Paula
Sete anos atrás
— Vai ficar tudo bem, meu amor, a mamãe promete. – Faço carinho no rosto da minha filha enquanto lágrimas deslizam pelo meu rosto.
Minha vida mudou completamente no instante em que conheci o pai da Maria. Eu era jovem e ingênua, acreditava em todas as palavras doces que saíam da boca dele. Meu primeiro amor. O cara que pensei que seria para sempre. Mas o "para sempre" não durou nem até a próxima manhã. Naquela noite, entreguei a ele o que eu tinha de mais precioso: minha confiança, minha inocência. Era virgem e me joguei de corpo e alma pensando que ficaríamos juntos para sempre, mas, quando o sol nasceu, Douglas já não estava mais lá ao meu lado.
Só havia um bilhete mal escrito, e uma sensação de vazio me consumindo. Cada palavra era como uma lança contra o meu peito.
"Comer você foi mais fácil do que pensei, Paula. Mas como eu não repito figurinha no meu álbum, adeus, vadia."
Essas foram as últimas palavras deixadas pelo pai da minha filha em um pedaço de papel amassado, lembro de chorar por vários dias. E quando pensei que enfim estava começando a superar o Douglas, o cara mais descolado do meu bairro, eu descubro que estou grávida. Fiquei em choque! Quem engravida logo na primeira vez? E nem durou tanto assim, foi coisa de alguns minutos, nem senti dor ao perder a virgindade. E agora tinha uma bebê a caminho, eu não poderia estar mais aterrorizada. Contar para os meus pais foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Eles eram rígidos, severos, cheios de moral, e nunca entenderiam.
Na verdade, meus pais não só não entenderam como me expulsaram da vida deles, já que me recusei a interromper a gestação como eles exigiram. Fazer um aborto nunca passou pela minha cabeça em nenhum segundo, eu já amava o meu filho com todas as forças e faria de tudo para protegê-lo. Fui jogada para fora de casa só com a roupa do corpo, sem um centavo no bolso e com um bebê crescendo dentro de mim. Implorei por ajuda de vizinhos e conhecidos, precisava de um lugar para ficar até conseguir um trabalho e poder me virar sozinha.
Mas todos me viraram as costas, até os irmãos da igreja que minha família frequentava toda semana. Então a partir dali a rua se tornou meu lar. Dormi ao relento, pedindo esmolas para sobreviver, já que ninguém queria dar trabalho para uma moradora de rua e ainda por cima grávida. Cada dia era uma luta, e, mesmo assim, havia momentos em que acariciava a minha barriga e sentia esperança quando o meu bebê se mexia, como se dissesse que eu não estava sozinha. Isso sempre me fazia sorrir. Sentia que, de algum jeito, tudo ia dar certo. Que eu ia conseguir.
Quando a Maria nasceu, mesmo aos trancos e barrancos, com a minha bolsa estourando enquanto dormia em um banco de uma praça, meu Deus! Esse foi o dia mais feliz da minha vida. Eu senti um amor incondicional quando vi o rosto lindo da minha menina, naquele momento jurei que faria qualquer coisa para que ela fosse feliz e tivesse uma vida boa. Cheia de amor e apoio. Mas, infelizmente, logo após a dar à luz, minha situação estava prestes a ficar pior. Uma enfermeira ligou para uma assistente social e explicou a minha situação e nos enviaram para um abrigo.
O lugar era horrível. Sujo, abafado, cheio de gente tão desesperada quanto eu. Mas, pelo menos, era um lugar onde eu podia fechar os olhos à noite sem temer que alguém roubasse minha filha dos meus braços. Tinha comida, tinha um teto, e isso era o suficiente... por um tempo. Até o diretor do lugar começar a se aproximar. Ele era um homem nojento. Desde o começo, me olhava de cima a baixo, aquele olhar que eu conhecia bem — o mesmo que via nos olhos de muitos homens na rua. Eu era uma jovem muito bonita e na flor da idade, sempre chamei a atenção dos caras. Nasci com uma aparência privilegiada bem acima da média, sou morena alta com um corpo escultural, cintura fina, peitos e bunda naturais bem avantajados que ficam perfeitos em qualquer roupa.
Meu cabelo é preto liso abaixo da cintura, e o que mais chama a atenção em mim são os olhos cor de mel. O diretor do abrigo sempre me elogiava. Mas eu tentava ignorar. Tentava manter a cabeça baixa e cuidar da minha filha. Porém, um dia, ele bateu na porta do meu quarto no meio da noite e ficou me encarando com aquele sorriso torto. Depravado. E começou a fazer insinuações.
— Você é uma moça muito bonita, Paula. E as coisas podem ficar mais fáceis aqui para o seu lado, caso coopere comigo, é claro – disse em tom arrastado, enquanto coçava a barriga enorme de cerveja.
— Cooperar com o senhor? – Fingi que não entendi.
Mas, quando ele chegou mais perto, encostando a mão suada no meu braço, percebi que não tinha como fugir do que estava acontecendo. Ainda mais que o desgraçado disse, com todas as palavras, que se eu não fizesse o que ele queria, seria expulsa do abrigo na manhã seguinte. De volta para as ruas.
Quando ameacei denunciá-lo por assédio, o diretor riu na minha cara e disse para eu ir em frente, porque outras mães que passaram por aquele abrigo tentaram e ninguém acreditou nelas. E no final das contas, acabaram voltando a ser moradoras de rua e perderam a guarda dos seus filhos. Foi nesse momento que, com os olhos cheios de lágrimas, eu olhei para minha filha dormindo no berço improvisado no canto do quarto, o rostinho tranquilo e inocente. Pensei nas noites frias que passei na calçada com ela ainda crescendo no meu ventre, no desespero de não ter para onde ir. E, por mais que me odiasse por isso, concordei com a proposta indecente daquele homem desprezível.
Essa foi a primeira vez que vendi o meu corpo, eu mal tinha completado dezoito anos na época. Uma garota sem juízo, assustada e com o coração partido. Abandonada por todos. Lembro que quando terminou me senti enojada, com raiva de mim mesma por escolher a opção mais "fácil", como muitos enchem a bocar para julgar. Mas cada um sabe da sua própria realidade, de todos os demônios que enfrentam dentro de si. E, naquele momento, o meu medo de perder a minha filha me obrigou a fazer aquilo e não me arrependo nem por um segundo. Faria tudo de novo, sem pensar duas vezes.
No entanto, depois daquele dia, eu sabia que minha vida nunca mais seria a mesma. Aquilo destruiu algo dentro de mim, algo que eu sabia que não teria cura. Para piorar o diretor começou a me arranjar "trabalhos" fora do abrigo, clientes que pagavam bem. Foi assim que consegui me erguer sozinha aos poucos, aluguei um apartamento e saí de vez daquele maldito abrigo. Contratei uma babá para a minha filha e comecei a fazer programas por conta própria, batendo ponto no calçadão todas as noites.
O que eu não sabia era que alguns anos depois o fato de ter entrado para o mundo sombrio da prostituição me colocaria na mira de um assassino em série, assinando, assim, a minha própria certidão de óbito.
Sim!
Os meus dias estavam contados...
VOCÊ ESTÁ LENDO
PROMOTOR PEDRO ALCÂNTARA - Série Homens da Lei - Livro 4
RomanceO promotor Pedro Alcântara está em uma caçada implacável atrás de um perigoso assassino em série de prostitutas quando seu caminho cruza com o de Paula Souza, uma garota de programa de personalidade forte que não consegue confiar nos homens. Marcada...