em Oda. 

— Desculpa. 

— Não, você...você está certo. — o velho amigo sorri sem emoção, sem o calor de antes. Ele pigarreou antes de voltar a falar. — Imagino que você queira passar o dia sozinho amanhã. 

Dazai acena com a cabeça, voltando sua atenção para o copo com líquido preto em sua frente. Amanhã seria o dia de visitar o cemitério, de sentar no chão e encarar o nome gravado na lápide sem conseguir acreditar ainda. Amanhã seria o quarto mês sem Sakunosuke Oda. Seu silêncio parece pontuar o término da conversa. Ango se levanta, deixando duas notas em cima da mesa e voltando a vestir seu casaco. Dazai não se despede, ele não precisa. 

Ž Vou me mudar semana que vem. — Ango diz baixinho quando passa por si. Dazai agarra o café com força, sua respiração suspensa. — Podemos nos encontrar aqui no dia vinte e dois? 

Dazai apenas acena com a cabeça, não confiando que sua voz sairia. Ele sentiu seus dedos tremerem em volta do copo. Ango suspirou, deixando um tapinha em seus ombros antes de se afastar com uma despedida que também o parte um pouquinho mais. 

— Se cuida, Dazai. Oda também não gostaria de te ver assim. 

Merda. 

oioi gente, tudo bem?

trouxe outra shortfic soukoku, confesso que essa nem era pra ser postada agora, maaaaaaas, me empolguei um pouco e é isso.

deixo avisado que o capítulo não está revisado e as atualizações serão um pouco lentas, pelo menos até eu concluir a obra.

espero que gostem da proposta dessa fanfic :((

não esqueçam de comentar e favoritar, que me deixa muito feliz!!!

até o próximo capítulo, beijos! 💋

LOVE ME, soukoku Onde histórias criam vida. Descubra agora