À Beira da Verdade

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Nos dias que se seguiram ao encontro no pier, Nina se pegou pensando em Erik constantemente. Algo nele a puxava como um imã, mas também a deixava inquieta, como se estivesse lidando com algo perigoso e inevitável. Cada frase, cada palavra dita naquela noite parecia ecoar na mente dela, como uma melodia repetida ao ponto da exaustão. Ela sabia que ele escondia algo grande, mas o que? Um segredo tão denso que parecia pesar no próprio ambiente quando ele estava por perto.

Certa tarde, enquanto voltava da escola, o celular de Nina vibrou. A mensagem era de um número desconhecido, mas ela soube imediatamente que era Erik. "Preciso te ver. Mesma cafeteria, às 20h." Simples e direto, sem uma palavra a mais.

Às 20h em ponto, ela entrou na cafeteria, e lá estava ele, sentado no mesmo canto discreto onde haviam se encontrado antes. Ele parecia diferente dessa vez - mais sério, como se a sombra sobre ele tivesse se intensificado. Assim que Nina se aproximou, ele olhou diretamente nos olhos dela, e por um instante o mundo pareceu parar. Erik parecia lutar contra algo dentro de si, como se aquela conversa fosse um peso quase impossível de carregar.

"Nina," ele começou, a voz baixa e hesitante. "Eu preciso que você entenda que, ao se aproximar de mim, você está correndo um risco. Você talvez não devesse estar aqui."

Ela sentiu um frio na espinha, mas algo dentro dela também não conseguia recuar. "Erik, eu já estou aqui. Se você quer que eu entenda, então me conta o que está acontecendo."

Ele olhou para ela, os olhos sombrios e quase tristes. Parecia querer falar, mas algo o prendia, uma hesitação que ela não conseguia decifrar. Após um longo silêncio, ele finalmente disse: "Meu passado é complicado, Nina. E, às vezes, eu sinto que nunca vou escapar dele, que estou preso, mesmo quando tudo o que eu faço é tentar fugir."

Nina percebeu a dor nas palavras dele. Cada frase era dita com uma seriedade que parecia carregar anos de sofrimento e de um peso que talvez ele nunca tivesse dividido com ninguém. "E por que você acha que eu não deveria me aproximar?" ela perguntou, tentando manter a voz firme, embora sentisse o nervosismo crescer.

Erik desviou o olhar, apertando os lábios como se estivesse decidindo o que poderia dizer. "Porque você é a única pessoa que me faz querer me abrir. E isso é perigoso. Eu sei o que acontece com quem se aproxima demais, quem tenta entender coisas que não deveria..."

"Erik, seja o que for, eu estou aqui para ouvir," ela insistiu, ignorando o medo que crescia dentro de si.

Ele a olhou com uma intensidade que a fez prender a respiração. "Eu não sei se você está pronta para isso, Nina. Para as coisas que aconteceram. Se soubesse o que eu carrego... você talvez nunca mais quisesse falar comigo."

Ela engoliu em seco, sentindo a tensão aumentar, mas não conseguia recuar. "Eu não vou te abandonar. Me conta."

Erik hesitou, como se pesasse cada palavra que diria a seguir. Após um longo momento, ele desviou o olhar, como se algo invisível o estivesse puxando de volta. "Algumas coisas ainda são difíceis demais para serem ditas. Mas, quando estiver pronto, eu vou te contar."

Nina o encarou, frustrada, mas não insistiu. Parecia que ele estava em uma luta interna que só ele podia vencer. Ela estendeu a mão e segurou a dele, num gesto inesperado de apoio. "Eu não vou embora, Erik. Eu só quero que você saiba disso."

Ele pareceu surpreso pelo toque, e por um segundo um sorriso apareceu em seu rosto, apenas para desaparecer logo em seguida. "Você realmente não entende no que está se metendo," ele murmurou, quase como se falasse para si mesmo.

Sem mais uma palavra, Erik se levantou e saiu da cafeteria, deixando Nina sentada ali, o coração acelerado e a mente a mil. Ela sabia que aquela conversa não lhe dava respostas, mas, de algum modo, a aproximava ainda mais daquele segredo que ele parecia carregar como uma maldição. E, por mais que soubesse dos riscos, não conseguia parar de se envolver.

Enquanto caminhava para casa naquela noite, Nina se pegou refletindo sobre todas as palavras não ditas, os gestos contidos, os olhares que pareciam esconder um passado escuro e quase proibido. Ela não sabia como, mas sentia que aquilo era só o começo, que ainda descobriria muito mais sobre Erik, e que talvez estivesse se aproximando perigosamente da verdade.

Talvez Erik estivesse certo. Talvez ela realmente não soubesse onde estava se metendo. Mas, por algum motivo, não conseguia parar.

Entre Confissões e Silêncios - Erik Menendez Onde histórias criam vida. Descubra agora