Capítulo Três - Boas vindas em grande estilo! Part.1

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A viagem para a capital aconteceu tranquilamente na maior parte do tempo.

Os Garden foram em duas carruagem. Eleonora e Isaac foram na carruagem da frente e as meninas atrás. O caminho era cheio de árvores e lama, e as carruagem chocalhavam em cada pedrinha que passava. Ginger aproveitou que estava só no banco, de frente para sua irmãs, para olhar a paisagem até seus olhos cansarem de verde e campinas. Diferente de suas irmãs, ela não conseguia ler, bordar ou fazer tricô, enquanto se movia, pois ficava facilmente enjoada, então contava arvores até dormir. Em One Hall havia poucas estalagens entre os vilarejos periféricos, mas como o principado não era enorme, e não choveu, levou poucos dias para chegarem ás bordas da capital. 

Por está em uma posição propicia, Ginger foi a primeira a ver a grande barreira de Qixing. Era como se uma cúpula enorme se erguesse por cima da cidade, de entre as arvores e montanhas, assim como uma bolha de sabão com miríades de cores. 

-Parece mágica. 

Comentou Ginger, sorrindo encantada para suas irmãs. 

Soul, com duas agulhas de tricô de ferro nas mãos e um novelo lilás em uma cesta aos seus pés levanta a cabeça e sorri de volta. Sua irmã nunca tinha vindo a capital, One Hall. Todos os que viam a barreira pela primeira vez ficavam encantados. One Hall foi planejada e construída de modo a ficar de costas para a costa em uma posição estratégica, entre altos e íngremes morros, se estendendo por uma longa península. Toda a região da península depois de One Hall, se dividia em pequenos vilarejos e cidades medianas. Era comum vê pastagens e portos. Parecia uma sociedade comum, vivendo pacificamente, tão longe das hordas que em alguns momentos os mortos-vivos pareciam apenas lendas. Exceto quando alguém morresse e tinha que ser finalizado novamente, de preferência antes de se levantarem novamente. Contudo, depois de One Hall, da muralha e barreiras da cidade, a Terra dos Mortos pertencia aos mortos. 

-É mágica. De certo modo. 

Replicou Beverly sorrindo tristemente, colocando o dedo como marcador no livro de agricultura em sua mão. Lembrou que a ultima vez que foi á capital estava acompanhada de Abraham. Ele estava tão animado que não parava de falar, falou sobre sua família, sobre a cidade, sobre a barreira, sobre confeitarias e sobre floriculturas. Aquilo tudo era tão encantador na época, nem parecia que um dia iria acabar tão bruscamente.  

-Sempre tenho dificuldades em acreditar que foi a avó de Abraham que a levantou. 

Continua Beverly, suspirando pesadamente, o peito pesado. Os olhos de Ginger brilharam com a nova informação. Pareciam uma joia lapidada, uma ametista perfeitamente polida. De aparência Ginger era lindíssima. Quando sorria parecia uma pintura, uma fada. As orelhas longas e pontudas ajudavam nessa impressão. Ginger, corando de tão animada, e dando palminhas, perguntou: 

-Acha que vou conhecê-la? 

-Possivelmente, ela deve ter sido quem pressionou sobre o noivado.

Conjecturou Beverly, fechando o livro em seu colo. Lembrava pouco da Anciã Blackblood. Estava tão tímida quando a encontrou que nem levantou os olhos. Conhecer os Blackblood sem sua família foi intimidador. Não que eles fossem cruéis ou coisa do tipo, mas Beverly sentiu falta do apoio de sua família. Naquela época, Soul já tinha se alistado no exercito e Ginger passava por um complicado momento emocional, seus pais não podiam vim para a capital e deixá-la só. 

-Dizem que ela é muito poderosa. Só não entendo o por que ela não deu um fim aos mortos. 

Comentou Soul, continuando a fazer sua manta de tricô lilás. Quem a via fazendo aquela tarefa repetitiva pacientemente não imaginava o quão aventureira ela era. Não parecia uma atividade adequada para pessoas extremamente ativas. Sobretudo, nada na Soul deixava claro que tipo de emprego ela tinha, parecia mais uma princesa criada a leite e pera, sem nunca ter visto algo feio no mundo. Guardando o livro, Beverly respondeu:

-Até pessoas como ela tem limitações. 

-Aquele papo de permissão não me parece crível. 

Replicou Soul, sem levantar os olhos de sua obra e perdendo a olhadela de Beverly.

