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Voltar para casa nunca pareceu tão difícil, ainda mais com a constatação de que daqui umas semanas ele estaria sozinho. Ele culpava Ango, por ter dito aquelas coisas antes de sair pela porta da cafeteria.

Primeiro foi Oda quem foi embora, agora Ango também iria.

Isso era muito para Dazai compreender, e nem mesmo uma carteira inteira de cigarros o fez entender porque todos pareciam o deixar. Caminhava por uma parte mais vazia da cidade, o vento gelado infiltrando por todo seu ser. Ele não sabia que horas eram, tendo se perdido em um momento não sóbrio de pensamentos.
Provavelmente passava de meia noite, Dazai suspira.
Seus olhos se movem para a ponte solitária a alguns passos de distância, um pequeno e fraco poste iluminando acima.

Retirando o último cigarro da sua carteira, ele acende enquanto caminha até lá.

Meia noite, sábado, dia quinze.

Quatro meses da morte de Sakunosuke Oda, seu querido e amado irmão.

Tragando o cigarro com força, ele exala toda aquela fumaça tóxica, observando o vento levá-la para qualquer lugar que fosse. Ele pensa que queria ser como aquela fumaça, desaparecendo antes mesmo de alguém poder reparar. Seus passos se aproximam da ponte, percebendo que abaixo dela um trilho meio torto de trilhos foi construído.
Ele para debaixo da luz do poste, apenas olhando para o horizonte, seus pensamentos bagunçados em sua mente.

— Feliz quatro meses sem você, Odasaku.

Sua voz é como uma fumaça, desaparecendo a partir do momento em que é exalada para fora. Suas pernas enfraquecem, fazendo suas mãos procurarem apoio nas grades da ponte, seu cigarro caindo no meio do caminho. Seu peito parece retumbar com as bruscas respirações que saiam por seu ser.

Aquilo estava doendo.

Agachado na ponte, com sua cabeça descansando em suas mãos, Dazai se permite sentir toda a dor que não pôde demonstrar no trabalho, na faculdade, na frente de Ango. Ele pensou que se alguém passasse por ele naquele momento, o acharia um louco, levando em consideração as caretas que estava fazendo para evitar chorar.

Ele podia sentir dor, mas ele não queria chorar. Odiava chorar.

Chorar o lembrava de seus tempos no ensino fundamental, onde garotos da escola o machucaram só pra ele poder chorar. Bateram em seu rosto pra ele chorar. Chutaram seu estômago pra ele chorar. Falaram coisas más pra ele chorar.
Mas ele nunca chorou na frente deles, mas sim de Oda.

Oda foi sua âncora em praticamente todos os quesitos. Desde o momento em que foi expulso de casa quando estava no ensino médio, até mesmo quando havia quebrado o braço e não podia tomar banho sozinho. Oda sempre o mantinha em pé, nunca o deixando cair, mesmo que fosse ele mesmo a pessoa caída.

Mas agora....

— As vezes te odeio por ter tido um coração tão bom. — sua voz soa toda quebrada, sendo levada pelo vento. — Queria estar comemorando seu namoro com Ango, não sofrendo pela sua morte, idiota.

Sua voz soava brava e quebrada. Com muitos sentimentos, sentimentos de perda, e vários de ódio, rancor também.

Ele fica em silêncio, apenas sua respiração descontrolada o acompanhando. Num momento de imprevisibilidade, ele se vê de pé, seu corpo escorado por inteiro na grade. Seus olhos observam os trilhos lá embaixo, imaginando se doeria cair dali de cima.
Provavelmente sim, doeria muito, mas não mais que a dor assolada em seu peito nesse momento.

Ele fecha os olhos, deixando o vento brincar com seu corpo, o movendo para frente e para trás, sem nunca realmente perder o equilíbrio.
Seu corpo se impulsiona pra frente, o fazendo sorrir e abrir os olhos. Mas da mesma forma que seu corpo foi para frente, ele foi puxado para trás. Dazai bufa, vendo seu casaco preso nos fios de ferro soltos da grade.

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