Quando as Verdades Machucam

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Nina saiu de casa com passos apressados, o coração batendo forte e as mãos ainda tremendo. Tinha acabado de descobrir algo que a abalou profundamente: um segredo sobre sua própria família, algo que foi guardado dela por anos. A revelação pegou-a de surpresa, fazendo-a questionar tudo o que pensava saber sobre si mesma e sobre as pessoas que amava. Sem saber para onde ir, seguiu o caminho que parecia mais natural — a casa de Erik.

Quando chegou à porta, hesitou por um segundo. Mas antes que pudesse bater, a porta se abriu e Lyle apareceu, levantando as sobrancelhas com surpresa. Ele olhou para ela por um momento, como se percebesse que algo não estava certo.

"Nina? O que você está fazendo aqui tão tarde?" perguntou ele, com um tom misto de curiosidade e preocupação.

Antes que ela respondesse, Erik apareceu por trás de Lyle. Ao ver Nina ali, ele franziu a testa e imediatamente percebeu que algo estava errado.

"Entra," disse Erik com suavidade, fazendo um gesto para ela entrar.

Nina entrou, e Lyle se afastou para dar espaço. Ela sentiu o peso de seus próprios passos enquanto caminhava até o sofá, onde se sentou, segurando as mãos trêmulas sobre o colo. Erik sentou-se ao lado dela, observando-a com preocupação.

"O que aconteceu, Nina?" ele perguntou, a voz baixa e atenta.

Ela respirou fundo, tentando encontrar as palavras. "É minha família… descobri algo… algo que eles esconderam de mim a vida toda." As palavras saíam entrecortadas, e ela lutava para segurar as lágrimas. "Eu me sinto... como se tudo fosse uma mentira."

Lyle, que até então estava ouvindo em silêncio, aproximou-se e sentou na poltrona em frente, cruzando os braços enquanto a observava com uma expressão mais séria.

"O que você descobriu?" perguntou Erik, a voz cheia de cuidado.

Ela hesitou antes de responder. "Minha mãe... ela escondeu de mim que meu pai biológico é outra pessoa. Não é quem eu pensava que era." Ela fez uma pausa, como se tentasse assimilar o que havia dito em voz alta. "Eu descobri por acaso, em uma conversa que não era pra eu ter ouvido. E agora… agora não sei o que pensar."

Erik colocou a mão sobre a dela, e ela sentiu o calor reconfortante de seu toque. "Sinto muito, Nina. Isso deve ser… muito difícil de lidar."

Lyle suspirou, e ela percebeu que ele a olhava com uma expressão mais suave, diferente da postura brincalhona de sempre. "É uma coisa complicada, mesmo," disse ele. "Mas talvez, ao invés de se preocupar com o que isso muda, você poderia pensar no que não mudou. Sua mãe ainda é sua mãe, certo? E as lembranças que você tem ainda são suas."

Nina o observou, surpresa. Lyle sempre parecia o tipo mais direto, até sarcástico às vezes. Mas ali, naquele momento, havia algo sincero em suas palavras, algo que parecia quase… fraternal.

"Obrigada, Lyle," murmurou ela. "Acho que nunca pensei nisso dessa forma."

Erik apertou de leve a mão dela. "E se precisar de um lugar pra ficar e pensar, você sempre pode contar comigo. Não está sozinha."

Ela assentiu, tocada pelo apoio de ambos. As emoções ainda eram intensas, mas, de alguma forma, a presença deles fazia a dor parecer um pouco mais suportável.

"Vocês são… realmente importantes pra mim," disse ela, quase como um sussurro. "Acho que nunca imaginei que encontraria pessoas em quem pudesse confiar desse jeito."

Lyle se inclinou para frente, com um meio sorriso. "Bem, não vá ficar emocional demais, hein? Mas… sério, Nina, estamos aqui."

Eles passaram algum tempo em silêncio, até que Erik, tentando quebrar a tensão, se levantou e foi até a cozinha. "Vou fazer um chá pra gente."

Enquanto ele se afastava, Lyle e Nina ficaram sentados, um silêncio confortável se estabelecendo entre eles. Depois de um tempo, Lyle deu um leve sorriso e comentou: "Sabe, Erik realmente se preocupa com você. Ele só não fala muito disso."

Nina sorriu, olhando para onde Erik estava. "Eu sei. E… isso significa muito."

Lyle a observou por um instante antes de acrescentar: "E isso é raro pra ele. Só queria que você soubesse disso."

Antes que ela pudesse responder, Erik voltou com três xícaras de chá. Ele entregou uma para Nina, outra para Lyle, e depois se sentou ao lado dela, como se nunca tivesse saído.

Eles passaram o resto da noite conversando, com Lyle ocasionalmente fazendo uma piada para aliviar o clima. Entre risos e conversas mais profundas, Nina sentiu o peso no peito diminuir. Pela primeira vez desde que descobriu a verdade sobre sua família, ela sentia que talvez fosse possível seguir em frente.

Quando finalmente se levantou para ir embora, já era madrugada. Ela olhou para Erik e Lyle, grata.

"Obrigada, de verdade," disse ela. "Não sei o que teria feito sem vocês."

Erik a acompanhou até a porta. Antes de abrir, ele a puxou para um abraço demorado. "Nina… sempre que precisar, sabe onde me encontrar."

Ela se afastou dele com um sorriso, sentindo uma tranquilidade que não sentia há muito tempo. Ao sair, Lyle acenou de leve, e ela sabia que havia ganho mais do que um amigo naquela noite – ela havia ganhado uma família.

Entre Confissões e Silêncios - Erik Menendez Onde histórias criam vida. Descubra agora