-Quem não te conhece acharia que você odeia os Blackblood. 

Observou Beverly pegando um cesto com itens de bordado de debaixo do banco. Ginger balançou a cabeça concordando. Não lembrava se sua irmã sempre foi arisca sobre os Blackblood ou se era algo recente. Soul parou seu tricô e olha para Beverly, com seus olhos semicerrados, ela retrucou:

-Eles nos governam, nada mais justo do que ser exigente. 

-É só por isso?

Questionou Beverly, com um sorrisinho, encaixando o tecido de algodão no bastidor de madeira. Ginger olhado Beverly começar a bordar sentiu um pouquinho de inveja. Amava bordar, mas não conseguia fazê-lo em movimento, por isso já estava semanas sem tocar em uma linha de bordado e uma agulha. Ela tinha um amor em especial pelo som da agulha atravessando o tecido. Era muito relaxante, poderia fazer por horas a fio, até suas costas e pulsos doerem. A vantagem de está prestes a casar é que ela poderia gastar horas bordando e ninguém poderia dizer nada. Já planejava as estampas de seu vestido e véu. 

-Sim... 

Responde Soul um pouco hesitante se continuava a falar. Olhando para os rostos pacientes de suas irmãs, ela decide se expor um pouquinho e continua a falar:

-E por que aparentemente duas de minhas duas irmãs vai casar naquela família. E se eles não forem flor que se cheire? Quantas famílias poderosas decentes existem no mundo?

-Nesse continente uma. Talvez duas, com a família da mamãe. 

Comenta Ginger, olhando novamente para a estrada. Ela era otimista sobre os Blackblood. E apesar de não conhecer a família de sua mãe acreditava que ela também era decente. Sua mãe contava muitas historias sobre quando vivia no Continente dos Dragões e a família dela parecia ser composto de pessoas leais. Talvez ela estivesse sendo ingênua, mas Ginger não queria pensar o pior nem dos Blackblood, nem dos Scarlet em um continente distante. 

-Eu queria me mudar pra lá.

Continua Ginger suspirando. A mamãe tinha dito que na terra natal dela não tinha morto-vivo e não tinha recrutamento compulsório para o exercito. Pelo menos não de mulheres. Para Ginger era algo próximo ao céu. Tudo bem, que ela não sabia o que faria da vida se tivesse tal liberdade, Ginger sempre gostou de roteiros, para a vida inclusive. Por isso ela não estava muito assustada com o noivado, de certo modo, o casamento sempre foi a única opção para Ginger, para a irritação de suas irmãs e até de seus pais. Nascer em uma família de aventureiros não era para todo mundo. Não que ela realmente não tivesse sonhos próprios. Talvez tivesse uma confeitaria ou uma loja de bordados, mas temia não ter ímpeto para isso. Por muito tempo, a população de One Hall não se preocupou com bens de consumo como bordados ou quitutes, afinal, eles precisavam lutar constantemente para sobreviver, mas nas últimas décadas o comércio de bens não essenciais se tornaram mais comuns. A população cresceu muito e com os portos, habitantes de outros continentes comercializavam com mais frequência. Só era proibido embarcar de habitantes da Terra dos Mortos. Ninguém queria levar um potencial zumbi para sua terra natal e quem o fizesse escondido corria o risco de ser jogado no oceano. 

-Lá tem os Corrompidos. 

Retruca Soul. Não existia lugar no mundo que realmente estivesse em paz. 

Ginger responde com uma careta. Sua irmã era sempre pessimista. Trabalhar viajando e investigando fora das muralhas matou o "eu sonhador" de Soul, então Ginger tendia a pegar leve sobre o cinismo de Soul. 

No resto da viagem não teve muita conversa. Ginger cochilou após cansar de ver a paisagem, Soul continuou seu tricô e Beverly seu bordado. 

Até que a carruagem para abruptamente. 

Ginger acorda de supetão, após bater a nuca no encosto do banco e antes que ela pudesse emitir qualquer som, Soul , que em algum momento enquanto Ginger dormia, sentou-se ao seu lado coloca a mão em sua boca. Confusa Ginger olha para sua irmã, que com os olhos arregalados, sussurra:

-Eles estão aqui. 

Ginger engole seco. O ambiente estava estranhamente silencioso. Ginger olha para sua irmã Beverly, que tinha os olhos verdes quase incandescentes, com um brilho verde saindo do fundo das pupilas completa:

-Os mortos estão aqui. 

Amor na Terra dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora